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Projetos em Salvador e no interior preparam para o mundo digital

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  • Andreia Santana

Publicado em 15 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Divulgação

Pagar contas usando o smartphone, acessar redes sociais, preparar um currículo no computador ou enviar um e-mail são o equivalente no universo da informática ao be-a-bá dos primeiros anos da escola. Enquanto o mundo caminha para a era cognitiva, ou seja, tecnológica, e já se fala em revolução 4.0 e inteligência artificial - temas que serão discutidos no seminário Sustentabilidade do Agora, em 8 de agosto, durante o Fórum Agenda Bahia 2018 - ainda tem gente que sequer sabe ligar um computador.  

De acordo com a última pesquisa TIC Domicílios (2016), que mede o acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação, 46% dos lares brasileiros ainda estão desconectados. O índice sobe para 54% entre as famílias com renda entre um e dois salários mínimos. Os desconectados são, na maioria, moradores das periferias das grandes cidades e das zonas rurais. Em 14% das residências, o acesso à internet é feito só pelo celular, meio de conexão em 9,3 milhões de residências, principalmente entre as classes D e E, na região Norte e no interior.

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Desde que o Marco Civil da Internet foi aprovado, em 2014, o acesso à internet é considerado um serviço essencial para todos e condição fundamental de garantia da cidadania. Para permitir que essa cidadania de fato seja exercida, universidades e organizações baianas fazem um trabalho de formiguinha para promover a inclusão digital. Alunos do curso de informática básica do Ifba, em Jacobina Em Jacobina, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), realiza o projeto Livre Inclusão Social-Digital, que na primeira turma, formou 30 pessoas de duas comunidades dos bairros Jacobina 3 e Bananeira, na periferia. Segundo o coordenador da iniciativa, o Analista de Tecnologia da Informação (TI) Ivo Chaves, a meta é formar mais quatro turmas de outras comunidades, até fevereiro do ano que vêm.

O projeto capacita pessoas em situação de vulnerabilidade social e inclusive já fez doação de computadores. Ivo, que prefere usar o termo ‘inclusão social-digital’, pretende transformar a iniciativa em um projeto de extensão para que os estudantes que atuam como monitores nos cursos recebam bolsas pelo trabalho desenvolvido com as comunidades locais. 

O Livre Inclusão Social-Digital nasceu de uma demanda dos próprios moradores dos dois primeiros bairros atendidos, que procuraram o instituto em busca de doações de computadores. O critério para as comunidades participarem é ter interesse em educação e na capacitação de outras pessoas. As associações escolhem quem vai fazer o curso para poder ensinar depois o que aprendeu. No bairro Jacobina 3, o resultado foi a criação de um espaço para uso compartilhado dos computadores doados.

Além de ensinar informática, os monitores precisam vencer as deficiências básicas de português e matemática dos alunos. “Buscamos um ensinamento lúdico, com uso de jogos de matemática, apresentação do equipamento, o que é um mouse, o que é um teclado, como navegar na internet, como criar um perfil nas redes sociais para as pessoas se sentirem parte integrante dessa sociedade cada vez mais digital. Também estimulamos a escrita, mostramos como preparar um currículo porque as vezes as pessoas não sabem dizer o que sabem fazer” (Ivo Chaves)Aula inaugural das novas turmas do DGTI Social, em Salvador

Feira de Santana

Nos campi do Ifba em Feira de Santana e Salvador também são desenvolvidos projetos de inclusão tecnológica. Em Feira, o curso de Letramento Digital de quatro meses, que termina agora em julho, atende moradores do bairro Aviário, que fica próximo ao campus. Letramento digital é o nome dado ao domínio das linguagens digitais e de ferramentas como smartfones, tablets e computadores.

Inicialmente, revela o professor Luiz Forte, à frente da iniciativa no Ifba de Feira, o projeto pretendia atender jovens de 17 anos para aulas de informática básica, mas acabou recebendo gente dos nove aos 62 anos. Foram 52 alunos divididos em duas turmas. 

“Os mais velhos queriam saber criar e-mail, fazer currículo, pagar contas online. Enquanto os mais novos demandavam a montagem de perfis em redes sociais. Recebemos gente que não sabia ligar o computador ou fazer procedimentos simples como reiniciar a máquina que travou. Os jovens tinham mais domínio das ferramentas e não tinham o acesso”, cita Luiz Forte, que acrescenta que muitos alunos tinham smartphones, mas não navegavam porque não tinham pacote de dados. “Boa parte usa lan houses, onde têm rede de wi-fi aberta”.

Uso útil da internet

No campus do Ifba de Salvador, o DGTI Social começou uma nova turma no último dia 8, com 128 alunos. A disputa para conseguir uma das vagas foi grande, três mil pessoas se inscreveram, conta o professor Luiz Machado, que coordena o DGTI Social. A primeira turma, criada em parceria com o Instituto Renascer no ano passado, teve 18 alunos. Um deles chegava a andar da Ribeira até o Canela, onde ocorrem as aulas.

A motivação para encarar a paletada é a busca por qualificação profissional. “O diferencial do projeto é a inclusão digital e social. As aulas têm participação de pedagogos, psicólogos, assistentes sociais”, enumera Luiz Machado.

Dois alunos formados no ano passado foram contratados pelo Ifba, um deles estuda Ciências da Computação na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e o outro vai fazer o processo seletivo do próprio Ifba. Cláudio Vieira é um dos jovens recém-contratados e só tem elogios ao curso:"Minha experiência com o projeto DGTI social foi maravilhosa. Graças a ele, aprendi uma profissão e pude entrar no mercado de trabalho. As aulas são bem dinâmicas dosando teoria e prática na medida certa” (Cláudio Vieira) Ao todo, o curso dura 200 horas, divididas entre redes e manutenção de micros, mais100 horas de estágio no Ifba. “Metade dos alunos do ano passado não tinha acesso a nada, sem computadores ou celulares em casa, a outra metade não tinha um uso útil da web. O curso acaba também mostrando como utilizar a internet para adquirir conhecimento”, enfatiza Machado, que acrescenta que o projeto será inscrito na edição 2018 do Prêmio Viva Voluntário, do Programa Nacional de Voluntariado. No INTS, adolescentes aprendem a fazer pesquisa de qualidade na internet Inclusão social

No INTS – Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão, o projeto Inclusão Mais Digital atende moradores da periferia de Salvador, principalmente da região do Subúrbio Ferroviário. As aulas são teóricas e práticas nos cursos de informática básica e intermediária, manutenção de computadores e multimídia.

O público são as crianças a partir de 8 anos, jovens, adultos e idosos. Os objetivos de cada grupo são específicos. Enquanto os jovens e adultos querem atualização profissional, aprendendo a dominar novas ferramentas, os idosos querem se incluir no mundo 4.0. Grande parte deles nunca teve acesso a um computador, conta a assistente social Monique Lorena Jesus da Silva, que coordena a iniciativa do INTS.

“Utilizamos as tecnologias da informação como instrumento de construção e exercício da cidadania. Participando dos cursos, os alunos têm a oportunidade de conhecer desde os componentes de um computador até as ferramentas e programas utilizadas nele”, acrescenta Monique Lorena.

Ela acredita que os telecentros - espaços públicos onde as pessoas podem utilizar computadores, internet e outras tecnologias digitais -, são uma forma de se ampliar o conceito de inclusão, “como forma de integração entre educação, tecnologia e cidadania visando a transformação social” Atividade de informática no Parque Social Empreendedorismo 4.0

Ainda no segundo semestre deste ano, o Parque Social, organização sem fins lucrativos que realiza diversos projetos de estímulo ao empreendedorismo e protagonismo social, irá iniciar o Projeto Jovem Empreendedor Digital, com a finalidade de promover a utilização das ferramentas de informática e internet no fomento ao empreendedorismo social. 

A iniciativa atenderá 400 adolescentes de 14 a 17 anos e vai contemplar temas como empreendedorismo social e negócios digitais; marketing em mídias sociais; produção de conteúdos e projetos de mídias sociais e digitais; além de cyberbullying (assédio virtual).

Além do Jovem Empreendedor Digital, o Parque Social desenvolve outras atividades voltadas para a inclusão digital dentro de outros projetos, como o Jovem Líder Empreendedor Social, que tem um módulo de capacitação onde os participantes têm acesso à informática básica, com noções do Pacote Office e Internet. 

“Estamos buscando enriquecer este conteúdo com conhecimentos em áreas como segurança na internet e mídias sociais”, acrescenta Lareyne Almeida, gerente de Projetos do Parque Social, que cita ainda o projeto Conhecimento Itinerante - Digital, que foi realizado de 2015 a este ano, como uma das iniciativas da entidade para promover a inclusão digital.“Esse foi um projeto que promoveu a utilização de instrumentos de informática para entrar em contato com problemas sociais atuais, como a questão da identidade, diversidade e gênero”, (Lareyne Almeida)Para participar dos projetos do Parque Social, é preciso que os interessados confiram os pré-requisitos de cada projeto no site da entidade e, em seguida, realize inscrição online ou através do formulário físico, na sede do Parque Social, que fica no Parque da Cidade (Itaigara). A participação nos projetos é gratuita. 

“Trabalhamos com vários públicos e estes se aproximam da tecnologia por motivações distintas: as crianças, adolescentes e jovens sentem-se atraídas pela informática, enquanto os adultos pela necessidade de qualificação para o mercado de trabalho”, cita Lareyne.

Segundo ela, na era em que todas as informações são dinâmicas, interativas e online, a inclusão digital se torna uma necessidade, “principalmente quando pensamos em indivíduos que querem atuar como transformadores sociais e multiplicar estes conhecimentos em suas comunidades”, pontua.  Mini Maker Lab: a startup baiana cria dispositivos para ensinar robótica e programação a crianças Iniciativas públicas

Nos Editais de Inovação da Prefeitura de Salvador com o Senai-Cimatec, também há startups que desenvolvem projetos de inclusão digital. Na chamada temática Cidade Inteligente, do edital de Inovação para a Indústria, as startups Mini Maker Lab e o REP Educa são voltadas para a área de educação. 

O primeiro é um kit de brinquedos e jogos que ensinam programação de forma lúdica para crianças e adolescentes. Já o REP é uma plataforma online de Aprendizagem Adaptativa Gamificada, ferramenta que usa recursos como a inteligência artificial e a realidade aumentada para auxiliar o ensino das disciplina Português e Matemática. 

A Secretaria Municipal de Cidade Sustentável e Inovação (Secis), que está à frente dos Editais de Inovação, também é a responsável pelo Centro Municipal de Inovação - Colabore, espaço de coworking público que será implantado no Parque da Cidade. No local, startups com ideias de impacto social terão um local de trabalho compartilhado, com escritórios, auditório e salas de reunião. 

A estrutura será feita com contêineres reutilizados e terá painéis solares fotovoltaicos para a geração de energia solar, bicicletário e sistema de reaproveitamento das águas das chuvas. Com previsão de funcionamento a partir de dezembro deste ano, a proposta é que o espaço receba cerca de 20 startups e também ofereça cursos de capacitação na área de inovação e empreendedorismo social.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Revita, e apoio institucional da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Fundação Rockefeller e Rede Bahia.