Como não morar no trabalho? Especialistas dão dicas para otimizar o tempo

Separar rotina profissional e pessoal é um dos desafios do home office

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  • Laura Fernades

Publicado em 26 de abril de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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As irmãs e psicólogas Bruna e Larissa Cabral atuam como personal organizer na empresa delas, a Clarifier por Foto: Acervo pessoal

Com o home office, todas as tarefas do dia estão reunidas dentro de casa: fazer reunião, varrer a sala, cuidar do filho, fazer o almoço, atender um cliente... O desafio de lidar com tudo ao mesmo tempo não só virou motivo de meme para a alegria da internet (veja abaixo), mas uma realidade mais do que sólida. Mas como gerenciar o tempo para não morar no trabalho? Como fazer para não perder o desempenho e manter a saúde mental? 

Há quem prefira começar o dia se arrumando como se fosse para o trabalho, para manter certo nível de normalidade. “Isso é um ponto importante: eu realmente me arrumo como se estivesse indo para o escritório. Ficar de pijama não funciona pra mim”, ri a arquiteta Camila Passos, 27 anos, que atua como coordenadora de atendimento ao cliente em um banco. 

É como se a mudança de roupa marcasse “um dia diferente nesse cenário em que parece que é tudo sempre igual”, justifica. O horário para começar a trabalhar está bem delimitado para Camila, mas a hora de parar tem sido mais difícil. Por passar o dia em reunião, não abre mão das pausas ao longo do dia. Seja para almoçar com o marido, seja quando precisa fazer hora extra depois do expediente. 

“Algo que me ajuda é sempre parar em torno das 20h para preparar meu jantar. Depois eu posso até voltar para ajustar alguma coisa, mas já faço com a mente mais descansada e de maneira bem objetiva para encerrar”, diz. Nesses breves retornos, Camila também tenta mudar de ambiente para “ajudar a mente a entender que é algo extra e não ir no embalo por muito tempo”. 

Apesar de não sentir que o home office afetou sua produtividade, a arquiteta conta que viu aumentar a sensação de cansaço no fim da semana. “Acredito que seja pela quantidade de reuniões e tempo olhando apenas para uma tela”, pondera. Por isso, também não abre mão do autocuidado: acorda às 7h, passeia com sua cachorrinha, toma café da manhã e depois faz algum exercício físico em casa mesmo. 

Kit escritório  Outra estratégia para o home office é organizar a mesa de trabalho. Seja ela em um escritório, para quem tem mais espaço, seja no meio da sala, para quem tem moradias mais compactas. Independentemente do espaço disponível, a organização é a chave para aumentar o foco, indica a psicóloga e personal organizer Larissa Cabral, 34. 

“É importante delimitar espaços, faz uma conexão com a inteligência emocional, com o bem-estar. Agora sou dona de casa ou empreendedora? A organização possibilita isso. Existem pessoas que fazem do quarto um escritório, mas outras não têm um gabinete. Você só tem uma mesa de jantar? Ok”, incentiva. Depois da rotina doméstica, continua, é só montar o ambiente de trabalho.

Basta pegar “seu computador, sua canequinha com as canetas, seu planner, sentar e focar”, enumera. “Essa delimitação manda mensagem para o cérebro que diz: ‘Opa! Estou no horário de trabalho’. Ajuda a ter a tomada de consciência”, explica. O chamado “kit escritório”, com tudo o que é necessário ter por perto, também evita o ato de levantar toda hora. 

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As demandas pessoais continuarão ali, mas é importante ter foco, afirma a especialista. As pausas são necessárias, mas não como desculpa para procrastinar o trabalho. Dez minutos já ajudam: levanta, enche a garrafinha de água, faz um alongamento e volta.“Vá molhar as plantas, brinque com seu animal. É bom para recarregar as energias”, sugere. Varrer no trabalho?  Quando não está em atendimento na rua, o agrônomo José Macêdo* aplica o “kit escritório” e arruma a mesa com tudo o que precisa como se fosse na sala da empresa: caneta, papel, telefone, computador aberto. “Tento criar um pouco da atmosfera do trabalho dentro de casa”, justifica o profissional que atua em uma multinacional de alimentos.

José acredita que o home office, quando é bem gerenciado ao longo do dia, com tarefas e previsões de entrega, traz um desempenho maior que o trabalho presencial.“De certa forma, você tem um bem-estar só por estar em casa, sem precisar se deslocar. Percebo que a qualidade do trabalho é maior. Mas a pessoa precisa ter organização”, ressalta. Apesar de receptivo, José chegou a ser questionado pelo diretor da empresa sobre como estava controlando o tempo de seus subordinados no trabalho remoto. “Sua funcionária é casada? Tem filhos? Como pode garantir que ela não está varrendo a casa e cozinhando no horário de trabalho?”, escutou, “chocado com o machismo”. 

“Como minha equipe é de vendas, minha forma de avaliar é por indicadores de produção: vendas no mês, volume negociado, número de atendimentos aos clientes. Para mim, o que vale mais não é a hora trabalhada, nem o tempo que a pessoa fica on-line pra mim na tela e, sim, o tempo que ela está focada e o resultado que está trazendo para a empresa”, contrapõe. 

Limite  O desenvolvimento da inteligência emocional e o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional estão entre os principais desafios do home office. Essa foi a conclusão que a marketplace Workana chegou depois de um ano de trabalho remoto, em uma pesquisa com executivos de todo o mundo que investigou os principais desafios dessa modalidade de trabalho. 

Sendo assim, além do gerenciamento do tempo, é importante pensar no autocuidado. Realizar atividades físicas, fazer um “detox tecnológico”, ter uma boa noite de sono, ver um filme e impor limites no trabalho também aumentam a produtividade, afirma a psicóloga e psicopedagoga Leonor de Santana Guimarães, 45, que tem atuação na área de psicologia clínica, organizacional e escolar. 

“Cada pessoa precisa buscar um autoconhecimento para compreensão dos seus limites físicos, psíquicos e emocionais. E, desta forma, traçar metas de horários e atividades que permitam uma variação entre o home office e as ações que ampliem a qualidade de vida”, pontua. Outra ação importante é “se desligar” dos aparelhos eletrônicos, “meios que nos deixam vulneráveis e disponíveis ao contato do trabalho”, acrescenta.  

Leonor afirma que é preciso “exercitar dizer não às solicitações que extrapolem o que está definido nos contratos de trabalho” e isso passa pela inteligência emocional. “No home office, temos um cenário de ruptura com as rotinas e hábitos costumeiros, o que leva ao surgimento de emoções novas e estranhas com as quais precisamos aprender a lidar”, conclui. 

*A identidade foi preservada a pedido do entrevistado

Dicas para otimizar o trabalho em casa 

- Determinar uma rotina doméstica e de trabalho: gestão de tempo.  - Investir no autocuidado: acordar, tomar café, tomar banho, tirar o pijama e “bater o ponto”.  - Determinar um local de trabalho dentro de casa considerando luminosidade, acústica e ergonomia.  - Organizar a mesa de trabalho com o ‘kit escritório’ para não perder tempo: caneta, caderno, planner, copo d’água, computador, celular, carregador etc.  - Manter a mesa limpa e só com objetos relacionados ao trabalho para evitar distrações.  - Estabelecer momentos curtos de pausa: levantar para encher a garrafa de água, alongar etc.   - Ter jogo de cintura e impor limite às demandas que surgem fora do horário de trabalho. Você pode ter dois celulares (um só para o trabalho), usar o recurso das mensagens automáticas ou gentilmente pedir para que a pessoa entre em contato novamente a partir do horário X.  - Ter momentos de lazer, mesmo em casa: ver filme, ouvir música, cuidar das plantas, ligar para os amigos, cuidar dos animais de estimação.  - Realizar uma atividade física, mesmo em casa.  - Desconectar-se dos aparelhos e das redes sociais para ter uma boa noite de sono. 

Home office na quarentena vira meme