Conheça Paola Reis, a baiana de 20 anos que disputa vaga olímpica

Ciclista de Stella Maris foi prata no Pan e está perto de ir para Tóquio-2020

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  • Vitor Villar

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 12:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

Se a Olimpíada de Tóquio fosse hoje, o Brasil teria apenas uma vaga no BMX Racing feminino, categoria do ciclismo. E essa vaga tem tudo para ficar com uma baiana de 20 anos que vem jogando – sim, literalmente – poeira na cara das favoritas há pelo menos dois.

Quem assistiu ao Pan-Americano de Lima pôde comprovar: Paola Reis ficou com a medalha de prata, tornando-se a brasileira mais jovem a medalhar no esporte. Um resultado surpreendente para quem treina em condições longe das ideais e improvisando para simular uma pista oficial.

E não se tratou de uma prova de nível baixo. O ouro em Lima ficou com a colombiana Mariana Pajón, 27 anos, atual bicampeã olímpica e hexacampeã mundial. E o bronze com a venezuelana Stefany Hernández, 28, bronze na Rio-2016.

A surpresa é natural: afinal, quem é Paola Reis? A baiana ainda é uma novidade até para quem segue o esporte, já que estreou na categoria elite apenas no ano passado, depois de estourar a idade de júnior (18 anos).

Estreou no Campeonato Brasileiro em 2018 com um segundo lugar. O título ficou com Priscilla Stevaux, paulista referência da modalidade no país. Paola perdeu o troféu nos últimos metros. “Na reta final a gente estava numa disputa braço a braço quando meu pé desplugou do pedal e ela passou”, lamenta Paola.

No Brasileiro deste ano, disputado em 7 de julho, não teve erro. Paola superou Priscilla e conquistou o seu primeiro grande título na elite: “A prova foi bastante disputada. Todas as meninas são muito boas, mas fui a melhor. Fico feliz por ter ganhado dela (Priscilla). É uma superação, porque ela vem de muitos anos de disputa, é muito experiente”, conta.

Vinte dias depois do Brasileiro, Paola Reis disputou o Mundial de BMX em Zolder, na Bélgica, e chegou às quartas de final. Priscilla foi eliminada na mesma bateria que ela, mas acabou a prova uma posição à frente – uma em 5º e outra em 6º lugar.

É isso o que tiraria Paola da Olimpíada hoje. Ela é a segunda colocada no ranking olímpico entre as brasileiras, com 838 pontos. Priscilla, a líder, tem 855. Essa diferença pode ser tirada em uma prova. A primeira colocada neste ranking no dia 2 de junho de 2020 irá para Tóquio.

A própria participação brasileira, porém, ainda depende muito de Paola e de Priscilla. O país é atualmente o sexto colocado no ranking mundial, o que garante uma vaga na Olimpíada. O limite é o 11º lugar. Para que o Brasil siga bem colocado, suas atletas precisam continuar correndo as competições internacionais.

Paola abraça o status de maior promessa do BMX brasileiro: “Pelos resultados, pelo que passei de dificuldades e venho conquistando, acho que é justo. Fui campeã brasileira, mostrei isso agora no Pan-Americano, não tem outra no país melhor do que eu. Só que tento não levar para a cabeça e evoluir cada vez mais, porque fora do Brasil tem meninas muito melhores”. Paola treina na pista do Corsário (Foto: Arisson Marinho / CORREIO Sem estrutura para treinar A maior bronca de Paola Reis e do seu técnico, Leonardo Gonçalves, é com a falta de estrutura para treinar em Salvador. A medalhista de prata no Pan-Americano sempre faz a preparação na pista localizada em frente à praia do Corsário.

O maior problema da pista é a rampa de largada, chamada de gate. “O daqui tem 1,80 metro de altura. O de competição, como o do Pan, tem 8 metros. É uma diferença muito grande, não acha?”, explica Paola.

“No BMX a largada influencia mais de 70% do resultado. Se o atleta não tiver uma boa largada, fica muito difícil de ganhar. Então, imagine: a gente participa de Mundial e de Pan-Americano treinando assim. Compete com atletas que treinam em equipamentos olímpicos, com a altura ideal”, complementa Leonardo.

Para driblar a limitação, atleta e treinador têm que improvisar: “A gente vai para uma ladeira, que é bem íngreme, lá em Stella Maris e treina assim. Fazer o quê?”, lamenta o treinador.

Outra medida tomada por Paola é viajar com antecedência para os locais de competição. Assim, pode recuperar o tempo treinando no gate de altura oficial, com 8 metros.

Paola começou a praticar BMX aos 11 anos, através do Projeto Pedal, que era coordenado pelo Governo do Estado em Stella Maris. A menina nascida, criada e até hoje moradora do bairro logo demonstrou potencial. Ainda com a bicicleta do projeto, começou a disputar provas pelo país e a vencer meninas de São Paulo, que contavam com melhores equipamentos.

Nos primeiros anos, disputou torneios nacionais com o apoio da Associação de Bicicross de Salvador (ABS) e doações de amigos e comerciantes de Stella Maris. Desde os 16 anos, ela tem contado com o apoio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), que custeia as passagens, além de bolsa do programa Faz Atleta e patrocínio da Bahiagás.

Ciente de que tem um talento em mãos, Leonardo Gonçalves faz um apelo: “Paola é uma atleta que se destacou em nível nacional e internacional em muito pouco tempo. Então ela tem uma possibilidade de crescimento enorme. Só que, nesse momento, o desenvolvimento dela está limitado pela estrutura que temos para treinar aqui”.

“O que falta para que eu chegue à Olimpíada? Falta uma pista oficial, com um gate de 8 metros, para treinar. E um pouco mais de apoio do Comitê (Olímpico do Brasil, o COB). Acredito que pelo fato de eu ser nordestina exista uma resistência. O apoio vai mais para as atletas do Sul e Sudeste. A gente nota que eles dificultam algumas idas a campeonatos, mas tenho certeza que vamos resolver isso”, comenta Paola.