Coronel João Sá: pelo menos 190 casas serão demolidas após rompimento de barragem

As residências estão no leito do rio e foram condenadas pelo Ministério de Minas e Energia

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  • Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Junior Nascimento/CORREIO)

Pelo menos 190 casas que estão próximas à região que foi atingida pelo rompimento da barragem do Quati, no muicípio de Pedro Alexandre, terão que ser demolidas. Ao todo, 300 residências que ficam às margens do Rio do Peixe e no município vizinho de Coronel João Sá  estão sendo avaliadas pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). 

A estimativa de Carlos Sobral, prefeito da cidade de Coronel João Sá,  é de que pelo menos 200 casas tenham que ser reconstruídas. Isso porque elas estão no leito do rio e foram condenadas pelo Ministério de Minas e Energia do governo federal. "Eles estiveram aqui e afirmaram que não vão aceitar reconstruir no local, que é leito do Rio do Peixe", disse.

A prefeitura de Coronel João Sá, que estima um prejuízo de R$ 10 milhões com o desastre, doou um terreno que fica na parte alta da cidade para que o governo estadual e federal possam construir as novas casas. O governo federal, através da Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), está na cidade cadastrando as famílias atingidas no aluguel social do governo federal. "Agora nós temos que terminar o cadastro para o aluguel social, além de aguardar o trabalho da Defesa Civil que está vendo quantas casas estão condenadas", disse o prefeito. Moradores perderam tudo com rompimento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Por enquanto, a prefeitura está limpando a cidade. "Estamos desobstruindo cisternas, fossas. As pessoas também estão limpando a cidade. Por enquanto as pessoas continuam nas escolas abrigadas até começarem a receber os aluguéis", disse Sobral, que destacou que a cidade precisa de doação de móveis e eletrodomésticos. 

O governo estadual não confirmou se irá apoiar o município na construção das casas, assim como o governo federal. Em nota, o governo do estado afirmou que irá “apoiar o município na inspeção dessas residências”. “Esse apoio será através da Defesa Civil e engenheiros cedidos pelo governo e técnicos da própria prefeitura”, disse. Já o governo federal afirmou que a Defesa Civil Nacional está no local avaliando os danos e que não há, ainda, um plano para apoio à construção de casas na cidade. Rompimento de barragem inundou cidade de Coronel João Sá (Foto: Júnior Nascimento/CORREIO) Barragens O diretor-superintendente da Sudec, Paulo Sérgio Menezes Luz, explicou que além das casas, outras barragens da região também estão sendo avaliadas por engenheiros especialistas em segurança de barragem. De acordo com ele, a ação irá focar principalmente nos sangradouros. A desadequação da estrutura é responsável por 25% dos rompimentos de barragens. 

De acordo com ele, outras duas barragens independentes romperam na região: a de Serra Verde e a do Ronco do Jordão. "As três romperam por causa do alto volume de água. As outras duas não estavam acima da Quati e elas romperam no mesmo rio e por isso que ele foi para a cidade", disse. Ruas ficaram alagadas (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Paulo Sérgio Menezes Luz ainda reiterou que o governo fará uma força-tarefa em todo o Semiárido para capacitar pequenos produtores rurais e associações que tenha barragens. "O governo vai ensinar a como fazer uma gestão de barragem de forma segura. Como, por exemplo, não plantar árvores na barragem porque as raízes descompactam a terra e produzem canaletas, destacar o cuidado com cupins, formigas, tatus, a própria erosão provocada por chuvas fortes, além da minação por debaixo da barragem", destacou o superintendente.

A Política Nacional de Segurança de Barragens, de 2010, determina que apenas barragens com mais de 15m de altura, capacidade maior de 3 milhões de m³, contendo reservatório com resíduos perigosos ou com categoria de potencial associado médio ou alto devam ser fiscalizados. A barragem de Quati e as outras duas que romperam tinham entre seis e sete metros de altura e possuíam capacidade menor.

“A barragem de Quati, sozinha, não se enquadra nesses requisitos. Até se ela romper sozinha, não causaria vítimas por conta da capacidade pequena dela. O problema é quando junta todas elas que romperam de uma vez só no mesmo rio. E aí esse grande volume de água escoa”, destacou Paulo Sérgio Menezes Luz. 

Segurança da Barragem O presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, Carlos Henriques Medeiros, destacou que mesmo as estruturas menores oferecem riscos à população. "Para construir tem que ser profissional. Não pode ser qualquer pessoa. Uma série de pré-requisitos têm que ser cumpridos. Isso é um problema. Existe uma série de procedimentos de engenharia que, se não forem feitos, a estrutura vira uma bomba relógio. A barragem pequena traz consequência. Ela tem risco e todo cuidado é pouco", afirmou.

Ele destacou que é necessário uma maior fiscalização das barragens, com produção de relatório, com reparos frequentes e capacitação de pessoas e proprietários. Animais também foram atingidos pela água (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA), Luiz Edmundo, para construir uma barragem de terra é necessário analisar o solo em que o equipamento será instalado, investigar se o local suporta a barragem, controlar a compactação do solo, instalar drenagens internas, dentre outros procedimentos.

Ele explicou que não é aconselhável que casas sejam construídas nas margens dos rios em que barragens são construídas. "Quando o rio encher, ele toma as áreas originais que era dele. Então não é conveniente que construa nos lugares em que o rio passava antes", disse.

Membro do Comitê Brasileiro de Barragens e gerente da Supervisão de Barragens da Embasa, Lúcio Landim Fonseca, explicou que as mais de 20 barragens de água da Embasa passam por inspeções regulares, rotineiras e especiais, além de possuírem planos de ações emergenciais, passarem por revisões periódicas e possuírem um plano de segurança de barragem.

"As barragens pequenas não têm projeto, estudo de hidrologia. É necessário, por exemplo, verificar a compactação do aterro com um controle tecnológico, controlar o traço de concreto, a temperatura do concreto, dentre outras coisas. As inspeções regulares, por exemplo, que acontecem a cada seis meses, são essenciais para identificar anomalias pequenas, como a presença de capim, até mesmo maiores, que só são resolvidas com projetos de engenharia", destacou.

Para ajudar Uma das instituições que iniciou campanha de recolhimento das doações é a Voluntárias Sociais da Bahia. O órgão estadual recebe em sua sede, na Rua Baronesa de Sauípe, 382, no largo do Campo Grande, em Salvador, as doações para a campanha ‘Bahia Solidária’.

Para lá podem ser levados alimentos, água, colchões e os materiais de limpeza e higiene. As doações serão recolhidas também durante o fim de semana, quando a sede ficará aberta das 8h às 21h.

Até o momento, foram recolhidos mais de uma tonelada de alimentos.

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Taxistas solidários Os taxistas irão entregar o recolhido para que a Defesa Civil (Seduc) e o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) façam os devidos encaminhamentos às regiões atingidas.  Campanha organizada pelos taxistas baianos (Foto: Reprodução) Bombeiros em ação Os próprios bombeiros também estão com posto de recolhimento de donativos, conforme a assessoria do órgão. "Solidarizando-se às comunidades atingidas, o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia inicia uma campanha de arrecadação de roupas e alimentos não perecíveis", explica.

As doações, neste caso, podem ser entregues em qualquer quartel da corporação na capital ou interior do Estado, das 8 às 18h. Quem quiser mais informações, pode enviar e-mail para [email protected].

Na conta da cidade Doações em dinheiro também podem ser realizadas através de depósito em uma conta bancária do município de Coronel João Sá. Conta para doação em dinheiro, divulgada pela Prefeitura de Coronel João Sá (Foto: Divulgação) Relembre o caso A barragem do distrito de Quati, em Pedro Alexandre, município baiano na divisa com Sergipe, sofreu um rompimento no final da manhã do dia 11 de julho. Não houve vítimas fatais. De acordo com a prefeitura local, o temporal que cai na região ajudou a comprometer a estrutura da barragem, que faz a contenção da água do Rio do Peixe, e uma parte da estrutura rompeu, fazendo com que uma grande quantidade de água invadisse o povoado de Quati.

A enxurrada atingiu o município vizinho de Coronel João Sá, que teve diversas ruas alagadas. Um trecho da rodovia BR-235 também foi tomado pela água e pela lama e ficou intransitável. Como o rompimento não foi total, moradores de Coronel João Sá, que estavam numa área mais vulnerável às águas, foram retirados de casa.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostrou as ruas alagadas, e os moradores buscando possíveis pessoas em risco. 

A situação afetou vários serviços na região, inclusive as escolas, que fecharam. O prefeito de Coronel João Sá, Carlinhos Sobral, publicou um vídeo nas redes sociais orientando a população que vive em áreas consideradas de risco a deixar os locais. "A barragem do Quati realmente estourou. É uma situação atípica. Nunca aconteceu isso com essa barragem, então, nós não sabemos as consequências. Eu peço encarecidamente que todas as pessoas que moram nas áreas de risco que saiam das suas casas, peguem seus documentos pessoais, objetos de valores. (...) Melhor a gente prevenir", afirmou ele.

Visita  O governador Rui Costa foi manhã de sexta-feira (12) aos municipios de Coronel João Sá e Pedro Alexandre. Foram enviados efetivos do Corpo de Bombeiros, técnicos da Defesa Civil Estadual, do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para a região, além de mantimentos e água mineral para a cidade de Coronel João Sá.

Ainda segundo o governo, a barragem foi construída pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Car) e entregue em novembro de 2000 à Associação de Moradores da Comunidade de Quati.