Comerciantes se viram para vender peixe em Salvador

Na Bahia, há 130 mil pescadores e marisqueiros que coletam por ano 120 mil toneladas de peixes mariscos

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  • Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/ CORREIO

Com as dúvidas da população sobre o consumo seguro dos pescados, quem se dispõe a comprar algum produto do tipo chega às peixarias com cautela e quem vende até abre o peixe para mostrar que não tem óleo.

Pescador há 30 anos e dono de uma peixaria no Mercado Municipal de Itapuã, Reinaldo Santos, 58, conta que é preciso argumentar e explicar aos seus clientes sobre a não existência de óleo de petróleo no interior dos peixes que vende em sua barraca.

“Eu tenho garantido sempre aos meus clientes que não existe fragmentos de óleo dentro dos peixes. Jamais o peixe vai comer óleo, peixe come e sobrevive de iscas como camarões e peixes pequenos”, disse.

“Ultimamente eu tenho tido o costume de abrir os peixes na hora e mostrar para os clientes para comprovar que não existe nada disso”, contou Reinaldo, que dá conselhos para que as pessoas não acreditem em boatos e continuem a comer os peixes, independente do que falam.

“Eu digo sempre o seguinte: continuem comendo peixes, isso tudo é só boato, de que o peixe está com óleo. O óleo esteve na praia? Sim, esteve, mas esse problema foi resolvido nas praias, esses peixes que vendemos são pescados em alto mar, não tem como eles serem contaminados”, declarou.

Para Reinaldo, “esses boatos só atrapalham as vendas dos peixeiros, a pesca dos pescadores e a compra do consumidor, que acaba caindo nessas conversas. Todos são prejudicados de alguma forma. Eu tanto compro dos outros pescadores como também vou ao mar pescar, é meu sustento que sai daqui”.

“A situação é difícil, mas entregamos a Deus para que tudo se resolva, os culpados pelo derramamento de óleo apareçam e sejam punidos, e as coisas voltem ao normal. Desde que começaram com esses boatos, eu abro os peixes ainda no barco no mar para conferir, tirar qualquer dúvida que fique”, completou.

Vendedora ambulante na praia do farol de Itapuã, Marinalva Paiva Portela, 60, possui uma relação de consumo com os pescados ao ponto de não deixar de comprar mesmo com a queda das vendas na praia e com as histórias de possíveis contaminações por óleo.

“Hoje os banhistas deixaram de comer o peixe na praia, por medo, não sei. As pessoas reclamam tanto de comprar o peixe como de tomar banho também. E essa dificuldade que temos em vender, nos prejudica muito”, disse.

Segundo ela, aos finais de semana, eram vendidos 10 a 15 peixes por dia na barraca, “agora, depois desse óleo, não consigo vender nem quatro. Mas, mesmo assim, sem vender tanto, continuo vindo ao mercado para comprar um peixe fresco. Se não conseguir vender, é o jeito comer em casa mesmo”.

“As vendas caíram tanto para os pescadores quanto para a gente que vende na praia. Trabalho com meu marido e filhos na praia, é de onde tiramos o dinheiro que sustenta a casa”, afirmou.

Cliente de Reinaldo há mais de 10 anos, o aposentado Ademario Moreira, 88, foi ao mercado em busca de um peixe para comer no almoço. Segundo ele, embora tenha conhecimento sobre a possível contaminação dos pescados, ele confia na palavra do peixeiro e pescador sobre a mercadoria. O aposentado Ademário Moreira confia nos pescadores (Foto: Mauro Akin Nassor) No entanto, passou as duas últimas semanas sem consumir para observar se apareceria algum relato de contaminação. “Compro sempre aqui na mesma barraca, confio no que o pescador diz. Ele sabe das coisas, está sempre no mar e conhece os peixes”, declarou.

“Ele nos diz que não tem perigo, então não vejo problema algum em comer peixe. Fiquei uns dias sem comer, só observando no jornal, mas não vi falarem nada sobre contaminação, voltei a vir comprar e consumir. Comecei a comprar no supermercado, peixe de fora, mas prefiro esse aqui, fresco e pescado aqui mesmo”, contou.

Morador do Parque São Cristóvão, o padeiro João Santos, 47, também foi garantir o peixe do almoço no mercado municipal de Itapuã. Para ele, não é nem preciso que o vendedor abra o peixe em sua frente para comprovar que não existe presença de óleo.

“Não dou muita importância a isso, não. Compro e como mesmo. Eu nem sequer pergunto mais sobre esse assunto. Já está na hora desse boato de contaminação de peixes acabar. Eu tenho para mim que isso não existe. Eu nem sequer exijo que o peixeiro abra o peixe na hora para que eu veja e tire dúvida. Não tenho cisma nenhuma. Confio na indicação do peixeiro, ele não pescaria um peixe que estivesse sujo de óleo”.

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier