Conheça Branquinho, cão que ficou semanas à espera do dono em UPA de Salvador

Funcionários de unidade acreditam que dono do animal tenha falecido

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  • Nilson Marinho

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 16:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Foi tudo por amor e lealdade. O pequeno Branquinho, um poodle de aparentemente dois anos, cumpriu sua missão: tentou estar ao lado do dono quando ele mais precisou, retribuindo tudo aquilo que um dia lhe foi dado. Por ele, o cachorro enfrentou sol forte, sede e fome na porta de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro da San Martin, em Salvador.

Lá, penou durante duas semanas na incerteza se um dia poderia revê-lo. Não sabia que seu companheiro morreu dias depois de dar entrada na unidade, de acordo com relatos de funcionários do local.

Não se sabe ao certo quando Branquinho chegou por lá. Alguns servidores da UPA dizem que ele estava montando campana desde o mês passado, mas ninguém tem certeza disso. Também pouco se sabe sobre o seu dono. São centenas de pessoas que dão entrada lá todos os dias. Alguns sem identificação e em estado grave. É o que pode ter acontecido com o companheiro do animalzinho.

Era madrugada do dia 1° de dezembro quando o agente regulador da UPA, Guilherme Carneiro, 33 anos, chegou para mais um dia de trabalho. Nessa data, o cachorrinho já estava lá, em frente à entrada, com olhos atentos para os pacientes que entravam e saíam.

Guilherme ficou sabendo, por colegas de trabalho do turno oposto, que Branquinho chegou dias antes, acompanhando um carro de família que transportava um paciente, aparentemente em estado grave.

Comovido com a história de fidelidade do pequeno catioro, ele tentou se aproximar do bicho, que, a princípio, se mostrou resistente a qualquer tipo de contato. Puro medo.   "Toda vez que alguém chegava perto, ele tentava se afastar. Eu comecei a colocar água e comida com outros colegas e fomos ganhando a confiança dele”, conta Guilherme.Inclusive, foi o próprio Guilherme, que apelidou o cão assim. Não se sabe o verdadeiro nome do animalzinho, já que durante todo esse tempo, nenhum familiar do susposto dono foi procurá-lo. Aos poucos, Guilherme foi se apegando a ele, mas descartou qualquer possibilidade de adoção. "Ele veio e ficou aqui por duas semanas por causa do dono. Isso é uma das maiores provas de amor que eu já vi”, completa.  

A enfermeira Michelle Pereira da Hora conta que viu o cachorro no local no dia 7 de dezembro e buscou ajuda pelas redes sociais. Compartilhou a história do cãozinho, que logo sensibilizou dezenas de pessoas."Eu normalmente adoto bichinhos. Sou adepta da causa animal. Há oito dias vi o cachorro perambulando na UPA. As pessoas estavam alimentando ele. Ele estava com lepra e sarda. Vi que estava dentro da unidade como se estivesse procurando por alguém", relata a enfermeira.  Ela conta ainda que a equipe da unidade acredita que o dono de Branquinho tenha dado entrada na sala vermelha - local destinado a pacientes que chegam com alto risco de morte. "Ele estava na entrada dessa sala. Quem viu, percebeu que o estado dele era de procura", completa. 

Resgate A publicação foi compartilhada por várias pessoas e foi assim que a cabeleleira Roberta Silva, 38, ficou sabendo da existência do cachorro. Ela foi a responsável por tirar Branquinho da porta da UPA, lhe oferecer um lar temporário, castrar e cuidar das suas feridas, mas não de acabar com a sua espera."O olhar dele? Ave Maria! É de fazer chorar. Só consegue beber água, não come nada. É de cortar o coração", relata Roberta.O primeiro contato entre os dois foi tranquilo. Branquinho já estava menos arredio, descansando em um bar que fica a cerca de 50 metros da unidade de saúde. Roberta até que tentou buscar informações sobre seu dono, mas ninguém sabia de nada. Não hesitou em levá-lo para casa.

Agora, o lar temporário do cão fica no bairro da Caixa D'Água, onde a cabeleleira mora com mais outros 11 cães. “Branquinho é um cachorro muito tranquilo e foi criado em casa. Ele estava muito maltratado e não conseguiria sobreviver por muito tempo nas ruas”, acredita. 

Novo lar  Roberta também compartilhou em suas redes sociais a saga do bicho, na expectativa de encontrar um novo lar para ele. Conseguiu. Não demorou muito para alguém mostrar interesse. “Acho que tudo foi assim porque se trata de um animal novo e de raça”, acredita Roberta.  Logo após ser resgatado, Branquinho foi levado pela cabeleleira Roberta Araújo para lar temporário (Foto: Acervo Pessoal) A nova dona passou por uma entrevista com a própria Roberta, para que ela tivesse certeza de que o animal não estivesse indo para qualquer lugar. Caso tudo dê certo, Branquinho conhecerá a nova dona na segunda-feira (18). "Eu tenho que ter as garantias de que ele será bem tratado e que a pessoa tenha condições tanto financeiras quanto psicológicas para cuidar de um animal. A nova dona é vegana e costuma até fazer aniversário para seus outros cachorros", detalha Roberta.