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Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2021 às 12:41
- Atualizado há 2 anos
A queda de quase 90% no número de turistas em Cuba nos primeiros cinco meses de 2021, em comparação ao mesmo período do ano passado, evidenciou a crise econômica vivida na ilha. O aumento do preço dos produtos, com uma inflação em alta de cerca de 500%, e a dificuldade em obter alimentos são provas de que Havana ainda tem uma economia muito dependente de importações e dificultada pelo embargo americano, que dura quase 60 anos. A insatisfação popular com a crise ficou levou aos protestos domingo em diferentes cidades da ilha.>
Com medidas excepcionais e programas como o Plano de Soberania Alimentar e Educação Nutricional, conhecido como Plano PAN e em início de implementação, o governo tenta criar políticas públicas que diminuam a dependência das importações e melhorem a produção nacional para ter a economia menos impactada pelo embargo e, atualmente, pela pandemia da covid-19.>
"É uma estratégia limitada porque continua tendo o problema estrutural. Tem o embargo que prejudica muito no desenvolvimento de produção, pela falta de maquinário e peças, por exemplo, mas tem também a burocracia que ainda é grande", explica o coordenador de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), Moisés Marques.>
Cuba realizou mudanças econômicas ao longo dos anos, mas ainda não conseguiu uma estrutura que permitisse a independência da ajuda de outros países. Até os anos 90, o país tinha como principal fonte de renda a exportação de açúcar, tabaco e rum. A União Soviética comprava a maior parte dessa produção e isso permitia ao país caribenho ter até um orçamento pré-determinado>
"Com a queda da URSS, Cuba passa a tentar outras alternativas. A ilha tem até minérios interessantes, como níquel, cobalto, mas sem uma boa indústria extrativista. Nesse caso, o embargo econômico cria problemas sérios porque eles não conseguem importar maquinário", explica Marques.>
O maior impacto do embargo americano e das restrições impostas pelos EUA é ao sistema financeiro da ilha. "Isso ocorre porque as instituições financeiras e as empresas com operações ligadas aos EUA são cuidadosas para não chamar a atenção Departamento do Tesouro e do Departamento de Estado", diz o presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich.>
Esperança do turismo>
Após os anos 90, com a dívida externa alta e os problemas econômicos internos, Cuba fez acordos com empresas internacionais, principalmente europeias, para desenvolver o turismo. Redes hoteleiras passam a explorar pontos turísticos e uma porcentagem do dinheiro ficava com o Estado, que também fornecia a mão de obra.>
Marques explica que nesse momento criou-se a indústria do turismo em Cuba e, a partir de então, essa se torna a principal entrada de dinheiro no país. "Junto vem a criação de uma moeda paralela, o CUCl, que criou também uma economia paralela. Se você fosse turista ou tivesse acesso ao CUC, tinha chances de acesso a mais coisas, por exemplo. E começam a ser permitidos os primeiros pequenos negócios na ilha, como os paladares (restaurantes em casa) e as pessoas ficavam com parte da renda ">
Mas foi justamente o turismo o mais foi afetado com a chegada da pandemia de covid-19 em Cuba. Com o fechamento das fronteiras, o setor que era responsável por levar cerca de US$ 3 bilhões por ano à ilha passou a levar apenas US$ 1 bilhão. "A pandemia de covid-19 foi devastadora para a economia cubana", afirma Kavulich.>
Outra forma de o governo cubano conseguir arrecadar é com a exportação de mão de obra qualificada. Com um sistema que fornece educação de qualidade a todos os cidadãos, a maioria dos cubanos tem diploma universitário e fala mais de um idioma. Com isso, seus médicos e professores eram muito requisitados para atuar em outros países.>
Na Venezuela, por exemplo, um dos grandes parceiros de Cuba, as missões alfabetizadoras usavam professores cubanos acostumados com as técnicas de alfabetização. No Brasil, o programa Mais Médicos chegou a trazer muitos cubanos para atuar no País.>
Mas a mudança de governos em países como Brasil, Bolívia e Equador, além da crise econômica e política que a Venezuela atravessa, diminuíram a demanda por esses profissionais.>
"A discussão do fato de o governo cubano ficar com parte do que esses profissionais recebiam e as mudanças ideológicas nos comandos dos países fez isso diminuir. Agora, você tem em Cuba uma população jovem altamente qualificada e sem perspectivas de futuro, isso é muito complicado", explica Marques.>
O cubano Rafael Antonio Moreno é engenheiro eletrônico e conta ao Estadão que quer ver mudanças nas lideranças do país. "Há um descontentamento geral, as pessoas estão morrendo e passando dificuldades muito sérias. E o principal problema é que não há futuro aqui. Os dias passam, os meses, e tudo piora.">
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.>