Coronavírus: estoque de máscaras de proteção está praticamente zerado na Bahia

Presidente do Sincofarba diz que farmácias não têm conseguido adquirir o produto com as distribuidoras

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 28 de fevereiro de 2020 às 05:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Eduardo Dias/CORREIO

Mesmo sem casos do coronavírus confirmados na Bahia, há cinco em investigação em Salvador e a população anda apreensiva. Natural de Feira de Santana - onde há um caso suspeito sendo monitorado -, a dentista Emily Borges tem viagem marcada para a Itália, mas, apesar de tudo comprado e reservado, está indecisa se vai. O país tem a maior concentração de ocorrências em toda a Europa, com 322 casos confirmados e 11 mortes, segundo boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Ela teme não poder visitar alguns locais, fechados por conta da circulação do vírus, e ainda tem receio da quarentena na volta. Se decidir ir, máscaras descartáveis e álcool em gel vão entrar na mala. Em Salvador, a procura pelos dois itens disparou em após os anúncios no país de casos suspeitos do novo coronavírus. Em emergências de hospitais, pacientes e funcionários usam máscaras.

Nesta quinta-feira (27), CORREIO percorreu dez farmácias da capital nos bairros da Pituba, Rio Vermelho, Comércio, Cajazeiras e Piatã para checar a disponibilidade dos itens. Entre as consultadas, só três tinham máscaras e em pouca quantidade. 

De acordo com Luiz Trindade, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado da Bahia (Sincofarba), o movimento de vendas era considerado normal há três semanas, com faltas pontuais, mas houve uma corrida às drogarias. Trindade diz que o estoque de máscaras descartáveis no estado está praticamente zerado. O álcool em gel, por outro lado, ainda não está totalmente desabastecido, mas ele também cita dificuldade em conseguir o produto nas distribuidoras.“Hoje, as farmácias trabalham comercialmente com estoque reduzido da maioria dos produtos, tendo para dois dias, uma semana, porque o prazo de entrega das distribuidoras é de 24h a 48h. Como houve um aumento da divulgação da necessidade de profilaxia [medidas de higiene], teve grande procura e quando todo mundo vai buscar ao mesmo tempo, acaba”, disse. O presidente relatou que fez estoque para 15 dias e vendeu tudo em menos de uma semana. O empresário não conseguiu repor os produtos para a semana restante e disse que tentará encontrar com fornecedores de Minas Gerais, estado que, segundo ele, concentra as seis principais distribuidoras do país. Normalmente, ele vendia uma máscara por dia; passou a vender 30. 

O diretor da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto, confirmou que várias redes de farmácia informaram à instituição que estão com estoques zerados de máscaras ou com dificuldade de conseguir o item para venda. “Ninguém se planejou para essa demanda, até porque, 30 dias atrás, a demanda já tinha aumentado e os distribuidores não tinham para entrega”, disse. 

Ainda conforme a Abrafarma, o insumo das máscaras é chinês e, em função do próprio coronavírus, o governo do país tem restringido a saída do material. Já quanto ao álcool em gel, a associação justificou que a falta é pontual porque há produção nacional.

Em coletiva de imprensa nesta quarta, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, disse que a rede pública de saúde também está enfrentando escassez dos itens de prevenção ao novo vírus. O gestor disse que, se necessário, utilizará meios jurídicos para evitar a exportação dos produtos e apreende-los no país, evitando o desabastecimento interno.

Pico de vendas no Carnaval De acordo com os farmacêuticos ouvidos pela reportagem, os produtos sumiram das prateleiras principalmente no período pré e pós-Carnaval. Na Avenida Manoel Dias da Silva, na Pituba, onde há grande concentração de farmácias, o CORREIO visitou seis unidades de diferentes redes. Na PagueMenos, o pico de vendas foi antes da folia, devido à chegada de turistas, e lá as máscaras esgotaram. A caixa com 50 unidades custava R$ 21.

De acordo com o gerente do grupo de lojas da Drogaria São Paulo em Salvador, Wescley Dias, a procura triplicou em todas as unidades da rede após a confirmação do caso no Brasil - em São Paulo - e nenhuma delas possuía estoque de máscaras descartáveis. Nesta quinta, o saldo das drogarias da rede na capital e Região Metropolitana era de mais de 2 mil unidades de álcool em gel. 

Ainda segundo ele, já foi feito um pedido de mais máscaras para reabastecer as prateleiras nos próximos dias. “É um item que existe em estoque reduzido, pois não havia uma procura no dia a dia”, disse. Wescley informou também que houve um aumento em 75% nas vendas dos dois produtos entre os meses de dezembro e janeiro. Em fevereiro, o crescimento das vendas foi de 120%, estima o gerente.“A procura pelas máscaras foi absurda. A busca pela vitamina C também foi notada para reforçar o sistema imunológico. Isso sempre aumenta mais depois do Carnaval e, ao todo, as vendas subiram em torno de 40% de janeiro para dezembro, mas estamos bem abastecidos”, completou.Na loja da Extrafarma, ainda na Pituba, as máscaras estão em falta desde domingo (23) e o álcool que tinha acabou na Quarta de Cinzas (26). Quando era possível comprar, a unidade portátil do álcool estava entre R$ 4 e R$ 6 e a econômica por R$ 13, enquanto a caixa de máscaras saía por R$ 16. Os vendedores disseram que a saída dos produtos foi boa e que os clientes nem se preocupam com a marca. “Só querem comprar”, disse uma balconista.

Já na Rede Drogasil ainda era possível encontrar álcool em gel nesta quinta (27), mas a vendedora informou que havia poucas unidades. Sobre a falta geral de máscaras nas farmácias da cidade, ela ficou surpresa. “Achei que fosse só aqui”, disse. 

A loja não tinha previsão de reabastecimento do estoque dos dois produtos. "O álcool também tinha acabado, mas conseguimos uma certa quantidade para vender e ainda temos alguns. Estamos sem estimativa de repor o estoque e aguardando chegar”, acrescentou. Lá, a caixa de máscaras custava entre R$ 20 e R$ 30 e o álcool em gel ficava a R$ 7,70 a embalagem portátil, e entre R$ 13,44 e R$ 17,57 as econômicas.

Alta procura Segundo os vendedores da loja da Drogarias Globo, de cada 10 clientes que entram no estabelecimento, sete procuram pelos dois itens de proteção. Infelizmente, não encontram. A administração aguarda a chegada de novas mercadorias até a próxima terça-feira (3). “Estamos aguardando chegar, mas não podemos afirmar ainda que vai chegar de fato”, disse uma vendedora, que não quis se identificar. 

A única farmácia da Pituba que a reportagem encontrou os dois produtos foi na rede Ultra Econômica. Por lá, o gerente da loja informou que, por conta das suspeitas, a administração se antecipou e garantiu um estoque para os próximos dois meses. “Temos estoque dos dois produtos para dois meses, acredito. Me preparei antecipadamente imaginando que a procura iria aumentar uma hora ou outra”, disse ele, que tem 200 caixas de cada estocadas no depósito.

Nas prateleiras, o preço exposto do álcool em gel portátil estava a R$ 4,99 e o econômico de 1 kg a R$ 24. As máscaras são vendidas em caixas que contém 25 unidades e custam R$ 12,50. Na Farmácia Popular, no Centro Histórico, a gerente Geisa Alves exibe as tão buscadas embalagens econômicas de álcool em gel (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Outros bairros No bairro do Rio Vermelho, a rede Drogasil também informou que está trabalhando sem estoque dos dois produtos. “Antes do Carnaval, muita gente estava procurando e as pessoas comentavam sobre o caso suspeito do Brasil. Estamos sem previsão de abastecimento, acabou tudo”, contou uma vendedora, que revelou que as máscaras desapareceram das prateleiras da loja faz duas semanas. Antes, os produtos estavam sendo vendidos por R$ 16 reais a caixa com 50 unidades. E o álcool R$ 7,89 e 13,79.

No bairro do Comércio, em Salvador, a farmácia Atacadão dos Remédios, também passa pelo mesmo problemas de desabastecimento. No entanto, ainda resta um pouco do estoque na loja. “Ainda temos um pouco de cada, pois fizemos pedido em quantidade, mas nada que dure por muito tempo. Temos 50 caixas com 50 unidades das máscaras. Já o álcool, temos 23 unidades”, contou a balconista. A rede Atacadão dos Remédios possui 16 lojas em Salvador, que também aguardam a chegada de um pedido de abastecimento. No Atacadão dos Remédios, no Comércio, ainda há poucas unidades dos dois produtos (Foto: Marina Silva/CORREIO) Por telefone, um vendedor da Drogarias Globo, da Estrada do Coqueiro Grande, em Cajazeiras, informou que na unidade não possui mais álcool em gel e máscaras. As últimas unidades foram vendidas na terça de carnaval. Já na Farmácia Estrela Drugstore, em Piatã, há um estoque do álcool em gel, mas também houve aumento na procura nos últimos dias. A máscara possui estoque para alguns meses, segundo a vendedora.  

SAIBA QUANDO RENOVAR A MÁSCARA E O ÁLCOOL EM GEL

Médica infectologista coordenadora do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Aliança, Áurea Paste explica que, no protocolo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), constam dois tipos de máscaras para prevenção contra a contaminação com o coronavírus: a cirúrgica descartável e a do tipo N-95, mais potente.

A máscara cirúrgica é a popular, com elástico, baratinha e encontrada na maioria das farmácias, e que pode ser usada por qualquer pessoa, inclusive profissionais da saúde atuando em procedimentos comuns de unidades hospitalares. Segundo a doutora, essa proteção pode ser usada por até 4h. “Porém, se ficar úmida, se sujar, deve ser trocada antes”, indica. 

Já a máscara N-95 tem sido indicada para profissionais que estão lidando com pacientes com suspeita de contaminação, junto com outros equipamentos de proteção individual como óculos, avental impermeável e luvas. Essa máscara pode durar até sete dias e deve ser usada quando o profissional precisar realizar procedimentos de nebulização ou entubação de um paciente. Geralmente, essa proteção é indicada para casos de outras doenças como sarampo e varicela, altamente contagiosas.

Quanto ao álcool em gel, a médica explica que qualquer marca tem a mesma eficácia, desde que seja o álcool na proporção 70%. Paste indica que se a pessoa for se alimentar, o melhor é lavar as mãos com água e sabão. Se por acaso sujar as mãos, também é preferível lavar com água e sabão, mas em situações de rua, como estar no carro, ônibus, metrô e ao tocar superfícies, o álcool em gel é um antisséptico aliado.

*Sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro