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Wendel de Novais
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 05:01
- Atualizado há 2 anos
Pensar e criar games do início ao fim, trabalhando com programação, roteiro, edição de som, game design e até arte. Uma atividade que, para muitos baianos, é desconhecida, mas tem seu espaço no setor econômico da Bahia.>
Seja como programador, gestor de projetos ou especialista em artes gráficas, há um mercado de desenvolvimento de games por aqui que pode render salário mensal de R$ 5 mil, como conta Leonardo Silva, diretor-sócio da Mantra, produtora soteropolitana que trabalha no mercado.>
Ele afirma que as remunerações variam bastante, mas dá uma média do que é pago no nosso cenário. "Depende da área, claro. Porém, um game designer e um programador têm atualmente uma faixa salarial entre R$ 3 e R$ 5 mil, falando da formalização do nosso mercado de produtoras baianas. Só que isso depende de para qual mercado o profissional está trabalhando, já que ele pode prestar serviço aqui ou para o exterior", explica Silva, dizendo que as cifras podem ser maiores. >
É justamente o que aponta Sócrates Santana, coordenador do ProgramAÊ, da Secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti). Ele diz que não há um número certificado de empresas do tipo atuando no estado, mas que as remunerações concedidas por elas podem chegar até R$ 10 mil, dependendo do profissional.>
"O pessoal daqui da Bahia empreende literalmente e ainda sobrevive, em alguma medida, de editais que são abertos para que eles submetam trabalhos. [...] Dentro dessa área, na parte de software, o salário vai variar de R$ 5 a R$ 10 mil aqui, a depender de cada desenvolvedor. No mercado brasileiro, esse número sobe e varia entre R$ 11 e R$ 16 mil", afirma ele.>
Área de atuação Ainda de acordo com o coordenador, a diversidade de conhecimento é importante para quem quer conseguir atuar em um mercado ainda enxuto, onde os estúdios de desenvolvimento de games não podem contar com um número extenso de profissionais.>
Sócrates Santana pontua que, dentro desses ambientes, os componentes cumprem mais de uma função. "Você tem, dentro do desenvolvimento de games, várias habilidades a serem usadas como redator, programador, responsável pela arte e outras funções. Pode variar bastante e, como nos estúdios um desenvolvedor cumpre duas, três ou mais funções, é fundamental ter conhecimento em várias etapas da indústria de games", aponta.>
O mercado baiano de games não é extenso. Estima-se que existam cerca de 15 empresas do setor no estado, de acordo com fontes ouvidas pelas reportagem. Danilo Dias, desenvolvedor do DNA-D Estúdio e professor do Curso de Jogos Digitais da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), afirma que, apesar do pequeno número de empresas, a atividade não é nova por aqui.>
"Na realidade, tem uma galera trabalhando por aqui há um bom tempo. Eu, particularmente, trabalho desde 2009 com isso. O mercado vem se firmando, com empresas que empreendem e prestam serviços até para o setor privado internacional e também editais públicos direcionados aos games. Temos alguns exemplos de empresas que atuam e geram renda a partir disso", relata o professor. >
Curso gratuito Para quem também quer ingressar no mercado e precisa se preparar, uma boa notícia: a Escola Criar Jogos, projeto que tem curso de formação em desenvolvimento de games, está com inscrições abertas até o fim de setembro na Bahia. Ao todo, são 240 vagas - 120 em Camaçari e 120 em São Gonçalo dos Campos - gratuitas nos polos presenciais da instituição.>
O curso, que tem duração de cinco meses e oito módulos, é direcionado para jovens entre 12 e 29 anos do ensino público. A Criar Jogos é a primeira a abrir vagas totalmente gratuitas para formar desenvolvedores de games, já que é viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura.>
Diretora da Burburinho Cultural, produtora que idealizou o projeto, Priscila Seixas explica que a escolha do público-alvo do curso tem como objetivo viabilizar oportunidades de trabalho para os jovens.>
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"A gente tem uma linguagem e uma proposta pedagógica com foco nesse público. Estamos voltados para geração de renda e inserção desses jovens no mercado tecnológico. Apesar da situação de desemprego no Brasil, existem vagas para pessoas que possam trabalhar com tecnologia. Com 14 anos, por exemplo, é possível trabalhar como menor aprendiz. Então, temos a intenção de aproximar os estudantes de um trabalho", explica a diretora. >
Lynn Alves, coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e de projetos de desenvolvimento de jogos digitais na área educativa, avalia como necessária a criação de espaços de educação com esse propósito. A professora aponta que esses ambientes de educação entregam profissionais para o mercado.>
"Criar espaços, especialmente na Bahia, para fortalecer o ecossistema de desenvolvimento de jogos é fundamental. Nós já estamos nesse processo há mais de 15 anos e ainda temos uma indústria, de maneira geral, tímida. [...] É a partir desses espaços claramente definidos que dá para fortalecer. Para quem vem de outros cursos e tem interesse, mas não tem uma formação específica para isso, cursos e treinamentos são importantes no processo formativo", diz Lynn. >
Os polos de Camaçari, no campus da Ufba e no Centro de Integração e Apoio ao Trabalhador (Ciat), e de São Gonçalo dos Campos, na Biblioteca Municipal Aníbal Pedreira e no Colégio Municipal Agripina de Lima Pedreira, são os primeiros do Nordeste. Na última sexta-feira (16), inclusive, houve a cerimônia de inauguração em São Gonçalo, que fica a 20 km da cidade de Feira de Santana. >
Quem conseguir vaga no curso de desenvolvimento de games vai ter certificação de conhecimento nos seguintes módulos: alfabetização digital, cultura e jogos, roteiro e narrativa, programação, edição de som, game design, arte e interface, e seu jogo. Ao fim do curso, o estudante vai ter um protótipo do seu primeiro game concluído.>
"Temos duas principais áreas: uma mais tecnológica, que envolve mais matemática, lógica e a linguagem da programação. A outra está mais em um plano de criação, com artes, roteiro, game design e interface. Então, existe um universo de possibilidades em que se pode atuar como profissional", explica Priscila Seixas, ressaltando que todas essas áreas são importantes em um ecossistema de desenvolvimento de games.>
Para os que têm interesse em fazer parte desse mercado e não moram em São Gonçalo dos Campos e Camaçari para conseguir o curso presencial, há uma opção diferente para começar a aprender.>
Interessados de todo o Brasil podem se inscrever na formação à distância. As inscrições podem ser realizadas no site www.criarjogos.com.br e mais informações acompanhadas no Instagram @criar.jogos. Vale ainda ressaltar que as vídeo-aulas contam com acessibilidade em Libras.>