Corpus Christi teve aglomerações nas praias de Itapuã e orla da Barra

Movimentação dava a impressão de que a pandemia não existe

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 3 de junho de 2021 às 23:34

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O feriado de Corpus Christi em Salvador foi até de descanso para muitos trabalhadores, mas de bastante atividade para o coronavírus. Mesmo com o acesso às praias proibido, muita gente conseguiu burlar a regra para aproveitar o sol. A movimentação foi grande na orla e barzinhos de Itapuã e Barra. Além do feriado desta quinta-feira, 03, junho ainda tem os festejos juninos e esse conjunto preocupa autoridades e especialistas. 

Os banhistas já apareciam a partir da praia do Corsário, em Pituaçu. Alguns grupos estavam reunidos em volta de coolers e jogando altinha. Mais adiante, em Jaguaribe, mais gente, barracas cheias e muitos sombreiros e cadeiras ocupados na faixa de areia. 

Quanto mais a equipe de reportagem se aproximava de Itapuã, mais a movimentação se intensificava. Na Sereia, barracas e bares lotados. A combinação de álcool e música provocava aglomeração como se não houvesse pandemia. “A aglomeração está nos paredões, não é aqui, não”, gritou uma mulher na praia lotada. Itapuã é o quarto bairro de Salvador com mais casos de covid-19, são 4.716. 

A moradora do bairro, Adele Robichez, 21, diz que o cenário do feriado é comum nos finais de semana na região. “Principalmente de sexta a domingo, muita gente se aglomera na Vila Baiana, que reúne muitos estabelecimentos comerciais e vive cheio de gente. Tem vários locais espalhados pelo bairro que vendem bebida e comida e juntam bastante gente. Um desses locais é a Sereia. O pessoal sai das praias e vai para os bares ou para as calçadas. Até para passar de carro é uma dificuldade”, contou. 

A moradora ainda completa que o desrespeito aos protocolos é visível e que não se sente confortável para circular pelo bairro. “É todo mundo sem máscara. Quem se aglomera assim não se preocupa com isso. Às vezes ela vai no queixo ou pendurada no pulso, vira acessório. Não me sinto confortável em sair para nenhum lugar em Itapuã, é muita aglomeração, a partir do final da tarde até de noite, é muita gente junta”.  Itapuã também ficou cheia de banhistas, muitos com a máscara no queixo (Foto: Nara Gentil/CORREIO) A Barra não fica atrás no quesito aglomeração. No trecho entre o Morro do Cristo e o Farol, caminhar sem esbarrar em algo ou alguém é missão quase impossível. Mesas e cadeiras de bares, bicicletas, patinetes, cachorros, gente andando, gente correndo, gente tirando foto. Por lá, por conta da fiscalização da Guarda Municipal, as praias estavam vazias, mas as calçadas cheias. 

Os barzinhos não deixaram mesa sobrando e o gramado do Farol quase não comportava a multidão de soteropolitanos e turistas. Na hora do pôr do sol, muita gente reunida contemplando a vista e aplaudindo em clima de festa. Lá, infelizmente, o cenário também não é novidade. De acordo com a moradora Beatriz Pacheco, 21, toda quinta a movimentação começa a se intensificar. Nesta semana, por conta do feriado, o dia foi típico de um domingo. “O Porto e o Farol, de quinta a domingo, estão sempre cheios, os bares e restaurantes ficam lotados e as praias impraticáveis. Até mesmo de manhã cedo a orla fica bastante cheia. E a máscara fica em segundo plano mesmo. Hoje eu fui fazer uma caminhada e percebi movimentação bem grande na região, principalmente de jovens”, contou a moradora. Medidas para o feriado

Mesmo sem sucesso, algumas medidas foram adotadas para o feriadão na tentativa de evitar as aglomerações. O acesso às praias de Salvador ficou proibido e só será liberado na segunda-feira (7). A exceção é para o Porto da Barra, que só poderá funcionar na terça (8). Além disso, o toque de recolher está antecipado para às 20h. A venda de bebida alcoólica está proibida a partir das 20h de hoje até às 5h de segunda (7).  No Farol, o gramado ficou cheio de gente e teve até música ao vivo (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Ficou autorizado o funcionamento normal de estabelecimentos comerciais, a exemplo de shoppings, bares e restaurantes, seguindo os horários determinados pelo decreto municipal e com fechamento até às 19h30. 

Ao anunciar as medidas, em coletiva no dia 28, o prefeito Bruno Reis afirmou que as ações eram uma tentativa de evitar o aumento de casos e de internações. “Está confirmado pelos números que sempre depois de datas comemorativas e finais de semana prolongados com feriados, que há aumento de novos casos. Então, sempre existe essa preocupação. Foi assim com a Semana Santa, foi assim com o Dia das Mães, e para evitar que seja assim também com o Corpus Christi nós estamos adotando essas medidas”. 

Especialistas fazem alerta

Além do feriado de Corpus Christi, junho agrega os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro. As comemorações são uma ameaça ao distanciamento social. A preocupação tem sentido, afinal, o balanço do ano passado nessa época foi assustador. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), entre os dias 23 de junho e 7 de julho de 2020, os casos de covid-19 no estado cresceram 87,3%. Nesse contexto, os cientistas do Portal Geocovid projetam 2,5 mil mortes pela doença na Bahia e 160 mil novos casos em junho de 2021. 

Gesil Sampaio Amarante, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e também pesquisador do Geocovid, explica que as projeções feitas pelo grupo levam em consideração somente a taxa de contaminação atual do vírus. Isso significa que, caso haja mais aglomerações em festas ilegais ou comércio lotado, o índice vai crescer e mais pessoas serão contaminadas e mortas pelo vírus. “As projeções levam em conta o comportamento recente do vírus com base nos parâmetros verificados empiricamente da doença. Festa e aglomeração não entram na conta. Portanto, se somada a tendência que estamos agora com esses elementos de risco, podemos afirmar que os números do portal são até otimistas”, alerta. Na semana passada, a Rede Análise Covid-19 também fez um alerta mostrando que há tendência de aumento de notificações de novos casos para a Bahia em junho. Tem mais pessoas reportando, segundo os dados do grupo, estarem com sintomas da covid. “Estamos falando de uma alta forte. O alerta nesse momento preocupa, pois a ocupação dos hospitais não baixou. O medo é que esse aumento cause o colapso no sistema hospitalar”, explica Isaac Schrarstzhaupt, coordenador do grupo.  

Nesta quinta-feira (3), a Bahia fechou o dia com 1.025.987 de casos confirmados de covid-19, 15.685 casos ativos e 21.512. A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto está em 86%. Os dados são da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). Em Salvador, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a taxa de ocupação de leitos de UTI adulto é de 82%. A capital acumula 211.270 casos e 6.408 óbitos confirmados. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro