Com que roupa eu vou? Festa de Santa Bárbara deixa os fieis em um dilema

Santa foi degolada pelo próprio pai e é considerada mártir no cristianismo

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  • Gil Santos

Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 14:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Para homenagear Santa Bárbara a regra é vestir vermelho, mas este ano o dia da santa caiu em uma sexta-feira, e todo mundo sabe que sexta-feira é dia de vestir branco em homenagem ao Senhor do Bonfim ou a Oxalá, dependendo da religião. E agora? Como agradar um santo sem causar discórdia com o outro? O jeito encontrado por muitos baianos foi usar as duas cores, e foi assim que nesta sexta (4) o Pelourinho foi aos poucos se transformando na torcida do Jacuipense.

A Arquidiocese de Salvador explicou que para a Igreja Católica os santos não têm cores específicas, mas existem cores litúrgicas. Nos dias dos santos mártires é comum que o paramento usado nas celebrações seja da cor vermelha. Como Santa Bárbara foi assassinada porque se recusou a abandonar a fé cristã, ela é considerada uma mártir, por isso, no dia 4 de dezembro é cultural se usar vermelho. Devoto faz orações diante da imagem da santa, na porta da igreja (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Devota de Santa Bárbara e também de Senhor do Bonfim, a aposentada Maria Alice Neves, 68 anos, usou o vermelho na camisa e o branco na saia, só para garantir. “São duas cores que ficam bonitas juntas, então, muita gente usa. Além disso, a gente faz o possível para não desagradar nenhum santo”, brincou. Público acompanha a celebração do lado de fora do templo (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Por conta da pandemia, o acesso do público à igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na ladeira do Pelô, onde tradicionalmente acontecem missas e homenagens à Santa Bárbara, foi controlado. Apenas 50 vagas para cada celebração e os lugares foram reservados pela internet. A Arquidiocese pediu para o público acompanhar de casa, através das redes sociais da igreja, mas uma multidão preferiu assistir em pé, do lado de fora do templo.

O casal de turistas Alex Ferraz, 35, e Giovana Vasconcelos, 33, estavam passando por acaso e resolveram assistir a celebração. Eles não sabiam da homenagem, mas estavam a caráter. Ele de camisa branca e bermuda jeans, e ela de blusa vermelha e short branco. “Era para acontecer. Santa Bárbara queria a gente aqui”, afirmou Giovana.

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Pandemia A escada da igreja foi isolada e funcionários controlavam o acesso, permitindo a entrada apenas daqueles que reservaram os lugares e da imprensa. Uma imagem da santa foi colocada na entrada do templo e outra no altar para receber as orações.

Do lado de dentro havia medição de temperatura e apenas duas pessoas por banco, distantes um metro umas das outras, e todas de máscara. A medida valia também para os clérigos. O único a retirar a proteção foi o padre Valson Sandes para rezar a missa, mas ao encerrar a celebração ele voltou a usar o equipamento.

“A igreja fala que são quatro semanas de preparação para o Natal. Que possamos começar hoje, na festa de Santa Bárbara, limpando nossos corações, perdoando, praticando o amor. E que possamos, independente da religião, estarmos juntos porque somos irmãos, diferentes na fé, mas ainda assim irmãos”, disse.

O tema central escolhido para as homenagens foi "Unidos a Santa Bárbara tenhamos compaixão e solidariedade a serviço do Reino de Deus". Houve tríduo antes da data, e três missas nesta sexta-feira.  A fiel levou a imagem da santa para a missa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Solidariedade Santa Bárbara é conhecida como protetora contra relâmpagos e tempestades e também é padroeira dos bombeiros, por isso, todos os anos o batalhão faz homenagens. Por conta da pandemia o caruru deste ano foi entregue em forma de quentinha para moradores de rua, junto com roupas e materiais de higiene. O comandante e tenente-coronel Ramon Diego destacou a importância da festa.

“O Corpo de Bombeiros tradicionalmente realizada o caruru no Quartel da Barroquinha. Essa ação faz parte da história do Corpo de Bombeiros e da história da Bahia, inclusive a festa é Patrimônio Imaterial da Bahia, e nesse contexto histórico o Corpo de Bombeiros está inserido”, contou.

O pai de Bárbara não aceitava que a filha fosse cristã e fez de tudo para que ela renunciasse a fé. Como a jovem se recusava a abandonar as crenças católicas, primeiro, foi torturada e, depois, degolada pelo próprio pai. Em seguida, um raio caiu sobre ele e o matou.  

A festa também aconteceu nos terreiros, onde 4 de dezembro é dia de Iansã ou Oyá, orixá feminino considerada rainha dos raios.