O uso de novas tecnologias na construção civil é um desafio para as empresas de engenharia desde a Antiguidade, e agora está sendo impulsionado pela Indústria 4.0. A chamada Quarta Revolução Industrial é uma realidade que aos poucos chega às universidades.
Encontrar tablets, celulares de última geração e até drones nos cursos de Engenharia e Arquitetura está cada vez mais frequente. Na semana passada, o uso dessas ferramentas rendeu um Prêmio Ademi de Inovação Acadêmica para as estudantes de Engenharia Civil da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Roseneia Melo e Rafaela Rey.
Presidente da Ademi-BA, Claúdio Cunha, apresentando o evento (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
Elas apresentaram um projeto de Sistema Informatizado para Inspeção de Segurança apoiado por Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT). Na prática, a proposta é usar drones para inspecionar o canteiro de obras, corrigindo falhas na segurança de forma mais célere e evitando acidentes.
“Nosso objetivo é que esse seja um lugar seguro e com qualidade melhor para os trabalhadores, então, nós fazemos estudos de campos com esse sistema dando feedback positivo para as empresas. A gente verifica todo o canteiro de obras, o que permite feedback mais rápido e correção imediata para que o trabalhador não fique exposto ao risco”, contou Melo.
A ideia surgiu de uma experiência nos Estados Unidos, onde drones estavam sendo usados em uma obra para verificar se os operários estavam usando capacete. As estudantes resolveram ampliar o leque de utilidades e criaram um sistema que monitora todo o canteiro, e pode ser acessado até mesmo por tablets.
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Evento aconteceu no Palácio Rio Branco (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
Inovação
Segundo a professora de Engenharia Civil da Ufba, Dayane Costa, esse é apenas um dos exemplos de inovação desenvolvidos nas universidades. Ela destacou o uso da tecnologia BIM (Building Information Modeling) como um dos sistemas mais atuais do setor, além de equipamentos mobile e de aplicativos que ajudam na gestão da qualidade e da segurança executados por estudantes e aceitos por algumas construtoras.
“As empresas estão começando a adotar as tecnologias mais digitais e emergentes para melhorar a produtividade e eficiência nos seus canteiros. O BIM é uma forma de a gente sair do papel, daquele projeto em 2D, para um projeto em três dimensões, vinculado com custo e o cronograma da obra. A gente pode usar ele também para melhorar a logística e segurança. É algo que já vemos nas empresas locais”, disse.
Costa contou que o uso da tecnologia da indústria 4.0 está sendo inserida aos poucos nos cursos de engenharia e no mercado de trabalho de Salvador. Na Ufba, os estudantes da graduação começam a ter contato com essas inovações a partir do segundo semestre, com disciplinas obrigatórias e outras optativas. Na pós-graduações todas são fixas.
“Na comparação com a Europa e a América do Norte, a gente ainda está em uma fase inicial dessas tecnologias, mas, aos poucos, o setor está percebendo a necessidade de adotar esses sistemas. A gente já vê algumas empresas usando aplicativo e entregando tablets ou celulares para os seus gestores de obras e técnicos de segurança, para fazer essa coleta de informações”, contou.
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Concreta levou o prêmio de Lançamento Imobiliário do Ano (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
A professora orientou os projetos que venceram o Prêmio Ademi de Inovação Acadêmica, em 2019 e 2018. O diretor técnico da instituição, Alexandre Landim, destacou outros trabalhos que concorreram à premiação com o de uma estudante de arquitetura sobre uma cidade flutuante e outro que usava a tecnologia BIM para impulsionar a produtividade.
“O prêmio de inovação acadêmica tem como principal objetivo estimular pesquisa e desenvolvimento e, principalmente, se alinhar com a universidade. Foi um resgate. A volta das construtoras às universidades, e esse elo fomentou belos trabalhos. Outra função é mostrar que esses profissionais estão no caminho certo fazendo trabalhos interessantes e gerar oportunidade no mercado”, afirmou.
Ele contou que cada projeto foi apresentado em forma de artigo, com média de 20 páginas, e poderia ser feito individualmente ou em dupla. Os critérios para a escolha do vencedor levaram em consideração apresentação do conteúdo, com destaque para as referências e os estudos de casos, além da aplicabilidade da ideia, ou seja, a capacidade dela sair do papel e ser empregada na construção civil.
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MRV levou o prêmio Lançamento Imobiliário Habitação Econômica (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
Repercussão
A Ademi vai custear por um ano o projeto que venceu o prêmio e, em 2020, as duas estudantes devem apresentar os resultados em outro evento da instituição. Para o diretor da construtora Prima, Luciano Carneiro, que venceu o Prêmio de Empresa Revelação do Ano, essa foi uma evolução natural do processo de premiação.
“Essas gerações que estão representando as empresas na Ademi e realizando esses empreendimentos vieram do mundo acadêmico, então, naturalmente se percebe que a Ademi tem que trabalhar e estimular cada vez mais a área acadêmica, onde estão nossos futuros empreendedores”, afirmou Carneiro.
Construtora Prima levou o prêmio de Empresa Revelação do Ano (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
Já o diretor e superintendente no Nordeste da OR, empresa do Grupo Odebrecht, Eduardo Pedreira, acredita que as novas tecnologias representam ganho para todos. Ele levou dois prêmios, o de Empreendimento Imobiliário do Ano, com D’Azul, e a de Empresa do Ano.
“A tecnologia e a inovação são duas características através das quais a gente vai promover o desenvolvimento das pessoas. A inovação gera novas oportunidades de emprego e renda para as pessoas. Gera menos desperdício, e faz com que a cidade tenha novas tecnologias construtivas de design e materiais empregados e, principalmente, traz para a cidade uma infraestrutura mais bem qualificada”, disse.
OR, empresa do grupo Odebrecht, levou duas premiações (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
O secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), José Sérgio Guanabara, informou que a prefeitura também está procurando na academia novas ideias para a construção civil. Ele contou que desde 2017 o município tem convênio com algumas instituições para estágio nas áreas de engenharia e arquitetura e que cerca de 1 mil estudantes passaram pelo programa até o momento.
"Os engenheiros e arquitetos fazem estágio com a gente, inclusive, a remontagem de nosso cadastro técnico é feito pelos estudantes de arquitetura. Estamos buscando esse tipo de apoio das universidades, esse conhecimento científico, para desenvolver projetos na própria Sedur", disse.
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Secretário da Sedur, Sérgio Guanabara, destacou parceria da prefeitura com universidades (Foto: Betto Jr/ CORREIO) |
O Prêmio Ademi-BA está na 24ª edição e esse foi o segundo ano consecutivo em que houve a categoria acadêmica. A cerimônia aconteceu na quinta-feira (25), no Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, com sete empresas concorrendo em seis categorias.
Foram premiados: Gráfico Empreendimentos, com o Duo Residencial das Hortênsias, na categoria Empreendimento de Habitação Econômica; MRV, com o Solar de Vilas, na categoria Lançamento Imobiliário Habitação Econômica; Concreta, com 535 Barra, na categoria Lançamento Imobiliário; Prima, como a Empresa Revelação do Ano; e OR, como Empreendimento Imobiliário, com D’Azul, e o prêmio de Empresa do Ano.