Couto Maia tem queda de 30% em internação de idosos acima de 80 anos com covid

Em toda Bahia, vacinação tem reduzido quantidade de pacientes idosos em UTIs

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 20 de abril de 2021 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Sesab

Apenas 4,2% da população baiana tomou as duas doses da vacina, mas os primeiros sinais da imunização começam a aparecer. Só no Hospital Instituto Couto Mais (Icom), por exemplo, um levantamento interno com dados de até 17 de março de 2021 mostra que houve redução de 30% na quantidade de internados com 80 anos ou mais. “De 70 para cima ainda não percebemos redução, mas também porque ainda não temos os dados de abril”, disse a diretora do local, Ceuci Nunes.   

Em toda a Bahia, sinais como esse já são observados, segundo o secretário de Saúde do Estado, Fábio Villas-Boas. “Há uma queda sustentada do número de solicitações de internamento de idosos acima de 70 anos, fruto da vacinação”, disse. Nas últimas quatro semanas, a quantidade de idosos com mais de 80 anos em leitos de UTI caiu 42%, de 62 internações por 100 mil habitantes para apenas 36. Já nos idosos de 70 a 79 anos, a redução é de 20%: de 49 internações por 100 mil habitantes para 39. 

Para Izabel Marcílio, médica epidemiologista que coordena o Centro de Operações de Emergência da Bahia, coordenadora do estudo que descobriu esses dados, é possível inferir a contribuição da vacinação nos números. “Não tem como a gente cravar, pois pode ser também o comportamento dessa faixa etária na segunda onda. Mas parece ser a vacinação, pois já atingimos 100% da cobertura dessa faixa etária, com a aplicação de duas doses. Nos outros grupos não há uma queda expressiva como essa”, afirma.  

De fato, essa redução no número de idosos internados não é observada nos que têm 60 a 69 anos. Nas últimas quatro semanas, o número de pacientes nessa faixa etária praticamente não variou. Eram 30 internações por 100 mil habitantes antes e agora são 28. Em Salvador, por exemplo, a vacinação dos idosos com 69 anos só começou a partir do dia 25 de março. Eles ainda sequer tomaram a segunda dose. 

O mesmo fenômeno de não redução ocorre nos números de internação das demais faixas etárias, que entram somente na fase 3 de vacinação, aquela que engloba indivíduos com condições de saúde que estão relacionadas a casos mais graves de covid-19, independe da idade. Nem todas as cidades baianas entraram nessa fase. Salvador, por exemplo, ainda não entrou. 

Vacinação  Ceuci Nunes também acredita que é possível inferir a contribuição da vacinação, mas não apenas isso. “Está parecendo que há uma tendência de mais internação de jovens e adultos, um público que está se expondo mais à contaminação”, diz. Até às 18h dessa segunda-feira (19), 641 mil baianos já haviam tomado as duas doses da vacina contra a covid. Ceuci lembra que a pessoa só é considerada imunizada após o vigésimo dia de segunda dose tomada.  “Não tem como ter uma redução de internação maior da que houve, pois a vacina tem duas doses. Quem tomou a de Oxford, cujo prazo é mais longo, de até 90 dias, ainda pode estar esperando a segunda aplicação”, diz. Médico infectologista da SOS Vida, Matheus Todt compartilha do mesmo princípio e reforça a importância das pessoas tomarem as duas doses da vacina. “Os estudos que nos guiam mostram que a quantidade de anticorpos é suficiente após duas semanas da segunda dose. A primeira já dá alguma imunidade, mas bem menos do que na segunda e não tem garantia de quanto tempo dura. Não tomar vacina ou só tomar uma dose é brincar com a sorte”, explica.    

Para o especialista, a queda na internação de idosos é algo positivo, mas não deve ser usado pelo poder público como justificativa para reduzir as medidas de proteção. “Até porque não é um reflexo potente. Os números de vacinação ainda são baixos. Só com vacinação acelerada para termos um reflexo maior. Os números da pandemia tendem a estabilização em patamar elevado e isso não é bom. Não há uma melhora de fato na quantidade de novos casos e mortes”, lembra.   Cientistas defendem vacinação acelerada na Bahia (Foto: Divulgação/Natael Kiss/PMLF) Por outro lado, a epidemiologista Izabel Marcílio acredita que, com o avanço da vacinação, a tendência é observarmos números melhores, o que ainda não será suficiente para livrar o estado da pandemia.  “A gente não sabe ainda o quanto vai ser duradouro o efeito da vacina. Imaginamos que vai ser preciso uma segunda dose de reforço a cada ano, por exemplo. Então, o futuro de curto e médio prazo precisa ainda de uso de máscara e distanciamento social. Não podemos sequer pensar em aglomerações. Estamos longe da meta de imunizar um mínimo de 70% da população”, aponta.  Dados  Mesmo com uma baixa taxa de imunização, a Bahia já ultrapassou a marca de 2 milhões de pessoas que tomaram a primeira dose da vacina, o que representa cerca de 13,8% da população do estado. Desses, 1,6 milhão dos vacinados são idosos com mais de 60 anos. Para Vilas-Boas, isso é fruto do planejamento público na aquisição de insumos, do esforço logístico na distribuição e do empenho dos municípios em imunizar rapidamente a população. “Em dezembro do ano passado adquirimos 19,8 milhões de seringas e agulhas e já no mês seguinte tínhamos disponíveis 10 milhões para iniciar a imunização, só aguardando a chegada das vacinas. Essa era uma realidade completamente diferente dos outros estados, que não se planejaram adequadamente e não tinham estoque”, afirma Vilas-Boas. Na semana passada, o número de idosos que não tinham retornado para tomar a segunda dose da vacina na Bahia era de 10.065, segundo o secretário. O CORREIO perguntou a Sesab a atualização desses números, mas não obteve retorno.   

O último lote de vacinas recebido pela Bahia foi 396 mil doses na última sexta-feira (16). O CORREIO perguntou ao Ministério da Saúde quando teremos o envio de novo lote, mas também não obteve retorno até o fechamento do texto. O governo estadual classifica o cenário como imprevisível. Para lidar com isso, foi montado uma operação logística que distribui as doses para os 417 municípios em até 24 horas, a partir da utilização de aviões, helicópteros, caminhões e caminhonetes. 

Para acelerar ainda mais a vacinação, o estado adquiriu 9,7 milhões de doses da Sputnik V, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não emitiu autorização para importação da vacina russa. 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.