Copa do Mundo molda caráter

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Publicado em 19 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Da série de lições que podemos aprender com a Copa do Mundo: não fingirás. Neymar virou o centro das atenções na Copa do Mundo como sinônimo de jogador que cai para simular faltas não sofridas e exagera ao rolar por metros no chão quando recebe uma pancada que não é para tanto. Críticas mais do que justas, chacotas também, pois nosso craque – sim, craque – cavou isso. Contra Costa Rica e Bélgica, preferiu se jogar na área a finalizar uma jogada na cara do gol. Diante do México, conseguiu transformar um lance em que levou um pisão desonesto no tornozelo em mais um motivo para rirem de si, tamanho foi o descompasso entre a encenação e a realidade.

Neymar atrai holofotes porque é um dos melhores jogadores do mundo, mas o camisa 10 não é um caso isolado. É, na verdade, expoente do que ocorre no futebol brasileiro de janeiro a dezembro, ano após ano, sem que nada mude.

A Copa da Rússia foi o choque de realidade que precisávamos para nos indignar coletivamente contra uma farsa que, por aqui, é vista como parte do jogo. No time que está ganhando, um jogador cai no chão fingindo contusão quando vai ser substituído, muitas vezes atendendo a uma orientação do treinador. O árbitro, que teoricamente está ali para punir o antijogo, autoriza a entrada do carrinho da maca e compactua com a farsa, mesmo sabendo de todo o contexto. Uns dois minutos se passam a cada encenação dessa e, no fim, o árbitro dá quatro minutos de acréscimo, dos quais pelo menos um será perdido também em novas simulações. Isso sem falar nas inúmeras “faltas” em que o jogador sai de campo se contorcendo e começa a correr logo após descer da maca. 

Os dois últimos jogos do Bahia nos brindaram com exemplos. No primeiro, final da Copa do Nordeste, o tricolor foi vítima: os três jogadores do Sampaio Corrêa substituídos caíram no gramado da Fonte Nova para fazer cera e o atacante Uilliam chegou ao cúmulo de tentar se atirar no chão após ser expulso, também para gastar tempo.

Dias depois, o Bahia atuou contra o Vasco com a mesma pequenez de pensamento e de caráter, palavra forte para os padrões brasileiros, porém justa para quem entende isso como trapaça. Uma partida lamentável em todos os aspectos: pelo comportamento do Bahia, em que Tiago chegou a simular estar machucado até após cabecear uma bola sozinho no ataque; do Vasco, em que o atacante Andrés Rios cavou descaradamente um pênalti ao forçar o encontro da sua perna esquerda com a direita de Nino Paraíba, que no movimento natural da jogada nunca acertaria a perna canhota do vascaíno, e sim a destra; e também pelas atitudes do árbitro, que, além de permitir as cenas antidesportivas, culminou sua péssima atuação expulsando o tricolor Léo numa jogada em que ele só tocou na bola enquanto Edson distribuía voadora e se engalfinhava com Pikachu. 

Neymar, portanto, não faz nada que o brasileiro não admita no dia a dia do futebol. Só que ele é mais mal-educado e carrega uma responsabilidade maior que a maioria dos jogadores.

Cabe um segundo mandamento de lição da Copa: não viajarás com dinheiro público para eventos de interesse pessoal. Reparou que a presidente da Croácia chamou nossa atenção por viajar por conta própria para assistir aos jogos na Rússia? Em alguns países da Europa, o que ganhou destaque foi o fato dela sentar na arquibancada, afinal, não torrar a verba pública é a não notícia. Pelo menos, onde isso é padrão.

*Herbem Gramacho é editor do Esporte e escreve às quintas-feiras