Demanda por alimentos deve crescer 70% até 2050

Necessidade de mais alimentos seria impulsionada, principalmente, pelo aumento da população dos sete maiores países emergentes

Publicado em 24 de julho de 2018 às 16:50

- Atualizado há um ano

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Os números são, no mínimo, desafiadores. A demanda por alimentos deve crescer 70% até 2050, segundo especialistas presentes no Global Agribusiness Fórum. A necessidade de mais alimentos seria impulsionada, principalmente, pelo aumento da população nos países do chamado E7, os sete maiores países emergentes: China, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, México e Turquia. Estes países terão uma população urbana estimada em 6,3 bilhões de pessoas e estarão entre as 12 maiores economias do mundo. As projeções são da Pricewaterhouse Coopers, empresa de consultoria que tem publicado estudos sobre a economia mundial.

A demanda crescente por alimentos vem dominando os debates e palestras do fórum internacional. Realizado em São Paulo, o evento está reunindo no Brasil especialistas, autoridades, representantes do setor agropecuário, ministros de estado e embaixadores de vários países da Ásia, África, Oceania, Oriente Médio e América Latina. (Foto: Divulgação) O Brasil e outros países das Américas se destacam cada vez mais neste cenário, por possuírem as maiores áreas agricultáveis do planeta. Neste sentido, os debates se multiplicam, mas convergem para um mesmo desafio: aumentar a eficiência da agropecuária para produzir mais, gastando menos recursos naturais e aproveitando a tecnologia disponível no mercado.

Selo de sustentabilidade para o agro brasileiro

De olho nos mercados externos, o Ministério da Agricultura lançou durante o fórum, o selo de sustentabilidade do agronegócio. O selo “Brazil Agro: Good for Nature”, uma espécie de certificação sustentável para os produtos agrícolas brasileiros no mercado internacional.

Segundo o MAPA, os primeiros produtos com o selo deverão chegar ao mercado em outubro. Através do código de barras, o consumidor, de qualquer país, poderá saber mais sobre a origem e rastreabilidade do produto brasileiro que tiver o selo.  A criação do selo foi realizada com base em dados da Embrapa, referendados pela NASA, que mostram que apenas 7,8% da área do país são usados pela agricultura, e que apenas 8% são ocupados pela pecuária.

O MAPA garante ainda que 66,3% da vegetação nativa brasileira está preservada e que 25,6% da área do pais está conservada dentro das fazendas, o equivalente a 218 milhões de hectares, ou aproximadamente 50% da área total dos imóveis rurais.  “O Brasil cuida do seu meio ambiente, logo ninguém tem o direito de criticar o agro brasileiro neste aspecto”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a abertura do fórum.

Mais educação e comunicação O Global Fórum é realizado pela Sociedade Rural Brasileira, representante do setor agropecuário no Brasil, em conjunto com a Associação de Produtores de Milho, a Associação de Criadores de Zebu, a Associação Brasileira de Produtores de Frutas, a União Nacional do Etanol de Milho e a DATAGRO, empresa de consultoria agrícola.

Este ano, o tema principal é “A Ciência do campo a serviço do planeta: A ação é agora”. O objetivo do fórum é buscar soluções para o desenvolvimento socioeconômico da humanidade e a preservação do meio ambiente. Nos dois dias de palestras e painéis, os temas se multiplicam.  Desde o incentivo a expansão de políticas públicas modernas e eficazes, como a RenovaBio, voltada para produção de biocombustíveis, até a discussão sobre a necessidade de avanços na agenda regulatória do agronegócio brasileiro. 

De acordo com especialistas, nos últimos anos, a agenda avançou em alguns pontos, como, por exemplo, no estabelecimento de um Novo Código Florestal, mas estagnou em outros assuntos, como a aquisição de terras por empresas de capital estrangeiro. “Não existe hoje uma orientação clara sobre o assunto” afirma o advogado Renato Buranello.

Para o advogado, a burocracia fiscal atrapalha o setor produtivo e gera insegurança jurídica: “É preciso considerar o conceito econômico e não apenas o jurídico. O agronegócio se modernizou, se profissionalizou e o direito precisa acompanhar isso. A reforma tributária também é urgente”.

Já o executivo indiano Rajan Gajaria defendeu que é fundamental investir em comunicação e educação para criar confiança no consumidor sobre o uso da ciência aplicada à agricultura, especialmente sobre as tecnologias desenvolvidas para proteção de cultivos. Gajaria é vice-presidente Global da Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont. "Informar, comunicar, educar é o caminho para se quebrar o medo do novo consumidor”. 

Gajaria disse que o diálogo entre governos, setor privado, produtores e ONGs é imprescindível para esclarecer os benefícios dos avanços tecnológicos e promover a integração mundial, além de ampliar o acesso dos pequenos produtores as novas tecnologias. 

Os problemas de infraestrutura continuam a preocupar o setor. A precária conectividade nas áreas rurais impede o uso da tecnologia e de todo o potencial dos equipamentos já disponíveis no país. 

 “Hoje temos máquinas com 12 computadores, com 300 mil linhas de programação e que oferecem mais de 300 informações em segundos. São grandes computadores e também pulverizadores. Uma tecnologia revolucionária desde que tenha uma boa conexão com a internet”, disse Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.

Estevão reafirma que a conectividade no Brasil não é suficiente e não acompanha a revolução tecnológica que acontece no campo. Segundo ele, empresas estão trabalhando em novos recursos por meio de rádio que funcionam da porteira para dentro. Já a conectividade da porteira para fora depende de políticas públicas.

Nova revolução verde

Um dos palestrantes do Global Fórum Agribusiness, o baiano João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), destacou as tendências da nova revolução verde. É assim que está sendo chamada a nova fase pela qual passa a agropecuária mundial, voltada para um modelo sustentável, que leva em consideração também os indivíduos e o meio ambiente. João Martins destaca das tendências da nova revoluação verde (Foto: Divulgação) Segundo os analistas, a primeira revolução verde da história teria acontecido depois da Segunda Guerra Mundial, quando o agronegócio começou a ganhar destaque na economia do planeta, em um cenário antes ocupado exclusivamente pela industrialização. 

No Brasil, a revolução verde teve início na década de 70. De acordo com os especialistas, começou a partir de 1977 com a criação de órgãos como a Embrapa. A modernização do processo produtivo e a aplicação de tecnologia permitiram que o país deixasse de ser apenas um importador, para se tornar uma potência na produção mundial de alimentos. 

Durante os últimos 40 anos, o Brasil aumentou a produção em mais de 200%. De 70 milhões de toneladas de alimentos passou a produzir mais de 238 milhões de toneladas.

João Martins defendeu a tecnologia como aliada da produtividade e o uso de novos conceitos para os agentes do setor. Para o presidente da CNA, o produtor rural é acima de tudo um empresário rural, com uma preocupação crescente em usar tecnologia de ponta na produção. 

“Estamos vivendo uma nova revolução verde. Esta revolução verde não passa exclusivamente pela adoção de tecnologia ou de equipamentos novos. Passa por novas tecnologias de informação, em que as pessoas vão ter que ter muito conhecimento e aprendizado. O que vai acontecer nos próximos anos? Nós vamos ter outra revolução, na qual o Brasil vai ser não mais coadjuvante, mas participante ativo”, defendeu Martins. 

A educação e a capacitação são apontadas como ferramentas essenciais para acompanhar os novos tempos. ”O mundo está esperando que o Brasil detenha a maior fatia de fornecimento de alimentos do mundo. Nós só teremos, se tivermos capacitado o produtor brasileiro com mais tecnologia. Essa tecnologia baseada no acesso ao processamento de informação vai ser essencialmente necessária. Não só internamente, fazendo com que o brasileiro consuma produtos de qualidade, mas também para continuarmos competitivos juntos aos grandes produtores do mundo”.

“Nós temos de cada dia mais inovar na agropecuária. A agropecuária brasileira é de ponta, inovadora, mas tudo o que nos pensarmos que existe hoje, amanhã será diferente. Este é um desafio que o produtor tem que ter. Tudo o que ele achar que não é possível, com certeza, no futuro bem próximo será possível. No mundo em que vivemos hoje, a única certeza é a mudança”, afirmou Martins. 

A Confederação cobra ações governamentais para resolver os problemas de infraestrutura e logística que emperram o setor.

”Eu sou da Bahia. E lá os produtores rurais estão fazendo estradas. Nós estamos fazendo estradas no Oeste. Mas o produtor não pode fazer banda larga. Nós vamos ter necessidade de uso de satélite. As nossas autoridades ainda não entenderam que temos limitações. Tem sido colocado nas costas do produtor rural sustentar a economia do país, mas nós temos limitações. As nossas limitações vão até onde começam as obrigações do governo”.