Décimo terceiro: salário extra vai injetar R$ 9 bilhões na economia baiana

De acordo com o Dieese, 4,4 milhões de pessoas vão receber o provento no estado

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 21 de novembro de 2019 às 07:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

A contagem regressiva já pode começar. Faltam apenas dez dias para que a primeira parcela do 13º salário caia na conta. O pagamento da primeira parcela do benefício acontece no próximo dia 30. No total, o salário extra vai injetar mais de R$ 9 bilhões na economia da Bahia. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômico (Dieese), que também estima que 4,4 milhões de pessoas vão receber o provento no estado.

Ainda segundo o Dieese, na Bahia, o valor médio do salário extra é de R$ 1.884. A segunda parcela do benefício deve ser paga até o dia 20 de dezembro. Com a injeção desse recurso extra na economia baiana, o pagamento da primeira parcela acaba se tornando o início de um aquecimento que vai alavancando as vendas até o período natalino. 

E tem consumidor que não quis nem esperar o dinheiro chegar. “A gente tem cartão de crédito para já ir antecipando as compras, eu já gastei um bom pedaço do que eu ainda nem recebi”, conta a auxiliar administrativa Ivone Lima, 42. Para ela, o 13º sempre acaba se transformando em compras de Natal e de presentes, para si e para a família. “Esse ano também resolvi investir na casa, comprei algumas coisas que estava precisando”, revela.  

Crédito renovado Apesar dos consumidores que usam o valor antecipadamente, o setor não sente esse aquecimento de uma vez só. “Esse é um processo de ascensão que acontece paulatinamente e que começa nesse período. A liberação dessa primeira parcela é ótima para que o consumidor possa, não só ter condições de comprar, mas de resgatar pendências de crédito para que possa comprar novamente no futuro”, avalia Paulo Mota, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia, que espera um crescimento de pelo menos 5% nas vendas em relação ao ano anterior. 

Os shoppings, por sua vez, esperam um crescimento ainda maior. A expectativa é que as vendas cresçam pelo menos 10 ou 11% até o final do ano.“Esse é um efeito que a gente não sente imediatamente com a liberação dessa primeira parcela. Ela acaba servindo para que as pessoas paguem dívidas e se liberem para consumir de novo, mais tranquilamente”, comenta Edson Piaggio, coordenador da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) para a Bahia.Edson acredita que a liberação do décimo terceiro se alia a outros fatores para começar a aquecer o mercado: juros mais baixos para novas compras e um aumento discreto dos empregos formais.“A parcela e esses outros aspectos abrem um período com o clima mais favorável de compras, que inspira mais confiança nos consumidores”, opina. E o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Carlos Andrade, engrossa o coro. Para ele, a injeção do dinheiro favorece a melhor época do ano “Esse dinheiro pulverizado ajuda bastante. Dezembro é o melhor mês para a gente. Além do 13º, a liberação do FGTS também ajuda a aumentar o conforto do consumidor a comprar”, avalia.

Economia Esse início de aquecimento do setor de compras também se traduz em números. Os cerca de R$ 9 bilhões que serão injetados na economia baiana representam, ainda segundo o Dieese, aproximadamente 4,13% do total do Brasil e 27,2% da região Nordeste. Os bilhões estão divididos entre trabalhadores de diversos setores: os empregados do mercado formal, celetistas ou estatutários representam 53,6% das pessoas que receberão o benefício no estado, enquanto pensionistas e aposentados do INSS equivalem a 46,4%. O emprego doméstico com carteira assinada responde por 1,6%.  (Ilustração: Arte/CORREIO) Em relação aos valores que cada segmento receberá, nota-se a seguinte distribuição: os empregados formalizados ficam com 67% (R$ 6 bilhões) e os beneficiários do INSS com 25,5% (R$ 2,3 bilhões), enquanto aos aposentados e pensionistas do Regime Próprio do estado caberão 6,6% (R$ 598,9 milhões). Somados, os valores representam 3,1% do PIB estadual.   

Dinheiro na mão Entre os consumidores que aguardam para receber o benefício, os usos são diversos. A aposentada Lucene Ramos conta que, para ela, o dinheiro acaba guardado e usado no futuro.“Eu sempre fui muito bem programada financeiramente, vivi meus 70 anos sem nunca dever para ninguém. Então, quando entra esse dinheiro extra é ótimo, mas eu não saio usando”, explica. A aposentada Lucene Ramos vai guardar o salário extra (Foto: Marina Silva/CORREIO) A aposentada diz que não fica esperando pelo dinheiro para um gasto específico, mas conta alguns gastos que costuma realizar. “Faço pelo menos uma viagem internacional por ano”, comemora Lucene. A possibilidade de guardar o dinheiro para o futuro, no entanto, não é a realidade da maioria. 

Também aposentado, Manoel Guedes, 69, está do outro lado da moeda. “Pra mim, é um dinheiro para pagar dívidas. Então, já chega com destino certo”, diz ele que usa o dinheiro para ir pagando débitos antigos. “São contas que vão se acumulando, eu nem tenho cartão de crédito, mas sobra o da mulher para gente pagar”, brinca. Manoel Guedes, também aposentado, vai usar o benefício para quitar as dívidas (Foto: Marina Silva) Independente dos usos, quem vende já começou a sentir uma diferença. “Aqui as vendas já começaram a crescer. Tem gente que vem até para comprar a decoração de natal e uma lembrança para a família”, conta o comerciante Márcio Souza, 37, que em sua banca já sentiu um incremento de pelo menos 20% no movimento de vendas. “Eu espero que cresça ainda mais. Se é para ser otimista, que a gente chegue a 200, 300% até o fim do ano”, sonha o comerciante.

Dados nacionais O décimo terceiro salário vai acrescentar, até dezembro, R$ 214,6 bilhões na economia brasileira, aponta o Dieese. Aproximadamente 81 milhões de brasileiros serão beneficiados com rendimento adicional, em média, de R$ 2.451.

Têm direito a receber o salário extra os trabalhadores do mercado formal, inclusive empregados domésticos, os beneficiários da Previdência Social e os aposentados e beneficiários de pensão da União e dos estados e municípios. Em sua estimativa, o Dieese não leva em conta os trabalhadores autônomos, assalariados sem carteira ou quem recebe algum tipo de abono de fim de ano.

Do total estimado de R$ 214 bilhões, cerca de R$ 147 bilhões (68% do total), vão ser destinados aos empregados formalizados, incluindo os trabalhadores domésticos. Aposentados e pensionistas vão receber R$ 67,7 bilhões (32%). 

Entre os 81 milhões de brasileiros que devem receber o décimo terceiro salário, 49 milhões (61% do total) são trabalhadores no mercado formal. Os demais (39%) são aposentados ou pensionistas da Previdência, aposentados e beneficiários de pensão da União (Regime Próprio), de estados e municípios. Segundo os dados do Dieese, o volume de pessoas do mercado formal que receberão o décimo terceiro salário este ano aumentou em torno de 1% na comparação com os números do ano passado. 

O maior valor médio para o décimo terceiro salário deverá ser pago no Distrito Federal (R$ 4.558) e os menores, no Maranhão e no Piauí (R$ 1.651 e R$ 1.647, respectivamente). De acordo com o Dieese, as médias não incluem o pessoal aposentado pelo Regime Próprio dos estados e dos municípios.

Cuidado na hora de gastar Como os usos são diversos, na hora de gastar o dinheiro extra, alguns cuidados são necessários. Sem saber, a doméstica Elionai Santos, 37, vai colocar em prática uma das dicas do economista e educador financeiro, Edísio Freire. “Geralmente uso para presentes e compras de material para a minha filha. Mas, esse ano vou reformar a casa, algo que sem o dinheiro do décimo, eu não conseguiria”, conta Elionai. Ao CORREIO, o especialista listou cinco dicas para usar melhor o benefício.Prefira pagar as dívidas: se a pessoa tem dívidas, sem dúvidas a melhor opção é usar o dinheiro para quitá-las, até para que a pessoa possa voltar a consumir de novo; Use com consciência: para quem não tem dívidas, dinheiro é pra gastar, mas sempre com consciência e se programando para não acabar gerando novos débitos; Fim de ano confortável: o dinheiro do 13º salário acaba sendo um bom recurso para pagar os custos que geralmente temos com as festas: ceia, presentes e até viagens. É bom dividir para poder passar um fim de ano confortável; Defina prioridades e lembre de 2020: o início do ano também é um período de muitos gastos extras. O benefício também ajuda a fazer compras maiores como a troca de um móvel em casa, por exemplo. Basta definir as prioridades; Guarde uma parte: essa é uma dica que, geralmente, as pessoas não seguem, mas que faz bastante diferença. É bom criar esse patrimônio, guardar um pouco de dinheiro e investir, nem que seja na poupança.   *Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier