Desfile de coleção inspirada em mulheres negras encanta passageiros no metrô

Ação aconteceu na estação do Imbuí e agradou quem passava por lá

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  • Wendel de Novais

Publicado em 20 de novembro de 2021 às 15:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nilzete Santana/Aboyê
. por Nilzete Santana/Aboyê

Passarela rodeada de fotógrafos e curiosos, roupas de cair o queixo e modelos desfilando beleza a passos largos. New York Fashion Week ou algum evento gigante de moda em Paris? Não, essa descrição se encaixa perfeitamente com o que virou a estação de metrô do Imbuí, na manhã deste sábado (20). Por lá, a área em que os soteropolitanos passam para ter acesso aos vagões se transformou em uma verdadeira passarela com a cara de Salvador.

É que as modelos que desfilaram carregavam, em seus corpos, uma coleção de roupas inspirada na produção de moda ancestral de mulheres negras. Um trabalho sobre o preto e feito por pretos, já que o desfile é um produto final do projeto ‘De onde pra onde’, do Movimento Social Aboyê, que contou com o empenho de estilistas, artesãos, maquiadores, cabeleireiros, modelos, fotógrafos e produtores negros. [[galeria]]

Público encantado

Produto esse que agradou e muito quem passava por lá. O professor Vinícius Souza, 35 anos, tinha ido até o Campo Grande para ver os arcos da consciência negra e, lá, ficou sabendo que estes só seriam erguidos à tarde. O que o fez retornar de uma viagem quase perdida, que foi salva pelo desfile."A gente estava voltando de lá, nos deparamos com a exposição e paramos pra ver. Não sabíamos mesmo, é uma dessas aleatoriedades boas da vida. Estamos muito impactados porque traz o belo dentro de uma perspectiva negra, que eu acho que falta muito na sociedade nesses dias", conta o professor.Outro que parou tudo para ver o desfile foi Kleber Souza, 38, que estava à caminho de uma delicatessen onde trabalha, mas precisou interromper a viagem para apreciar o desfile. "Muito lindo, me surpreendeu demais porque foi algo muito interessante e queria que acontecesse mais vezes porque é raridade a gente poder ver algo tão bonito no metrô. Parei aqui minha rotina pra ver e não me arrependo", garante Kleber. 

Musicista, Amanda Magno, 20, estava indo passear e ficou encantada com a beleza e o simbolismo do desfile. "Eu gostei demais porque enaltece a beleza dos pretos, a nossa beleza.  As roupas são expressivas, os panos e toda construção com acessórios trazem uma atração massa em um lugar tão acessível, foi incrível", afirma. Amanda ficou encantada com o desfile e a exposição (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Emoção para quem desfila

Se foi incrível para quem viu, para quem desfilou não foi diferente. Yasmin Matos, 17, é modelo há quase dois anos e disse sentir uma sensação única com o desfile. "É uma sensação fora do comum porque a gente sabe o quanto é difícil ver pessoas negras sendo representadas, principalmente, em lugares que as pessoas consideram banais como metrô e ônibus. Só que é muito importante que a gente seja visto em qualquer lugar e que todos nos vejam", ressalta a modelo. 

Milena Souza, 24, que trabalha como modelo há 1 ano, concordou com Yasmin e falou sobre o quanto o desfile era simbólico para ela."Fazer parte disso é de uma potência enorme para mim. Estar em lugares aleatórios, ser vista e receber os elogios das pessoas é incrível. Espero continuar fazendo parte de muitos como esse que tem uma responsabilidade enorme por falar sobre ancestralidade", diz. Tanto Yasmin como Milena fazem parte de uma agência de modelos do Aboyê, que, de acordo com Joisi Lima, 22, outra modelo do desfile, promoveu uma ação que traz representatividade de fato. "É uma ação dentro de um espaço em que as pessoas que mais passam por aqui são negras e periféricas e têm a oportunidade de ver outro preto representando eles. É dizer que a moda tem lugar pro preto e que, cada vez mais, a moda vai ter pretos  seus cabelos crespos, beiços grandes e  suas pegadas pretas", fala ela. 

Além do desfile, a representatividade teve lugar garantido na exposição fotográfica do artista Sivaldo França, que se emocionou ao falar da participação no projeto. "Eu já estava pensando nesse trabalho sobre 'o onde', de onde saem essas roupas de matriz africana que você usa e nem sabe de onde veio. Essa foi a oportunidade ideal pra isso, pra mudar vidas com as minhas fotos de um olhar preto, que é o princípio básico do meu trabalho dentro da comunidade", conta o fotógrafo. 

De onde pra onde

Produtora do Aboyê e coordenadora do projeto que uniu o desfile à exposição fotográfica, Márcia Costa fala mais sobre a intenção do ‘De onde pra onde’. 

"É um movimento para explicar de onde vem a inspiração de nossas coleções. Queríamos dar crédito, trazer às origens que são as mulheres pretas lá atrás. Elas, sem recurso, conseguiam valorizar a sua imagem, sua arrumação. Isso é moda hoje e não sabem de onde veio. Queremos fazer saber", explica Márcia.

A realização do projeto faz parte do programa Vem pra Cá da CCR Metrô Bahia, que valoriza e estimula ações artísticas, culturais, de bem-estar e alegria.  Lídia Marques, analista de comunicação da CCR Metrô, afirma que esse tipo de ação é uma característica da empresa.

"A diversidade e a inclusão na CCR são valores. O mês a gente marca com ações mais fortes, mas isso é perene na companhia. Desde o Instituto CCR que apoia projetos como a 'Flipelô' até o 'Acelerando seu corre', da Wakanda, que acelerou mais de 500 mulheres, em sua maioria negras e em vulnerabilidade social. Isso pra gente é valor", conclui.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo