Cuidar do colaborador é ainda mais importante em um momento de crise

Ranking do GPTW mostra que a melhor prática está no cuidado

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  • Do Estúdio

Publicado em 22 de julho de 2020 às 06:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação

Agilidade e adaptação. A pandemia colocou à prova a capacidade que as empresas possuem de se tornarem mais eficientes e funcionais, não só na prestação dos seus serviços, mas principalmente, na forma de cuidar de seus colaboradores e reconfigurar completamente o ambiente de trabalho.

“A gente começou a olhar por vários eixos. A questão do cuidado amplo, as atividades que poderiam ser colocadas imediatamente em home office e o que podia ser automatizado. Todo processo foi se tornando digital, cada dia mais. Tudo o que implementamos teve muito engajamento, muita força. Isso potencializa a organização”, afirma a gestora de Recursos Humanos da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Telma Bastos.

A instituição de ensino é primeira colocada entre as dez empresas que integram a lista das melhores organizações para se trabalhar apontadas pela 7ª Edição do Ranking Great Place to Work (GPTW) no estado. Foram ouvidas pela consultoria as 45 empresas inscritas na Bahia, representando 14.869 funcionários. Campus Cabula da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Entre as 10 empresas premiadas por seu desempenho na aplicação de boas práticas de gerenciamento de Recursos Humanos, além da Bahiana, também estão na relação de destaques a Kordsa, Simples Vet Tecnologia, Embracon-BA, Wish Hotel da Bahia, Laboratório Sabin, Bomconsórcio, Jacobina Mineração - Yamana Gold, Veracel Celulose e Natulab Laboratório Farmacêutico.

E as pessoas são mais importantes do que nunca para as empresas, nesse processo de adaptação imposto pelo novo coronavírus. No início da semana, a ocupação de leitos de UTI em Salvador caiu para 75% e iniciou a contagem regressiva para a primeira fase de retomada das atividades econômicas, após anúncio do prefeito ACM Neto em seu perfil do Twitter.

Já a Bahia, segundo os dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), apresentou o mesmo percentual de ocupação de 75% com relação aos leitos de UTI adultos, o que reforça a possibilidade de liberação ainda no mês de julho, neste primeiro momento, de shoppings, templos e igrejas, comércios de mais de 200 m² e drive-ins.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos seção Bahia (ABRH-BA), Wladimir Martins, os ambientes de trabalho serão todos remodelados. As empresas vão passar por um processo de transição à medida que a pandemia traga as muitas e inesperadas mudanças. “Vamos ter que nos adaptar em um novo modelo de gerir pessoas em um ambiente de trabalho com um novo espaçamento, cuidados mais específicos. As Normas de Segurança e Saúde no Trabalho também devem ser readequadas por conta disso. Vai ser tudo muito diferente do que era e com muitos aprendizados que a pandemia trouxe”, analisa.

O momento vai exigir o maior nível de segurança possível no ambiente de trabalho, como complementa Martins. “Primeiro, o gerenciamento de pessoas terá que cuidar mais dos seus colaboradores, há que se ter muita atenção. Nós precisamos ter uma reintegração das pessoas na retomada. É o novo. Um novo modelo, uma nova forma de se agir dentro dos ambientes organizacionais. Precisamos ficar atentos ao cenário e ver que este mesmo cenário pode mudar a cada instante”.

Todo processo gerado pela pesquisa GPTW acaba contribuindo significativamente para este momento de reaprendizagem dos ambientes organizacionais. “Uma vez que o ranking busca identificar, justamente, as boas práticas existentes para a gestão de pessoas, o levantamento colabora na condução desta adaptação até nos momentos mais difíceis. Identificar os melhores lugares para se trabalhar é identificar práticas que fazem com que as pessoas estejam lá e sejam fiéis àquele ambiente de trabalho”, ressalta o presidente da ABRH-BA.

Boas práticas Empresas como a Kordsa viram de perto esta necessidade de repensar todas as rotinas. De acordo com o diretor de Recursos Humanos, Luiz Carlos França, as adaptações ocorreram em todas as áreas da empresa, desde o cuidado imediato com as pessoas do grupo de risco, como também no modelo de gestão. A tecnologia veio ainda como uma aliada.

“A comunicação tem dado sempre a prioridade de despertar a consciência dos nossos funcionários para a importância do cuidado individual que reflete no cuidado com todos. Desenvolvemos um aplicativo em que a pessoa faz uma auto avaliação antes de sair de casa, recebendo um selo de liberação de acesso para o dia. Com este aplicativo todas as pessoas refletem sobre sua saúde antes de sair de casa para o trabalho”.

Instalado no Polo Industrial de Camaçari, a Kordsa desenvolve tecnologias para o reforço de pneus de aeronaves, veículos a produção de fios e lonas de nylon e poliéster que dão sustentação e proteção aos pneus. Entre as medidas adotadas, a empresa apostou no canal de monitoramento e apoio à saúde com plantão 24 horas através de um aplicativo e pronto atendimento.

“Adotamos outro aplicativo, que ao chegar na fábrica, as pessoas ativam o bluetooth e se ocorrer qualquer queixa ou detecção de contaminação por alguma pessoa, temos a chance de saber quais as pessoas que estiveram com distância menor de 1,5 metros ou mais de 15 minutos de aproximação. Isso permite identificar que colaboradores devemos orientar para terem precauções adicionais e fazermos os devidos testes”, afirma França.

As pessoas também estão no centro das decisões da Veracel Celulose, no município de Eunápolis. Se a prioridade em cuidar da saúde física e mental dos funcinários já era grande antes, ficou ainda maior agora. “Nosso maior ativo são as pessoas. Por isso, as adaptações para trazer maior conforto, bem-estar e segurança aos colaboradores foram construídas de maneira genuína e rápida. A Veracel providenciou o ‘kit home conforto’, compostos por teclado, apoio de pé, cadeira, mouse e fone de ouvido, entregues na casa de cada colaborador que se encontra em home office”, destaca o diretor-presidente da empresa, Andreas Birmoser. A Veracel Celulose gera 3.191 empregos próprios e de terceiros (Foto: Ricardo Teles/divulgação) Com uma produção anual média de 1,1 milhão de toneladas de celulose, a empresa gera 3.191 empregos próprios e de terceiros. Com a pandemia, ofereceu também um complemento do vale-alimentação, correspondente ao valor das refeições que, antes eram feitas no restaurante da unidade. Há até happy hours e cafés da manhã virtuais. “Outro exemplo de cuidado quem trabalha na empresa está no Conte Comigo, canal de atendimento emocional por psicólogos para funcionários e dependentes. O formato foi adaptado para este momento, incluindo o atendimento aos pais de modo a promover maior bem-estar para as famílias dos colaboradores”.

Falar, desenvolver, escutar estão entre as práticas permanentes na gestão de pessoas na Jacobina Mineração — Yamana Gold, na cidade baiana de Jacobina. Para o vice-presidente de Operações da Yamana no Brasil e Argentina, Sandro Magalhães, o desafio para proteger os colaboradores e, ao mesmo tempo, manter as operações vem trazendo diversos aprendizados.

“O maior desafio foi proteger a saúde, o emprego de duas mil pessoas diretamente, de maneira responsável. A exposição a uma grande dificuldade une ainda mais as pessoas, demonstrando como somos fortes como equipe e como podemos nos reinventar. Fomos despertados para a necessidade do trabalho acontecer com maior sintonia entre todas as áreas”, opina Magalhães. As ações coletivas e individuais devem caminhar para o mesmo objetivo: eu cuido de você, você cuida de mim e nós nos cuidamos. “As empresas que sobreviverão serão aquelas que aprenderem a trabalhar na cultura colaborativa”, completa.

Em empresas como a Bomconsórcio, os treinamentos ganharam uma dimensão ainda mais importante ao serem transferidos para o ambiente online. É o que explica o diretor de Relações Institucionais, Fábio Gordilho.

“Aprendemos juntos e implantamos ciclo de palestras com convidados, tratando de questões, relacionadas à saúde, educação, motivação e entre outros temas. Iniciamos o ciclo de treinamento em modo virtual, tratando de competências específicas relacionadas às nossas atividade e competências transversais estruturantes tais como a PNL - Programação Neurolinguística fortalecendo conceitos importantes alinhados com nossos valores, propósito e felicidade”.

Nos encontros, tem até pizza. “Em uma das ações, fizemos um grande encontro com funcionários e familiares e oferecendo delivery de restaurantes (preferencialmente do bairro de cada colaborador) para realizar um grande momento de descontração e acolhimento”, conta Gordilho.

Legado Na Embracon Consórcios, 100% dos funcionários passaram a tratar de forma remota. ´É o que afirma a diretora de Recursos Humanos, Brenda Donato. Foi fundamental buscar uma forma de se manter o mais perto dos colaboradores e mostrar que mesmo fisicamente distantes, todos estavam juntos. “Implementamos diversos webinars com temas voltados ao bem-estar físico e psicológico deles. Além disso, o nosso presidente passou a fazer lives semanais com os funcionários com o objetivo de ouvi-los, alinhar as expectativas e trocar experiências”. Na Embracon Consórcios, 100% dos funcionários passaram a trabalhar de forma remota Mesmo após a pandemia, os funcinários atuarão por um tempo muito maior no trabalho remoto. “O ponto avaliado na GPTW que mais contribuiu neste processo está na esfera da credibilidade e do respeito. Os itens dessas duas dimensões medem muito a forma como nos relacionamos com a empresa através da nossa liderança. Hoje, percebo que os colaboradores se sentem respeitados pela empresa na figura dos nossos gestores e, com isso, construímos uma relação de credibilidade, tornando momentos de crise e dificuldade muito mais fáceis de serem superados”, avalia a diretora de RH da Embracon.

Para manter a conexão entre as pessoas, a transparência da empresa e a produtividade no trabalho remoto, a Simples Vet Tecnologia não abriu mão do planejamento, por mais rápido que tenha sido o movimento de adequação. A gestora de talentos, Cristiane Barreto, destaca que a antecipação é o caminho para a assertividade, sobretudo, durante a pandemia. O objetivo é que todos se sintam seguros sobre a empresa, o mercado e os rumos que a Simples Vet está tomando.

“Reunimos os gestores de cada área para realizar projeções a respeito dos cenários possíveis, com base em análises e dados externos e internos. Traçamos diferentes cenários de impacto. A partir disso, desenvolvemos um plano claro de ação, visando essencialmente à preservação de colaboradores, valorização de parceiros e atenção à saúde financeira da empresa”, diz.

Assegurar que desde o colaborador até o cliente possam se sentir seguros direcionou as estratégias do Wish Hotel da Bahia, em Salvador. “Inicialmente, o impacto no mercado de trabalho tanto no escritório corporativo quanto na ponta foi brutal, porque tivemos que fechar tantos os hotéis como o nosso escritório e rever todas as políticas de segurança. Contratamos a entidade médica mais respeitada do Brasil, que é o Sírio Libanês, para garantir que o ecossistema que o hotel habita se mantenha seguro”, ressalta o CEO da GJP Hotels & Resorts, Fabio Godinho. O Wish Hotel da Bahia contratou o hospital Sírio Libanês A pandemia testou ainda a efetividade das estratégias, como complementa Godinho. “A crise nos mostrou que os cinco pilares que nós temos na gestão de pessoas realmente funcionam tanto em momentos positivos, quanto em momentos negativos no mercado. Aí temos um time de líderes bem preparados, processos simples e estruturados, meritocracia, comunicação transparente, inovação e tecnologia”.

Pós-pandemia Manter os profissionais motivados é mais um dos obstáculos que as empresas devem reverter diante deste cenário. Para a diretora Administrativa e de Pessoas do Laboratório Sabin, Marly Vidal, a insegurança e ansiedade foi combatida com engajamento. “Conseguimos atuar contando com o melhor de cada um, mantendo nosso time unido e um ambiente ainda mais colaborativo, com pessoas sorridentes e dispostas a se dedicarem ao máximo com foco nos nossos clientes”.

Todos os procedimentos trouxeram segurança para o grupo e uma colaboração muito maior para o trabalho, resultado que pode ser analisado durante uma pesquisa de clima organizacional realizado durante a pandemia. “Aderimos ao Movimento Não Demita, não reduzimos o quadro nem os salários, o que é motivo de muito orgulho para nós, pois minimizamos qualquer impacto financeiro às nossas pessoas e familiares. O feedback que recebemos sobre o clima organizacional da empresa é o principal ponto. Isso nos trouxe com mais clareza a percepção dos colaboradores para que pudéssemos ajustar e repensar os próximos passos durante a pandemia e pós-pandemia”, argumenta Marly Vidal.

A antiga cultura de comando e controle não vai funcionar nesse novo normal e o olhar humanizado sobre suas equipes serão determinantes para a atuação e sucesso das empresas no pós-pandemia. Segundo a diretora de Recursos Humanos do Laboratório Natulab, Maria Cristina Bombonati, este é um momento propício para criar novos modelos e quebrar velhos tabus.  “Ainda não sabemos em que momento essa pandemia vai terminar ou mesmo quando teremos uma vacina eficaz contra a doença. Provavelmente não voltaremos aos antigos modelos dentro das organizações, pois o mundo mudou e as formas de se relacionar também. Definitivamente, muitos desses aprendizados serão aplicados à nova rotina”. O Laboratório Natulab criou o programa de Qualidade de Vida com ações voltadas para os colaboradores  A realidade imposta vai além de ofertar ao trabalhador boas condições no ambiente onde trabalha, mas ganha uma dimensão mais ampla, em que as empresas precisam tentar assegurar mais qualidade de vida. “Foi exatamente neste ponto que reforçamos nosso programa de Qualidade de Vida com ações como dicas de ergonomia em home office, vacinação da gripe antecipada e fortalecimento do canal de atendimento psicológico, por exemplo. Temos aí a oportunidade de se reinventar, reavaliar tudo que fazíamos e abrir espaço para novas ideias”.

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