De erva-daninha a ao prato da salada, conheça as Plantas Alimentícias Não Convencionais 

Descubra o que são as PANCs 

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  • Do Estúdio

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock

Na lista de compras de qualquer consumidor de saladas é fácil encontrar itens como alface, couve-flor, agrião e rúcula mas, nos últimos tempos, um grupo cada vez maior de pessoas vem utilizando folhosos que muita gente desconhece. Nomes como ora-pro-nobis, bertalha, beldroega e língua-de-vaca vêm diversificando o sabor das refeições de quem é adepto da alimentação saudável. Essas espécies tão diferentes para os mais jovens são conhecidas como PANCs, abreviação de Plantas Alimentícias Não Convencionais. Ricas em nutrientes e de fácil cultivo, ao contrário do que se pensa, PANCs já foram muito populares no passado.  

A empresária Vera Martins, proprietária da rede Viva o Grão, referência na difusão da alimentação natural em Salvador desde 1974, viu um crescimento surpreendente na busca pelas PANCs nos últimos anos. “É um movimento que vem crescendo e surpreendendo pois, antes da pandemia, nossos clientes eram um pouco resistentes aos pratos que levavam PANCs, mas nos últimos meses são os primeiros a esgotar no restaurante. As pessoas também têm buscado as folhosas para levar para casa e até cultivar”, relata.  

Natural de Santanópolis, no interior do estado, Vera já conhecia o bredo e a língua-de-vaca da tradição familiar, mas assume que desde veio viver em Salvador ainda na década de 1970, viu o uso dessas folhas se tornar cada vez mais raro na alimentação. “É muito comum falar das PANCs e ouvir as pessoas citarem que os pais e avós costumavam usar essas plantas para alimentação no passado, mas com o tempo houve uma padronização de um grupo de folhas para confecção dos pratos e a tradição se perdeu”, explica.  

Elo Perdido   O fim da popularidade da PANCs nas mesas brasileiras ocorreu exatamente durante a década de 1970, período marcado por uma revolução agrícola mundial, é o que aponta o professor José Geraldo Aquino de Assis, do Instituto de Biologia da UFBA. Segundo Geraldo, no período em questão, o grande comércio uniformizou o consumo de hortaliças em torno de um pequeno leque de plantas que inclui os nomes citados no início da matéria.   

Geraldo indica, porém, que na Europa as PANCs são usadas há séculos com destaque em pratos tradicionais, a exemplo da sopa de beldroega, muito popular em Portugal. “O que vimos no Brasil foi a perda da diversidade agrobiológica e muitas dessas plantas foram, no imaginário popular, rebaixadas ao status de ‘mato’ ou ‘erva daninha’, sendo que são extremamente nutritivas e de fácil cultivo”, explica.  

Vantagens   O principal diferencial das PANCs segundo Geraldo é provavelmente o alto valor nutricional, ricas em fibras, antioxidantes e proteínas, apresentando concentrações superiores a alimentos que estamos habituados a consumir. Além da diversidade de sabores que harmonizam com os mais variados pratos do dia a dia. “As PANCs também são excelentes para os produtores, pois elas têm a possibilidade de se desenvolver em terrenos que não são destinados ao cultivo das hortaliças tradicionais”, aponta. “Isso torna as PANCs como aliadas do meio ambiente, uma vez que elas não consomem a mesma quantidade de recursos para serem cultivadas como outras plantas”, completa.  

O grande desafio, porém, segundo o pesquisador, é a popularização das espécies, uma vez que em supermercados e mesmo em feiras de agricultores não é comum encontrar as espécies. “Hoje estamos temos um grupo de estudos na UFBA que está desenvolvendo um banco de dados que concentra informações como produtores, locais de comercialização e até mesmo receitas. Tudo no intuito de facilitar o acesso da população às plantas”, conclui.   

Sou Verão  Mais dicas e informações sobre as PANCs podem ser conferidas em um vídeo especial no Instagram do CORREIO: @correio24horas. A apresentadora Mayara Padrão conversou com a culinarista Vera Martins, da rede Viva o Grão, sobre alimentação viva. Nos meses de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, o jornal realiza mais uma edição do projeto Sou Verão, que traz conteúdos esportivos e de proteção a saúde, com todo clima da estação mais esperada pelos baianos. 

Conheça algumas PANCs  Ora-pro-nobis - Muito utilizada na finalizada de cerca viva ela é uma ótima fonte de fibras, proteínas e vitaminas. Além de ajudar no funcionamento intestinal e fortalecer o sistema imunológico. A planta possui uma alta concentração de proteína e suas folhas e o caule podem ser consumidos em saladas, refogados, omeletes, massas e sucos!  

Bertalha - A bertalha é uma trepadeira popularmente referida como espinafre-indiano, e apresenta diversas propriedades medicinais e benefícios à saúde. Suas folhas são ricas em nutrientes, como cálcio, ferro e vitaminas A, B, B2, B5 e C, e podem ser refogadas e utilizadas na preparação de tortas, sopas e saladas.  

Beldroega - A beldroega é uma das PANCs mais comuns. Suculenta e rasteira, a planta apresenta pequenas flores amarelas e pode ser consumida cozida ou crua.  

Língua de Vaca – É uma folhosa rica em Vitamina C, por isso tem propriedade antiescorbútica e serve para tratar bronquite e aumentar o apetite.   

Azedinha - A azedinha apresenta um sabor ácido característico e pode ser consumida tanto crua quanto cozida, em sucos, saladas, refogados, massas e sopas. Altamente nutritiva, a planta é fácil de ser cultivada mas não deve ser consumida em grandes quantidades, pois possui uma alta concentração de ácido oxálico.  

Capeba - De sabor picante, a capeba é parente da pimenta do reino, é muito utilizada para prevenir e combater infecções urinárias, assim como para atuar contra dores musculares, vermes e a anemia. Sua principal forma de consumo é por meio de chás ou saladas de folhas cozidas.  

O Sou Verão, projeto realizado pelo Correio, tem o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.