Cursos de Engenharia apostam em inovação e novas tecnologias

Aos poucos, setor começa a aderir às novidades da Indústria 4.0

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  • Gil Santos

Publicado em 31 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

O uso de novas tecnologias na construção civil é um desafio para as empresas de engenharia desde a Antiguidade, e agora está sendo impulsionado pela Indústria 4.0. A chamada Quarta Revolução Industrial é uma realidade que aos poucos chega às universidades.

Encontrar tablets, celulares de última geração e até drones nos cursos de Engenharia e Arquitetura está cada vez mais frequente. Na semana passada, o uso dessas ferramentas rendeu um Prêmio Ademi de Inovação Acadêmica para as estudantes de Engenharia Civil da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Roseneia Melo e Rafaela Rey. Presidente da Ademi-BA, Claúdio Cunha, apresentando o evento (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Elas apresentaram um projeto de Sistema Informatizado para Inspeção de Segurança apoiado por Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT). Na prática, a proposta é usar drones para inspecionar o canteiro de obras, corrigindo falhas na segurança de forma mais célere e evitando acidentes.

“Nosso objetivo é que esse seja um lugar seguro e com qualidade melhor para os trabalhadores, então, nós fazemos estudos de campos com esse sistema dando feedback positivo para as empresas. A gente verifica todo o canteiro de obras, o que permite feedback mais rápido e correção imediata para que o trabalhador não fique exposto ao risco”, contou Melo.

A ideia surgiu de uma experiência nos Estados Unidos, onde drones estavam sendo usados em uma obra para verificar se os operários estavam usando capacete. As estudantes resolveram ampliar o leque de utilidades e criaram um sistema que monitora todo o canteiro, e pode ser acessado até mesmo por tablets. Evento aconteceu no Palácio Rio Branco (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Inovação Segundo a professora de Engenharia Civil da Ufba, Dayane Costa, esse é apenas um dos exemplos de inovação desenvolvidos nas universidades. Ela destacou o uso da tecnologia BIM (Building Information Modeling) como um dos sistemas mais atuais do setor, além de equipamentos mobile e de aplicativos que ajudam na gestão da qualidade e da segurança executados por estudantes e aceitos por algumas construtoras.

“As empresas estão começando a adotar as tecnologias mais digitais e emergentes para melhorar a produtividade e eficiência nos seus canteiros. O BIM é uma forma de a gente sair do papel, daquele projeto em 2D, para um projeto em três dimensões, vinculado com custo e o cronograma da obra. A gente pode usar ele também para melhorar a logística e segurança. É algo que já vemos nas empresas locais”, disse.

Costa contou que o uso da tecnologia da indústria 4.0 está sendo inserida aos poucos nos cursos de engenharia e no mercado de trabalho de Salvador. Na Ufba, os estudantes da graduação começam a ter contato com essas inovações a partir do segundo semestre, com disciplinas obrigatórias e outras optativas. Na pós-graduações todas são fixas.

“Na comparação com a Europa e a América do Norte, a gente ainda está em uma fase inicial dessas tecnologias, mas, aos poucos, o setor está percebendo a necessidade de adotar esses sistemas. A gente já vê algumas empresas usando aplicativo e entregando tablets ou celulares para os seus gestores de obras e técnicos de segurança, para fazer essa coleta de informações”, contou. Concreta levou o prêmio de Lançamento Imobiliário do Ano (Foto: Betto Jr/ CORREIO) A professora orientou os projetos que venceram o Prêmio Ademi de Inovação Acadêmica, em 2019 e 2018. O diretor técnico da instituição, Alexandre Landim, destacou outros trabalhos que concorreram à premiação com o de uma estudante de arquitetura sobre uma cidade flutuante e outro que usava a tecnologia BIM para impulsionar a produtividade.

“O prêmio de inovação acadêmica tem como principal objetivo estimular pesquisa e desenvolvimento e, principalmente, se alinhar com a universidade. Foi um resgate. A volta das construtoras às universidades, e esse elo fomentou belos trabalhos. Outra função é mostrar que esses profissionais estão no caminho certo fazendo trabalhos interessantes e gerar oportunidade no mercado”, afirmou.

Ele contou que cada projeto foi apresentado em forma de artigo, com média de 20 páginas, e poderia ser feito individualmente ou em dupla. Os critérios para a escolha do vencedor levaram em consideração apresentação do conteúdo, com destaque para as referências e os estudos de casos, além da aplicabilidade da ideia, ou seja, a capacidade dela sair do papel e ser empregada na construção civil. MRV levou o prêmio Lançamento Imobiliário Habitação Econômica (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Repercussão A Ademi vai custear por um ano o projeto que venceu o prêmio e, em 2020, as duas estudantes devem apresentar os resultados em outro evento da instituição. Para o diretor da construtora Prima, Luciano Carneiro, que venceu o Prêmio de Empresa Revelação do Ano, essa foi uma evolução natural do processo de premiação.

“Essas gerações que estão representando as empresas na Ademi e realizando esses empreendimentos vieram do mundo acadêmico, então, naturalmente se percebe que a Ademi tem que trabalhar e estimular cada vez mais a área acadêmica, onde estão nossos futuros empreendedores”, afirmou Carneiro.   Construtora Prima levou o prêmio de Empresa Revelação do Ano (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Já o diretor e superintendente no Nordeste da OR, empresa do Grupo Odebrecht, Eduardo Pedreira, acredita que as novas tecnologias representam ganho para todos. Ele levou dois prêmios, o de Empreendimento Imobiliário do Ano, com D’Azul, e a de Empresa do Ano.

“A tecnologia e a inovação são duas características através das quais a gente vai promover o desenvolvimento das pessoas. A inovação gera novas oportunidades de emprego e renda para as pessoas. Gera menos desperdício, e faz com que a cidade tenha novas tecnologias construtivas de design e materiais empregados e, principalmente, traz para a cidade uma infraestrutura mais bem qualificada”, disse. OR, empresa do grupo Odebrecht, levou duas premiações (Foto: Betto Jr/ CORREIO) O secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), José Sérgio Guanabara, informou que a prefeitura também está procurando na academia novas ideias para a construção civil. Ele contou que desde 2017 o município tem convênio com algumas instituições para estágio nas áreas de engenharia e arquitetura e que cerca de 1 mil estudantes passaram pelo programa até o momento.

"Os engenheiros e arquitetos fazem estágio com a gente, inclusive, a remontagem de nosso cadastro técnico é feito pelos estudantes de arquitetura. Estamos buscando esse tipo de apoio das universidades, esse conhecimento científico, para desenvolver projetos na própria Sedur", disse. Secretário da Sedur, Sérgio Guanabara, destacou parceria da prefeitura com universidades (Foto: Betto Jr/ CORREIO) O Prêmio Ademi-BA está na 24ª edição e esse foi o segundo ano consecutivo em que houve a categoria acadêmica. A cerimônia aconteceu na quinta-feira (25), no Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, com sete empresas concorrendo em seis categorias.

Foram premiados: Gráfico Empreendimentos, com o Duo Residencial das Hortênsias, na categoria Empreendimento de Habitação Econômica; MRV, com o Solar de Vilas, na categoria Lançamento Imobiliário Habitação Econômica; Concreta, com 535 Barra, na categoria Lançamento Imobiliário; Prima, como a Empresa Revelação do Ano; e OR, como Empreendimento Imobiliário, com D’Azul, e o prêmio de Empresa do Ano.