Coronavac é segura e induz resposta imune em crianças a partir de três anos, diz estudo

Pesquisa com mais de 500 voluntários foi publicada nesta segunda; No Brasil, apenas a vacina da Pfizer é autorizada para uso em crianças, mas a partir de 12 anos

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  • Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2021 às 20:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

A Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, é segura e produz resposta imune em pessoas de 3 a 17 anos, de acordo com informações do estudo de fases 1 e 2 publicados oficialmente na edição desta segunda-feira (28) do periódico científico The Lancet Infectious Diseases. O estudo foi feito pelo próprio laboratório chinês, e após revisão de pares, publicado na revista.   Em paralelo ao anúncio, o governo chinês declarou que iria começar a aplicação da vacina em crianças a partir de 3 anos. Com isso, a China deve se tornar o primeiro país a ter essa população vacinada, embora o ensaio de fase 3 da vacina ainda esteja em andamento.   Foram avaliadas 550 crianças (71 na fase 1 e 479 na fase 2) de 3 a 17 anos para medir a segurança, a tolerabilidade e a imunogenicidade (capacidade de gerar resposta imune) de duas doses da Coronavac em um intervalo de 28 dias entre elas.   Um grupo dos participantes foi sorteado para receber uma substância placebo, inócua ao organismo. A pesquisa foi conduzida no CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) da província de Hebei, região central da China, a 118 quilômetros de Pequim.   A análise de imunogenicidade da vacina apontou que a vacina levou à produção de anticorpos em 96% dos participantes 28 dias após a aplicação da segunda dose. Na fase 1, nenhum dos voluntários tinha anticorpos neutralizantes contra o coronavírus Sars-CoV-2 e, 28 dias após a vacina, 100% deles apresentaram esses anticorpos no sangue.   Na fase 2, 95% dos participantes que receberam as duas doses com 1,5µg e 100% dos que receberam a dosagem maior, com 3µg da vacina, apresentaram anticorpos no sangue depois de 28 dias da segunda injeção. Por conta disso, os estudos de fase 3 vão contar com a dosagem mais alta. As informações são da Folha de São Paulo.   Comparando com os testes em pessoas com 18 a 59 anos, a presença de anticorpos no sangue específicos contra o Sars-CoV-2 após a vacinação, foi maior em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos do que na população adulta (18 a 59 anos).   Na avaliação de segurança, os participantes foram acompanhados por até 28 dias após a aplicação da segunda injeção contendo vacina ou placebo e, em geral, os efeitos colaterais foram de leves a moderados —27% dos 550 participantes reportaram pelo menos um evento após a vacinação. Em geral, os efeitos mais comuns foram dor no local da injeção (73 ou 13%) e febre (25 ou 5%) e aconteceram até sete dias após a vacinação, com resolução dos sintomas em até 48 horas.   De acordo com a publicação, houve apenas um caso de evento adverso grave: uma criança que apresentou quadro de pneumonia após receber o placebo, não associado à vacina. Não houve diferença estatística significativa entre os indivíduos que receberam a vacina com a dose menor (1,5µg) em comparação com aqueles que receberam a dose mais alta (3µg) na ocorrência de efeitos adversos, o que confirma o perfil de alta tolerabilidade da vacina.   Algumas limitações do estudo apontadas pelos próprios pesquisadores são o número baixo de indivíduos incluídos no estudo por faixa etária e o fato de todos eles serem de uma mesma etnia. Por conta do curto tempo de monitoramento, ainda não é possível afirmar se a produção de anticorpos é duradoura ou não e se efeitos colaterais podem surgir com maior tempo de observação. Esses dados, normalmente, são avaliados quando as vacinas passam a ser utilizadas em larga escala na população.   Até o momento, os testes das vacinas com crianças e adolescentes concluídos incluíram indivíduos de 12 anos ou mais e não havia informações para pessoas abaixo dessa idade.   No Brasil, o imunizante da Pfizer/BioNTech é o único autorizado para uso em crianças com 12 a 17 anos. Mas a aplicação está condicionada à inclusão desse grupo no PNI (Programa Nacional de Imunizações). Dimas Covas Tadeu, diretor do Instituto Butantan, comentou o estudo e disse que ele será aproveitado para um dossiê da Coronavac que será enviado à Anvisa.   "Não é um grupo prioritário no momento, porque precisamos primeiro completar a vacinação nos adultos, mas estamos aproveitando esse estudo inclusive para acrescentar no dossiê da Coronavac apresentado à Anvisa, e brevemente também esperamos obter essa autorização e poder vacinar crianças e adolescentes."   A vacina da farmacêutica Sinovac é feita a partir de vírus inativado, mesma tecnologia utilizada em vacinas tradicionais, como da gripe, e que são aplicadas anualmente em crianças.