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Covid longa pode causar impotência sexual e dificuldade de ejaculação

Na Bahia, médicos notam o aumento dessas sequelas nos homens que tiveram covid-19

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2022 às 05:15

. Crédito: .

A covid-19 é considerada hoje uma enfermidade sistêmica que pode acometer diversos órgãos e causar muitos sintomas e sequelas. Nos homens, pode haver dificuldade de ejaculação e impotência sexual. Tais efeitos se encaixam na chamada covid longa, que, de acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), costuma aparecer três meses após o início da infecção e ter duração de, pelo menos, dois meses.

Um novo estudo publicado na revista Nature Medicine, por pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, analisou 2,4 milhões de registros de saúde no Reino Unido, que apontam 62 sintomas incomuns que acompanham pacientes que tiveram covid, dentre eles estão a impotência sexual, a perda da libido e a dificuldade de ejaculação.

Outra pesquisa da Universidade de Roma, na Itália, em 2021, indicou que homens infectados pelo coronavírus possuem três vezes mais chances de apresentar impotência sexual. Já um estudo publicado pela Universidade de Miami (EUA) confirmou um aumento de 20% no risco de disfunção erétil depois da infecção.

Na Bahia, o chefe do serviço de urologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lucas Batista, confirmou que tem percebido o aumento no número de pacientes com disfunção erétil após a infecção pelo coronavírus, principalmente em pessoas que tiveram a forma mais grave da doença, com complicações pulmonares.

“Eu consegui observar isso na minha experiência pessoal. A gente não sabe exatamente se uma covid mais grave ou menos grave vai fazer com que a pessoa acabe tendo mais ou menos chances de desenvolver a disfunção erétil, mas eu observo particularmente que pacientes que tiveram complicações pulmonares, que foram internados ou intubados evoluíram depois com a disfunção erétil e antes da infecção não tinham essa queixa”, diz.

Lucas Batista destacou que a queixa de disfunção erétil é muito comum e um dos principais fatores é o próprio envelhecimento do homem, já que, quando ele chega aos 50 anos de idade, cerca de 20% já têm alguma queixa relacionada à impotência sexual. O urologista ressalta que esse dado aumentou depois da covid-19 e, por isso, várias pesquisas começaram a ser feitas. 

Números Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cerca de 100 milhões de homens sofrem com impotência sexual em todo o mundo. No Brasil, o problema atinge cerca de 50% da população masculina, principalmente após os 40 anos e as causas são diversas. 

Lucas Batista explicou ainda sobre a covid-19 não ser mais considerada uma doença que ataca apenas o pulmão, mas sim uma enfermidade sistêmica, que ataca, especificamente, os pequenos vasos do endotélio, que é a parede que reveste o tecido sanguíneo, podendo provocar lesões e bloqueio dos vasos e trombos. 

“Com a covid, esse endotélio sofre uma lesão e começa a perder a sua funcionalidade. Assim, o sangue não consegue chegar até a região doente e, então, ela começa a sofrer, seja o rim, o pulmão... Algumas pessoas - e não se sabe muito bem o porquê - acabam sofrendo uma lesão na região da vascularização do pênis, que precisa de irrigação de sangue para manter a ereção. Assim, a má circulação sanguínea pode debilitar a função erétil”, detalha.

Ainda segundo o urologista, além da má vascularização do pênis, outros fatores podem contribuir para casos de disfunção erétil. Entre eles está a capacidade respiratória, pois o comprometimento pulmonar pode impactar diretamente no desempenho sexual do homem. As pesquisas também apontam que a covid-19 pode causar a deterioração dos níveis de testosterona, hormônio que estimula o desejo sexual. 

Tratamento O tratamento da impotência sexual pós-covid é semelhante ao tratamento de pessoas que sofrem com o mesmo problema, mas que nunca foram infectadas com o coronavírus. “A gente não faz nenhum outro tipo de tratamento específico. O paciente usa os medicamentos usuais indicados para disfunção erétil”, disse Batista. 

O urologista do Itaigara Memorial Urologia Marcelo Cerqueira aponta que uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional passou a ter um papel importantíssimo nesses casos. “Também é essencial o engajamento da família e das parceiras para a recuperação do paciente”, comenta.

Um paciente de Marcelo Cerqueira, que preferiu não se identificar, relatou ter notado uma diminuição da sensibilidade do pênis e dificuldade de manter ereção após a segunda infecção por covid-19. Com 46 anos, o homem contou que isso prejudicou sua vida sexual. “Minha esposa acreditava que eu não tinha mais desejo por ela e eu procurei o meu urologista de imediato porque nunca tinha passado por isso. Curiosamente, meus índices de testosterona também diminuíram e eu precisei repor”, disse ele. 

Para tratamento, o paciente conta que usou comprimidos, injeções e terapia: "Sou atleta amador e vivia muito bem com minha esposa e meus dois filhos. Foi difícil, demorei a confiar que ficaria bem, pois tudo começou muito de repente, longo depois que peguei covid pela segunda vez, e ambas foram quadros leves. Aos poucos fui me recuperando e hoje não uso mais nada para tratar, mas mantenho o acompanhamento com psicólogo, que me fez muito bem".

Covid longa também afeta a libido das mulheres?

Os estudos publicados recentemente apontam que mulheres também sofrem com falta de libido após o coronavírus. A pesquisa britânica publicada na revista Nature Medicine é um exemplo. As ginecologistas Ana Cristina Batalha e Cristina Sá, sócias da Clínica Emeg, confirmaram que as mulheres sofreram várias sequelas por conta da covid e que a falta de libido é uma delas. 

"As mulheres sofreram com várias alterações nessa fase pós-covid: queda de cabelo, perda de memória, diminuição da massa e força muscular e também alterações hormonais, umas com sangramento vaginal irregular, mesmo as que não menstruavam mais, e outras com alteração da libido por baixa de testosterona, além de úlceras vaginais associado ao quadro", pontuou a ginecologista Ana Cristina Batalha. 

Cristina Sá ressaltou que é importante avaliar individualmente cada mulher para entender o que causou a diminuição da libido. "Se a causa for diminuição da testosterona, o melhor tratamento é a reposição adequada. Se houver diminuição da sensibilidade clitoriana, existem algumas medicações que podem melhorar isso. É necessário, ainda, avaliar o perfil inflamatório e psicológico envolvido", pontuou a especialista. 

Patrícia Carneiro Nogueira Pombinho, ginecologista e sexóloga titulada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, também afirma que a falta de libido como sequela da covid-19 é uma realidade confirmada por estudiosos. "Essa falta de libido depois da covid aumenta em percentual, tanto pelo processo inflamatório que a doença gera, quanto pelas baixas hormonais. A pandemia aumentou o estresse das pessoas e, quando estamos em situação de estresse, a gente tem uma baixa da dopamina, que é um dos hormônios mais mandatórios no ciclo de resposta sexual feminino, que é o despertar do desejo, do prazer e da busca", expôs a sexóloga. 

A especialista ressaltou que a disfunção do desejo sexual hipoativo é a angústia pessoal, um sofrimento, causado pela deficiência ou ausência de fantasias e desejos sexuais, além da falta de receptividade para a atividade sexual. "A presença desse sofrimento traz para a paciente a condição básica para caracterizar essa baixa da libido e faz a mulher procurar um médico para um tratamento eficaz."

Existem vários distúrbios e situações que podem gerar essa diminuição do desejo sexual: o próprio envelhecimento, desordens emocionais e também doenças crônicas. "Como a covid está trazendo uma consequência, uma sequela ao corpo, uma inflamação crônica, a gente interpreta que ela entraria como uma dessas doenças crônicas que estaria afetando e levando a baixa da libido nas mulheres", explicou. 

Uma mulher de 41 anos, que preferiu não se identificar, conta que perdeu a libido e também ficou sem lubrificação após ter tido covid-19 em 2020. "Tive coronavírus, foi leve, não fiquei internada, mas logo depois percebi que a relação sexual não era a mesma. Depois de dois anos da infecção eu voltei a ter a libido, mas continuo sem lubrificação", relatou.

A mulher conta que o marido acreditava que ela não estava mais interessada nele, visto que ela nunca tinha tido sintomas parecidos. Ela não procurou tratamento na época, mas está em busca de um atualmente. 

Segundo especialistas, o tratamento é o comum, já utilizado antes da covid-19. A mulher pode fazer consulta com sexólogos, psicólogos e especialistas em sexualidade humana, com terapias cognitivo-comportamentais, trabalhando as partes que ficaram hormonalmente afetadas. Além disso, também existem tratamentos alternativos e medicamentos que ajudar a "dar um up" na vida sexual dessa paciente.

Vale ressaltar que em qualquer tratamento por falta de libido, ou até mesmo disfunção erétil no caso dos homens, os médicos observam se os pacientes estão usando alguma medicação, como antidepressivos, que podem afetar a sexualidade. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro