Damares vê 'milagre da cloroquina' no PI, mas médico nega eficácia da droga

"Acho que fui mal interpretado. Eu não disse que a cloroquina, a hidroxicloroquina servisse"

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  • Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2020 às 10:42

- Atualizado há um ano

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A ministra Damares Alves viajou ao Piauí e voltou relatando um "milagre da cloroquina" com protocolo usando o medicamento no Hospital Regional Tibério Nunes, na cidade de Floriano, a cerca de 250 km da capital Teresina. Porém o diretor técnico do local, o médico Justino Moreira, afirmou ao Uol que a droga não tem mostrado eficácia. Ele é o responsável pela aplicação do protocolo, que continua usando o medicamento mesmo sem resultados comprovados. "Se (o paciente) não tiver usado (a cloroquina) ainda, a gente usa. Se tiver, a gente para", explica o médico.

Uma informação de que a cloroquina teria ajudado a esvaziar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital essa semana levou entusiasmo e fez muita informação sobre o local circular. Isso levou Damares, ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, até a cidade na quinta (14). Ela postou um vídeo chamando de milagrosa a estratégia usada ali.

"A gente veio ver o milagre do uso da cloroquina associado a outros medicamentos. E as pessoas estão sendo salvas aqui em Floriano. Extraordinário! Estou levando esse protocolo para o Brasil inteiro", afirma a ministra nas imagens. 

Moreira crê que uma fala sua sobre o esvaziamento da UTI foi mal interpretada e diz que ele não fez defesa da cloroquina. "Acho que fui mal interpretado. Eu não disse que a cloroquina, a hidroxicloroquina servisse. A gente até usa, em nível de atenção básica, numa fase precoce aqui no município. Com 48 horas de sintomas, o município usa cloroquina, azitromicina. Porém, isso não tem dado resultados, não se enxergam ainda resultados", explica.

Ele explica a tentativa que tem sido feita. "Aqui, o protocolo clínico até colocava cloroquina na fase dois, mas ela não teve nenhum efeito benéfico. Então se antecipou para fazer uso dela no início de sintomas na esperança realmente que ela ajudasse a pessoa a modular uma resposta inflamatória".

Atualmente, só pacientes que chegam em casos já mais avançados faem um uso conjunto de corticóides com a cloroquina. "O que realmente a gente tem visto ter feito é o corticoide injetável; isso quando o paciente não evolui com melhora na fase um. O certo era fazer o corticóide na fase dois, e a cloroquina fazer de um até sete dias", acredita.

Nesta fase dois, o paciente já sente falta de ar, geralmente com o pulmão já inflamado. Machado diz que pelo menos 15 casos foram tratados com protocolo de anti-inflamatórios no hospital e nenhum deles precisou de UTI.

"A gente pegou paciente com 75% de comprometimento, já, digamos, na porta da UTI. A partir do momento que a gente aplicou esse protocolo, eles passaram a não precisar mais de oxigênio, não precisar de UTI, e zerou morte. A resposta clínica foi muito rápida", afirma.

O protocolo usado no hospital veio de uma médica local, Mariana Bucar, que atuou na pandemia na Espanha. "Eles acertaram esse protocolo quase no final da pandemia deles, e reduziram a mortalidade de de 20% para em torno de 1% a 2%", diz. A médica fez a sugestão porque tem familiares na cidade e o hospital resolveu fazer o teste.