Com financiamento europeu, Neoenergia investirá R$ 1,2 bi em eólicas no Nordeste

Acordo firmado durante a COP25, em Madri, prevê construção de dois novos parques na Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: João Gabriel Galdea/CORREIO

Ignacio Galán, da Iberdrola, e Emma Navarro, do BEI, após assinatura de acordo (Foto: João Gabriel Galdea/CORREIO)   O Banco Europeu de Investimento (BEI) e o grupo espanhol Iberdrola anunciaram um investimento de 250 milhões de euros (cerca de R$ 1,2 bilhão) para a construção de parques eólicos da Neoenergia em cidades do interior da Bahia, Paraíba e Piauí nos próximos cinco anos. Na Bahia, os dois novos parques previstos serão em Casa Nova, no Norte do estado. 

A assinatura do contrato de concessão entre a instituição financeira (uma espécie de BNDES da União Europeia) ocorreu na manhã desta quinta-feira (5), dentro do espaço onde é realizada a Convenção do Clima (COP25), em Madri, e foi acompanhada pelo CORREIO, que viajou à Espanha a convite da subsidiária brasileira da Iberdrola.

Segundo a empresa espanhola, a escolha da COP25 para anunciar as novas ações na área de energias renováveis visa cumprir a proposta da própria convenção, que defende a promoção de ações contra o aquecimento global por meio de investimentos em projetos de energia gerada por fontes renováveis.

“O lema desta COP é a necessidade de agir e é isso que estamos fazendo hoje, Iberdrola e BEI: implementar ações concretas que contribuam para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC”, explica o presidente da Iberdrola, Ignacio Galán, citando o pioneirismo na política de investimento em energias limpas que faz da empresa, por exemplo, a principal produtora de energia eólica do mundo.

A previsão é que Casa Nova, na divisa da Bahia com o Piauí e Pernambuco, receba as unidades Oitis 21 e Oitis 22 do complexo eólico de Oitis, que também tem unidades em Dom Inocêncio (PI). Juntos, os 15 novos parques eólicos (ver lista completa abaixo), incluindo o complexo de Chafariz, que começou a ser construído em outubro, gerem cerca de 2,3 mil novos postos de trabalho.

“Estamos fazendo, neste momento, mais de 1.000 MW de energia eólica no Norte e Nordeste; fazendo mais de 4.500 quilômetros de linhas de transmissão, e também transformando as distribuidoras para torná-las mais eficientes”, citou Galán, ao comentar os investimentos da Iberdrola no Brasil. 

Licenças ambientais Mais cedo, Ignacio Galán havia se reunido com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que chefia a delegação brasileira na COP25. “Foi uma conversa muito amistosa e muito construtiva”, resumiu o presidente da Iberdrola, sem dar muitos detalhes.

Em entrevista ao CORREIO, JC Online, Folha de S.Paulo e Canal Energia, o presidente da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, criticou a demora atual dos órgãos de controle ambiental para implantar projetos sustentáveis a exemplo de parques eólicos. “O licenciamento ambiental tem um problema. Está com um rigor que não está adequado a alguém que queira proteger o meio ambiente, o clima. Temos que agilizar o processo, e isso sem aumentar os riscos de dano ambiental. Ninguém está pedindo que afrouxem as regras. Mas não tem sentido passar três anos licenciando. Temos uma política ambiental que está, muitas vezes, além da regulação dos estados”, garante Ruiz-Tagle, que também se reuniu com o ministro e tratou do tema.

Mais investimentos De 2019 a 2023, a previsão é de que o volume de investimentos da companhia espanhola seja de 30 bilhões de euros, sendo 6 bilhões no Brasil. Dos 250 milhões de euros (R$ 1,2 bi) captados junto ao BEI, 90% serão investidos em Oitis (incluindo Casa Nova), e o restante vai para a construção do parque de Chafariz.

Responsável pela ação climática do BEI e suas operações na Espanha e na América Latina, Emma Navarro ressaltou, durante a assinatura do acordo ao lado de Galán, o fato de o “setor de energia renovável, no Brasil, ter um grande potencial”. Ela também afirmou que irá “gerar todos os esforços” para que haja mais investimentos do BEI no país, principalmente em projetos sustentáveis.

“Trabalhamos com o objetivo de mobilizar até 1 bilhão de euros na próxima década por meio de projetos que, como os que estamos apoiando hoje, contribuirão para a transição para uma economia de baixo carbono por meio da promoção de energias renováveis”, afirma Emma, que classificou o Brasil como uma “peça chave” nesse novo cenário. Vale destacar que o BEI deixou de financiar projetos baseados em energia fóssil. 

Desinvestimento em energia ‘suja’ A Iberdrola também tomou decisão semelhante, mas isso já há duas décadas, quando passou a focar em energia limpa, como explica o diretor de Políticas Energéticas e Mudança Climática da Iberdrola, Carlos Sallé Alonso. “Há 20 anos, começamos a desinvestir nas centrais de petróleo e carbono, e passamos a investir e desenvolver na área de renováveis, como também em redes”, relembra. 

“Temos demonstrado que a aposta na economia verde não faz só bem para o planeta, para os cidadãos, mas também para os acionistas”, completa o Sallé Alonso, ao citar as megatendências evidenciadas durante as discussões da COP25 (2 a 13 de dezembro), que indicam que investir em energias renováveis é, de fato, um caminho cada vez mais seguro e lucrativo.

Os investimentos que serão realizados nos novos parques do Nordeste brasileiro (a Neoenergia já opera uma usina que gera energia pela força dos ventos em Caetité, no Sudoeste baiano) reduzirá as emissões de CO2 e aumentará a proporção de energia renovável na produção de eletricidade no país. 

Atualmente, a Neoenergia (que além da Coelba, controla as distribuidoras Celpe, Cosern e Elektro) possui uma capacidade de produção no país de mais de 3.700 MW, dos quais quase 88% são renováveis. Quando os projetos em construção forem adicionados a esta conta, a potência deverá atingir 4.550 MW.

Confira a lista de parques eólicos da Neoenergia, incluindo os previstos com os novos investimentos:Parque Localização Arizona 1 Rio do Fogo/RN Caetité 1 Caetité/BA Caetité 2 Caetité/BA Caetité 3 Caetité/BA Calango 1 Bodó e Santana do Matos/RN Calango 2 Bodó/RN Calango 3 Bodó, Santana do Matos e Lagoa Nova/RN Calango 4 Bodó/RN Calango 5 Bodó/RN Mel 2 Areia Branca/RN Santana 1 Bodó, Lagoa Nova e Cerro Corá/RN Santana 2 Bodó e Lagoa Nova/RN Calango 6 Bodó e Cerro Corá/RN Canoas São José do Sabugi e Junco do Seridó/PB Lagoa 1 São José do Sabugi e Santa Luzia/PB Lagoa 2 São José do Sabugi e Santa Luzia/PB Rio do Fogo Rio do Fogo/RN Chafariz 1 Santa Luzia/PB Chafariz 2 Santa Luzia/PB Chafariz 3 Santa Luzia/PB Chafariz 6 Santa Luzia/PB Chafariz 7 Santa Luzia/PB Canoas 2 São José do Sabugi e Santa Luzia/PB Canoas 4 São José do Sabugi/PB Lagoa 3 São José do Sabugi/PB Lagoa 4 São José do Sabugi e Santa Luzia/PB Canoas 3 São José do Sabugi e Santa Luzia/PB Chafariz 4 Santa Luzia e Areia de Baraúnas/PB Chafariz 5 Santa Luzia/PB Arapua 1 Areia de Baraúnas/PB e Areia de Baraúnas Arapua 2 Areia de Baraúnas e São Mamede Arapua 3 Areia de Baraúnas e São Mamed/PB Oitis 1 Dom Inocêncio/PI Oitis 8 Dom Inocêncio Oitis 2 Dom Inocêncio Oitis 3 Dom Inocêncio Oitis 4 Dom Inocêncio Oitis 5 Dom Inocêncio Oitis 6 Dom Inocêncio Oitis 7 Dom Inocêncio Oitis 9 Dom Inocêncio Oitis 10 Dom Inocêncio Oitis 21 Casa Nova/BA Oitis 22 Casa Nova/BA *O jornalista viajou a convite da Neoenergia.