Confira como ficou uma das muralhas mais antigas de Salvador após reforma

Construção foi criada para segurar a encosta na época colonial

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  • Gil Santos

Publicado em 9 de novembro de 2020 às 20:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Max Haack/Secom

O que é que aparece em todas as selfies do Elevador Lacerda e da Ladeira da Montanha? Algumas dicas: foi construída junto com a cidade há quase 500 anos. É tão grande que consegue ser vista do mar por pessoas que ainda nem se aproximaram da costa. E tão imponente que quem está voado consegue percebê-la do alto. Adivinhou? É a muralha do frontispício de Salvador, construção que faz parte da história da capital e está de cara nova. 

O nome pode não ser familiar, mas, trocando em miúdos, é ela que protege a encosta que separa as cidades Alta e Baixa. Quem sobe pela Ladeira da Montanha passa bem ao lado da muralha. As primeiras estruturas foram erguidas na época da fundação de Salvador, em 1549, em taipa de pilão, mas há registros de deslizamentos de terra e pequenas intervenções na estrutura desde 1505.  Região da Castro Alves foi o trecho com maior mudança visual (Foto: Max Haack/ Secom) Com o tempo, o paredão foi sendo reforçado e ampliado. A estrutura atual é da década de 1870, e foi reformada, em 2020, pela prefeitura. A entrega oficial aconteceu nesta segunda-feira (9), na Ladeira da Montanha. O prefeito ACM Neto contou que foram feitas recuperações estruturais, cênicas e paisagísticas no local.

“Esse é mais um momento importantíssimo para a nossa cidade. Estamos entregando a Salvador, inteiramente recuperadas as muralhas do nosso frontispício”, disse. “Estou muito feliz por ter dado uma contribuição muito importante para a preservação da nossa história e para a valorização da nossa cultura, para a projeção do futuro da cidade”, concluiu.

O trecho que mais se destaca é o do entorno da Praça Castro Alves. A obra recuperou a versão original da muralha, com cor e estética diferente do restante do paredão. No restante, a iluminação é o diferencial. Trecho da Praça Castro Alves antes da reforma (Foto: Valter Pontes/ Secom) Intervenções A reforma incluiu a consolidação e estabilização estrutural da muralha, a recuperação urbanística das ladeiras próximas ao local, e a restauração paisagística do frontispício. A iluminação amarela foi substituída por LED, e uma novidade atraiu as atenções. A muralha, agora, tem uma iluminação cênica. A prefeitura acredita que isso vai ajudar a valorizar ainda mais a estrutura e atrair mais visitantes.

O titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Sinfra), Luciano Sandes, responsável pelas intervenções, disse que foi recuperado 1,1 km de muralha, da Ladeira da Misericórdia, no bairro do Comércio, até a Praça Castro Alves, na Cidade Alta. O investimento foi de R$ 4,7 milhões. “Estamos devolvendo para a cidade marcos históricos que estão intrínsecos na história de Salvador”, afirmou.

Apesar das mudanças, o local ainda se parece com aquele descrito nos livros de Jorge Amado, na década de 1930. A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, contou que por ser um monumento histórico, as características da muralha foram preservadas.

“Foi feita a recuperação da estrutura que era toda de pedra, o paisagismo, com a vegetação, e a iluminação cênica. A grande questão foi a recuperação da estrutura porque cada pedra é cravejada, a massa está no entorno da pedra, e não por cima. É um trabalho muito minucioso”, contou.

Durante a obra, os operários encontraram pedras soltas e buracos na estrutura. O prefeito chamou a atenção da população para a preservação do espaço e pediu que a polícia ajude a manter o local seguro. O receio é de que os fios e cabos de energia possam ser furtados. Cada época, com os seus dilemas. Inauguração oficial da reforma na muralha (Foto: Max Haack/ Secom) Projeto do Iphan O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi quem fez o projeto de requalificação da muralha do frontispício e, depois, doou o material para a prefeitura. O superintendente do órgão na Bahia, Bruno Tavares, disse que a reforma seria realizada através do PAC Cidades Históricas, do governo federal, mas faltou recurso.

“Desde 2013, temos parcerias com prefeituras e governo estaduais para ações de preservação histórica. Fomos procurados pela prefeitura para verificar se a gente tinha algum projeto não executado e que pudesse ser disponibilizado. Fizemos a doação porque são projetos dentro da área tombada e que são de interesse do Iphan”, afirmou.

A ordem de serviço para início da obra foi assinada em setembro do ano passado. Na época, O CORREIO conversou com o historiador e arquiteto Francisco Sena, e ele contou que a muralha que vemos hoje foi erguida para ser utilizada como contenção da encosta durante a construção da Ladeira da Montanha, no governo do Barão Homem de Melo (1878-1879). A estrutura, embora mais rústica, é similar às utilizadas atualmente na proteção de barrancos, que agora são de concreto armado e cortina atirantada.

Esse foi um dos três projetos doados pelo Iphan à Prefeitura. O primeiro foi concluído e entregue na semana passada. Foram reformados os 17 arcos que sustentam a Ladeira da Montanha e que ficam na Ladeira da Conceição. Os espaços são ocupados por serralheiro, marmoristas, carpinteiros e outros profissionais liberais, além de moradores, e foram totalmente requalificados.

A terceira parceria é para a reforma do Elevador do Tabuão que faz a ligação entre o Comércio e a Cidade Alta. O Município precisou encomendar um equipamento novo e, por isso, essa obra será concluída apenas em 2021.