Coronavírus: orientação muda e procura por máscaras de pano dispara

Declaração do ministro da saúde foi reforçada pelo governador Rui Costa para que população use máscara

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 3 de abril de 2020 às 05:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Acessórios Dona Flor

Em meio a pandemia de um vírus novo, é comum que novas informações cheguem a cada dia e provoque mudanças nas orientações. Desta vez, as novidades dizem respeito à orientação de uso de máscaras pelos brasileiros. Antes recomendadas apenas para os profissionais de saúde e quem estava infectado pelo coronavirus, as máscaras tiveram seu uso estendido para a população em geral, depois de uma declaração do ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta. 

Em entrevista concedida na tarde de quarta (1°), o titular da pasta defendeu o uso do equipamento como barreira física no combate ao coronavírus. “Acho que máscaras de pano para os comunitários funciona muito bem como barreira. Não é caro de fazer, faça você mesmo, faça e lave com água sanitária. Lave por 20 minutos, reaproveite. Agora é lutar com as armas que a gente tem", disse Mandetta.  

Na manhã da quinta-feira (2), o governador Rui Costa e o secretário de saúde do estado Fábio Vilas Boas incentivaram o uso de máscaras, inclusive para pessoas que não tenham sintomas. “Se você sai de máscara, você está ajudando a conter a propagação do vírus, inclusive nas superfícies. Então, se você vai à feira, vá com sua máscara, produza sua máscara do seu time, como você quiser, e você vai estar ajudando a conter o vírus na Bahia’, disse Rui em entrevista realizada nas redes sociais. 

Na mesma transmissão, o secretário de saúde do estado reforçou a necessidade do equipamento, apesar de reconhecer que a eficácia de uma máscara de tecido não é completa. "De fato, vestir uma máscara de algodão e achar que é o super homem que não pega, você ta se enganado. A máscara de pano não é 100% eficiente, mas consegue fazer duas ações importantes, a primeira evitar que ao falar, ao interagir com outras pessoas, você não as contamine. E também proteger-se ao interagir. Apenas pelo efeito da barreira mecânica, quanto mais pessoas puderem utilizar na comunidade, mais a comunidade está protegida", disse. 

Cuidados

Apesar das orientações governamentais para uso geral do equipamento, quem trabalha diretamente no combate ao vírus faz ressalvas ao cuidado na hora da utilização. “A máscara de tecido está longe de ter a mesma eficiência das de uso hospitalar, mas ela atua como barreira para proteger das gotículas mais grosseiras’, explica Fábio Amorim, médico infectologista do Hospital Couto Maia. O profissional destaca, ainda, que é preciso cuidado na hora de usar o equipamento. “Não adianta colocar a máscara e ficar manipulando toda hora. O correto é, uma vez colocada, você só toca novamente nela para retirá-la. Manipulando toda hora você acaba condenando a máscara”, explica. 

Para os especialistas, a mudança na recomendação e o incentivo da produção própria do equipamento, no entanto, podem ajudar a diminuir a procura pelas máscaras de uso hospitalar. “Isso deve salvaguardar esses equipamentos para as equipes de saúde, para quem de fato precisa’, acreditar Amorim. A procura pelos equipamentos de proteção individual cresceu assustadoramente. Apenas no site Ali Express, plataforma global de vendas, foi registrado 200% a mais de vendas de produtos voltados para higiene pessoal e de proteção à saúde, principalmente máscaras protetoras, que apresentaram um aumento de 500%.

Nos hospitais, dois tipos de máscaras são utilizadas: a chamada máscara cirúrgica deve ser utilizada por um período de 2h, quando precisa ser descartada e substituída. Já a máscara de modelo N95 - que tem uma proteção ainda mais eficiente contra partículas suspensas no ar - pode ser utilizada durante um turno inteiro de trabalho do profissional (de 6 a 12h). Por conta da dificuldade na compra do equipamento, o tempo de uso de cada uma das máscara está sendo prorrogado. 

As máscaras de pano, por sua vez, precisam ser trocadas quando estiverem já úmidas ou sujas.”Não adianta ficar usando uma máscara úmida, é como se você estivesse colocando a mão na boca”, alerta a infectologista Clarissa Ramos. A médica chama atenção, ainda, para a vida útil do material. “Cada vez que o tecido é lavado ele vai se desgastando, vai abrindo os poros que é justamente o que atua como barreira”, explica. Segundo a médica, experimentos mostram que, depois de lavados quatro vezes, o tecido acaba perdendo pelo menos 20% da sua eficácia. 

Especialistas chamam atenção, ainda, para a necessidade de continuar seguindo protocolos de higiene. “Não adianta falar de máscara se as pessoas não continuarem lavando a mão. É muito importante seguir chamando atenção para a higienização das mãos como forma de combate”, destaca Clarissa. 

Produção

Diante da dificuldade de encontrar as máscaras industrializadas nas farmácias, a procura por quem produz os equipamentos de forma artesanal acabou crescendo. No atelier Acessórios Dona Flor (@donafloracessorios), por exemplo, foram 60 pedidos apenas na tarde da quarta-feira (1), quando o ministro modificou a orientação. ‘Eu faço tudo sozinha e já não estou conseguindo mais dar conta de responder todos os pedidos”, diz a empreendedora Carol Ataíde. 

Apenas na manhã de quinta (2), mais 200 pedidos chegaram ao atelier, que é na verdade, a casa da empresária. “Comecei a fazer há uma semana quando um amigo médico já me deu essa orientação de que as máscaras deveriam ser usadas por todos, mas, agora, desde a mudança oficial, os pedidos pipocaram e cada pedido com 20, 30 unidades”, comenta. A máscara produzida por Carol sai a R$ 10 a unidade em tamanho adulto e R$ 8 o infantil. “Acaba que o boca a boca das amigas, e de quem compra, está ajudando muito a divulgar o trabalho”

A empreendedora Andrea Becker (@ateliedeabecker) começou um pouco antes, há cerca de um mês e vende o produto a R$ 15 a unidade. “Comecei a fazer porque tenho um idoso que é paciente oncológico em casa, então, a gente já bastante preocupado com a proteção”, explica ela, que vende, ainda, kits com quatro máscaras a R$ 50.

Para desenvolver o produto, foi preciso estudo. “Pesquisei, segui orientações médicas, criei inclusive um clipe para vedar melhor a região do nariz, Faço a máscara em três camadas e ela vai embrulhada e com instruções para a lavagem e o reuso”, comenta a empreendedora, que diz já estar sentindo os reflexos da nova orientação. “Quando comecei, ainda sem lojas fechadas, pagava R$ 0,50 pelo metro do elástico. Hoje (quinta), achei por R$ 1. Com essa nova definição, lojas de tecido e armarinhos deveriam serem  consideradas essenciais”, opina. 

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco