Com economia em crise, empresários baianos expõem 'leis que atrapalham'

Líderes do comércio são contra 25 das 31 proposições que tramitam no legislativo

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 27 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/ CORREIO

Em penúltimo lugar no país no ranking de abertura de lojas com vínculos empregatícios, perdendo apenas para o Ceará, a Bahia registrou o fechamento de 260 estabelecimentos comerciais no primeiro semestre deste ano, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Diante da recessão no estado, empresários criaram uma agenda legislativa para melhorar os indicadores.

Dos 31 projetos em votação a nível nacional, estadual e municipal que impactam no setor econômico, os empresários são contra 23, conforme adiantou a coluna Negócios, do CORREIO, nessa terça-feira (confira alguns abaixo).

Os setores de comércio e serviços representam 72% do PIB da Bahia e são responsáveis por mais de 60% dos empregos formais gerados no estado. O assunto foi discutido nessa quinta-feira (26), durante o lançamento do documento Agenda Política e Legislativa do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, na Casa do Comércio, que contou com a presença de líderes da Fecomércio e políticos.

Essa é uma das estratégias adotadas para promover a proximidade dos empresários com as autoridades do legislativo. O vice-presidente da Fecomércio, Kelsor Fernandes, considera que esses encontros podem influenciar no ordenamento do comércio de maneira geral e criam um ambiente propício para discutir os projetos de lei que podem gerar novos custos e comprometer ainda mais a economia.

“Nesse sentido, uma das coisas que tivemos sucesso foi a abertura dos comércio aos domingos, que havia sido proibida”, justificou ele. Na próxima terça-feira, uma reunião marcada na sede do Centro de Dirigentes Lojistas (CDL), às 9h30, tentará chegar a um acordo entre o Sindlojas e o Sindicato dos Comerciários de Salvador.

Em geral, os 31 projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, Assembleia Legislativa e Câmara Municipal criam novas responsabilidades para as empresas. No âmbito estadual e municipal, as pautas em andamento dizem respeito a estacionamento, concessão de benefícios, impostos, agrotóxicos, criação de feriado, plantio de árvores, oferta de água gratuita nos estabelecimentos, destino de lixo, entre outros.

O assessor institucional da Fecomércio, Edmundo Bustani, destacou a proposta que quer tornar o dia 8 de novembro feriado da Revolta dos Búzios. Para o comerciante Nilton Lima, que tem uma loja de moda íntima na Avenida Sete de Setembro, a criação de um novo feriado representa um dia a menos de ganho.“Esse momento está terrível, minhas vendas caíram sensivelmente. Temos feriados demais no país e acho que, num momento como esse, um dia fechado é desnecessário porque é um dia sem faturar”, explica.A Fecomércio estima que o não funcionamento do comércio baiano neste dia significa a retirada de mais de R$ 43 milhões da economia. Ainda conforme Bustani, os efeitos disso são a menor geração de postos de trabalho, que é o que já vem acontecendo na loja de Nilton, que demitiu uma funcionária no mês passado.

Salvador possui cerca de 12 mil estabelecimentos comerciais, segundo o Sindlojas. Destes, cerca de nove mil são do setor de bens não duráveis e três mil são de duráveis. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado deste ano, comparado com o mesmo período de 2018, o volume de vendas do varejo cresceu 1,1%, sendo este o único indicador positivo. Mas houve queda de 2,1% na produção industrial e 1,2% no volume de serviços. Segundo o IBGE, as vendas no varejo cresceram 1,1% no acumulado deste ano (Foto: Marina Silva/ CORREIO Com a indústria em queda, outras propostas do legislativo estadual são avaliadas como entrave para a atração de novas fábricas. É o caso do projeto de lei que obriga os estabelecimentos varejista e industrial a indicar o uso de agrotóxicos nas embalagens dos produtos. Se aprovado, a Bahia seria o único estado do país com essa determinação, o que, como explica o documento, dificultaria a entrada de produtos provenientes de outras regiões, uma vez que teriam que ter rotulagem exclusiva para o estado.

Do total de 18 propostas em tramitação na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), 14 foram rejeitadas, duas foram dadas como favoráveis e noutras duas houve ressalvas. 

Câmara Na esfera municipal, seis propostas estão em discussão, das quais o comércio se opõe abertamente a três delas: a instalação de câmeras de segurança em lojas de pet shop; a possibilidade de hospedagem de animais de estimação em hotéis e a obrigatoriedade de restaurantes e lanchonetes informarem se as bebidas servidas são feitas de polpa ou fruta.

No caso dos hotéis, Edmundo Bustani explica que a medida é inconstitucional e implicaria em alterações na infraestrutura desses estabelecimentos. “Imagine um hotel como o Fasano que chegou agora ter que fazer novas obras de engenharia para se adaptar a animais. Isso gera novos custos e hotéis se desinteressariam em vir para Salvador”, argumenta ele. 

O documento apresentado pelos líderes do comércio foi elogiado pelo presidente do Sindlojas, Paulo Mota. “Acho positivo que a entidade esteja acompanhando o poder legislativo para não sermos surpreendidos com coisas que dificultem nossa sobrevivência”, pontuou.

"Fica aqui o nosso reconhecimento pela importância da federação reunir todas as representações do comércio, essa atividade tão associada à cultura e ao turismo. É imporante essa agenda ser permanente para dar caráter de legalidade a uma série de providências", afirmou Cláudio Tinoco, secretário municipal de Cultura e Turismo.

Leis que os empresários são contra:

PL 8122/2017 - Dispõe sobre a destinação das contribuições ao Sistema S

PL 10568/2018 -  Cria o Serviço Nacional de Aprendizagem e Serviço Social da Educação

PL 18372/2009 -  Institui a responsabilidade civil dos estacionamentos nos estabelecimentos comerciais baianos

PL 19304/2011 -  Obriga os estabelecimentos do estado a contratarem bombeiros civis

PL 20215/2013 -  Assegura ao consumidor o direito de saber antes, durante e depois da negociação o valor dos impostos embutidos no preço do produto ou serviço

PL 20706/2014 -  Obriga que os estabelecimentos comerciais possibilitem a emissão de cupom fiscal com o número do CNPJ ou CPF do destinatário

PL 21191/2015 -  Proibição de utilizar sacolas plásticas

PL 21317/2015 -   Obriga os estabelecimentos varejista e industrial a indicar o uso de agrotóxicos nas embalagens dos produtos comercializados

PL 21512/2015 -   Dispõe sobre a cassação da inscrição no Cadastro de Contribuintes do ICMS no estado de qualquer estabelecimento comercial que venda bebida alcoólica ou cigarros a menores de 18 anos

PL 21741/2016 -  Torna o dia 8 de novembro feriado estadual

PL 22222/2017 -  Determina que novos empreendimentos imobiliários, residenciais e comerciais, plantem quantidade determinada de árvores

PL 22444/2017 -  Obriga os estabelecimentos comerciais a oferecerem água gratuita aos clientes

PL 21785/2016 -  Dispõe sobre a proibição da fabricação e comercialização, por farmácias de manipulação, de medicamentos que fazem parte da atenção básica

PL 21895/2016 -  Regula a distribuição da GLP no estado e sensores de vazamentos de gás

PL 23044/2019 -  Destinação de lixo tecnológico

PL 22/2017 -  Câmeras de segurança em pet shops

PL 136/2017 -  Determina a  hospedagem de animais de estimação em hotéis

PL 627/2017 -   Obriga restaurantes e lanchonetes a informarem se bebidas servidas são feitas de polpa ou produto in natura