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Gabriel Amorim
Publicado em 23 de março de 2020 às 05:35
- Atualizado há 2 anos
Uma das polêmicas mais recentes envolvendo a pandemia de Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus descoberto na China, em dezembro do ano passado, diz respeito ao uso ou não da substância ibuprofeno no tratamento dos sintomas da doença. A substância, que é um anti-inflamatório, é costumeiramente utilizada em substituição a dipirona e ao paracetamol - substâncias analgésicas e antipiréticas (contra a febre) - principalmente em pacientes alérgicos.>
Para o tratamento do novo coronavírus, a substância foi tida como não recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A não recomendação, que foi divulgada na última terça, 17, durou apenas dois dias e foi retirada pelo órgão internacional na quinta-feira, 19, através de nota publicada nas redes sociais oficiais do órgão.>
“Com base nas informações atualmente disponíveis, a OMS não tem recomendação contra o uso de ibuprofeno. A OMS está ciente das preocupações sobre o uso do ibuprofeno no tratamento da febre em pessoas com Covid-19. Estamos consultando médicos que tratam os pacientes e não temos conhecimento de relatos de efeitos negativos, além dos usuais que limitam seu uso em determinadas populações”, diz a nota divulgada através do Twitter e do Facebook da entidade.>
Apesar da mudança de posicionamento da OMS, o Ministério da Saúde (MS) segue recomendando que se evite o uso da substância. Questionado pelo CORREIO, o órgão federal respondeu que mantém as orientações divulgadas no início desta semana.>
“Diante das incertezas e da lacuna de evidências comprovada sobre o tópico, recomenda-se o não uso de Ibuprofeno sendo preferível as medicações analgésicas, tais como paracetamol e dipirona”.>
Na Bahia, segundo informações da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), serão seguidas as recomendações do Ministério da Saúde. "Até o momento não houve nenhuma internação por conta da Covid-19 em unidades da rede estadual. A Sesab seguirá os protocolos de tratamento indicados pelo Ministério da Saúde", disse a pasta. >
Diante da polêmica, e das diferentes recomendações, o CORREIO procurou professores e médicos infectologistas para esclarecer as dúvidas sobre as substâncias. “Como é tudo muito novo, o que acabou acontecendo foi a perda do rigor científico no momento da primeira recomendação”, opina o infectologista e professor da Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Robson Reis. >
Veja abaixo as respostas da médica infectologista Clarissa Ramos:>
Pode usar ou não pode? Não há nenhum estudo ou evidência científica que comprove qualquer piora no quadro de pacientes com Covid-19 por conta do uso do ibuprofeno. A orientação mantida pelo Ministério da Saúde é de que se evite o uso. >
Por que não poderia? Que efeitos ele pode causar nessa situação? O que se sabe é que o ibuprofeno aumenta a produção de uma proteína no organismo que seria justamente a proteína utilizada pelo vírus para entrar nas células. Por associação, se conclui que a presença em maior número desta proteína facilitaria o processo de infecção pelo coronavírus e poderia agravar o quadro dos pacientes. Cientificamente, no entanto, essas associações não têm validade Seria necessário um estudo clínico para determinar se, de fato, a substância causa agravamento de sintomas ou torna o paciente um vetor de transmissão mais eficaz. >
Que medicamentos têm ibuprofeno? Eles podem ser substituídos pelo quê? Os medicamentos mais conhecidos que contém a substância são Alivium e Advil. Como destaca a própria recomendação do Ministério da Saúde, podem ser substituídos por medicações a base de paracetamol ou dipirona. >
Para além da Covid-19, em que situações o uso do ibuprofeno não é recomendado? Por ser um anti-inflamatório, ele não é a primeira escolha no tratamento de doenças como dengue, zika e chikungunya. Por conta da substância, os medicamentos a base de ibuprofeno podem ter mais efeitos colaterais como dores no estômago ou até disfunção renal. >
Há outros medicamentos não recomendados? Quais? Existe especulação de que substâncias usadas em remédios de controle de pressão (como os medicamentos a base de losartana e captopril) poderiam gerar o mesmo efeito que o ibuprofeno. Contudo, a recomendação médica é a de manutenção dos medicamentos até que se tenham evidências científicas de que a manutenção é prejudicial ao paciente. Cada caso deve ser avaliado pelo médico que acompanha o tratamento. >
*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco >