Detento é suspeito de comandar facção de dentro de presídio na Bahia

Segundo a polícia, Washington David Santos da Silva, o Boca Mole, é responsável por 40 homicídios; defesa nega

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Policiamento reforçado na Rua São Miguel, em Mata Escura (Foto: Bruno Wendel/ CORREIO) Nem mesmo os muros e as celas detêm o líder do Bonde do Ajeita. Apesar de cumprir pena no Presídio de Serrinha, considerado o único de segurança máxima do estado, o traficante Washington David Santos da Silva, 27 anos, o Boca Mole, continua dando ordens aos seus comparsas, diz uma fonte da Secretaria de Segurança Pública (SSP) .

Recentemente, a polícia realizou operações que resultaram em perdas para a facção - uma dissidência do Bonde do Maluco (BDM) - no bairro da Mata Escura. A ação mais recente aconteceu na tarde dessa segunda-feira (13), quando policiais militares libertaram um refém e mataram três integrantes do grupo. No dia 26 de dezembro do ano passado, a PM matou outros três e prendeu dois da organização criminosa.“Os comandos saem de lá de dentro do presídio. Os seus seguidores estão espalhados em São Caetano, Capelinha de São Caetano, Boa Vista de São Caetano, Mata Escura e Santo Inácio. Nesses locais, muitas mortes foram cometidas sob o comando de Boca Mole”, afirma fonte.Quando preso, em 2013, a Polícia Civil disse que ele era acusado de cometer 26 homicídios e suspeito de outras 40 mortes – a maioria ligada ao tráfico de drogas na região de São Caetano.

Além dessas acusações, Washington responde a três processos na Justiça baiana. O primeiro por tráfico de drogas. Por esse crime ele foi condenado a 11 anos de prisão após ter sido preso em 2013. Já os outros dois processos em andamento são por roubo e por crime organizado.

Washington estampava a carta 10 de paus do Baralho do Crime da SSP até o dia 16 de fevereiro de 2013. Ele foi capturado em companhia de Evanildo da Silva, que tinha um mandado de prisão em aberto por assalto a banco. Eles foram localizados em um veículo Agile branco roubado enquanto entregavam drogas em pontos de venda entre os bairros de Cajazeiras e São Caetano.

À época, investigadores da 4ª Delegacia (São Caetano) disseram ter encontrado uma metralhadora calibre 9 mm, de fabricação italiana, e um carregador com 19 projéteis em posse de Boca Mole. No carro, com placas adulteradas, ainda foram encontrados um saco com um quilo de maconha e uma balança de precisão.

Segundo a polícia, a dupla não esboçou reação ao ser surpreendida pelos policiais e Boca Mole ainda ofereceu R$ 100 mil para ser liberado da abordagem. Além de agir no controle e na distribuição de drogas, ele ainda está envolvido com quadrilhas de roubo de veículos e bancos.

As advogadas de defesa de Boca Mole, Lorena Correia e Rebeca Matos, negaram as acusações de homicídios. "Perante a justiça baiana, Washington não configura como réu em nenhum crime de homicídio. Pelo contrário, alguns inquéritos foram arquivados por falta de provas e outros ainda estão sendo investigados. Como a Polícia Civil pode alegar que ele é homicida?”, disse Correia.

Elas afirmaram ainda que Washington não tem ligação com o BDM. “Nunca informou ou confessou que faz parte de alguma organização criminosa e nem reponde processo ligados a facção denominada Bonde do Maluco”, rebateu Correia.

Já em relação ao fato de Washington ser apontado com líder do Bonde do Ajeita, a advogada Matos declarou: “Ele responde, de fato, a um processo por essa acusação, porém não há decisão judicial que o condene e o mesmo nega ser integrante da citada facção criminosa, até porque ele já se encontrava preso no Conjunto Penal de Serrinha, de segurança máxima do estado”.

Bonde do Ajeita A facção vem atuando timidamente em alguns bairros de Salvador, como parte da Mata Escura e Jardim Santo Inácio. O grupo, porém, tem também atuação em Boa Vista de São Caetano, bairro onde nasceu e se criou Washington Boca Mole, líder do Bonde do Ajeita. O grupo criminoso é uma das dissidências da facção Bonde do Maluco (BDM), segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP). 

A ruptura aconteceu há pouco mais de dois anos e se deu por conta da disputa entre os próprios integrantes do BDM por pontos de venda de drogas. A divisão, no entanto, foi de forma amistosa e as duas organizações criminosas selaram um acordo, graças à atuação de Washington.

Mas um episódio estremeceu a relação entre o Bonde do Ajeita e o BDM. Em entrevista à imprensa em dezembro de 2019, o delegado Guilherme Machado, titular da Delegacia de Homicídios Central, disse que houve um racha. “Não sabemos o motivo ainda, mas isso refletiu no número de homicídios que cresceu no bairro e nas regiões adjacentes, como Santo Inácio", explicou o delegado.