Dia do Gari: Agentes de limpeza fazem festa na Limpurb

No dia 16 de maio, o cheiro de chorume foi substituído pelo odor de churrasco.

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  • Carol Aquino

Publicado em 16 de maio de 2017 às 15:58

- Atualizado há um ano

Na sede da Limpurb, em Salvador, o 16 de maio foi de muita festa. Desde às dez da manhã, agentes de limpeza urbana de Salvador comemoravam o Dia do Gari. O fedor do chorume produzido pelo lixo com que alguns coletores convivem no dia a dia foi substituído pelo cheiro de churrasco. Teve música ao vivo com a cantora Carla Cristina, madrinha do evento, sorteio de brindes e muita alegria. Com muita disposição a aposentada Iracema dos Santos, 70, dançava até o chão. “Tenho muita saudade de varrer rua”, conta a idosa, que exerceu a profissão por 37 anos. Ela conta que sente falta das amizades que fez e do bate-papo com os colegas. Por todo lado, era fácil ver alguém com um sorriso no rosto e que falando com muito orgulho da profissão que exercem há décadas. “São pessoas que têm garra, dedicação, que abdicam de uma parte de sua vida para cuidar da cidade e que muitas vezes passam despercebidos. Tem gente que só sente falta quando eles estão ausentes”, disse o presidente do órgão, Kaio Moraes.  Procurando valorizar os colaboradores, o gestor foi categórico. “Vocês não cuidam de lixo. Quem resolve o problema do lixo é o aterro. Vocês cuidam de limpeza urbana”. OrgulhoApesar do estigma social que a profissão tem, os garis dizem que não sentem isso no dia a dia e que recebem até cumprimentos pelo serviço que realizam. É tanto orgulho que eles vão passando a profissão de pai para filho. Everaldo Souza, 56 anos, sustentou a família com o trabalho de limpeza urbana e deu a um dos filhos, Ednaldo, um ofício. “É uma coisa que gosto de me dedicar”, resume.A gari Aldemira da Silva, 60 anos, é outro exemplo de quem tem amor pelo que faz. Há 42 anos exercendo a mesma profissão, ela exibia um sorriso e foi uma das homenageadas do dia. Entre os 297 agentes de limpeza concursados da Limpurb, ela é uma das duas mulheres que integram a a equipe.Mesmo trabalhando em meio a muita poeira, ela conta que sempre gostou de trabalhar arrumada, maquiada e chamava a atenção por onde passava. “Eu gostava muito de cantar, cantava músicas velhas, desde o tempo de mil novecentos e já me esqueci. O povo parava para olhar”, brinca.  

Da parte dura do trabalho, ela lembra somente do começo, quando os garis tinham que fazer coleta, varrição e ainda capinar. “Hoje tá tudo uma beleza”, conta. Para ela, o pior era ter que recolher animais mortos, que exalavam um cheiro forte. Circulando por várias áreas das cidades de Salvador, eles conhecem uma realidade diferente das demais pessoas. O coletor Zilmar Santos, 59 anos, que trabalha à noite pela capital, conta que este período não lhe causa medo, mas ao contrário, te traz muitas alegrias.

“O pessoal da noite conversa com a gente, abraça, principalmente quem mora na rua”, conta. Ele fala que é só ele chegar que estas pessoas já abrem um sorriso no rosto. “E aí, gari. Tudo bem?”, ele fala em relação ao carinho que recebe de quem vive nas ruas. Do jeito que pode, Zilmar exerce a solidariedade. “Dou um papelão para eles se cobrirem, uma toalha, uma lençol. Eles agradecem tanto”, conta o gari com um ar de ternura. Na hora de falar sobre o que de pior tem a noite, o gari se retrai. “O que a gente vê de coisa ruim, a gente transforma em boa”, conta. CuidadoAs cinco mil toneladas de lixo produzidas em Salvador são coletadas por 3.522 agentes de limpeza, entre concursados e terceirizados. Cada um percorre uma distância diária de cerca de 3 km a pé, fazendo a varrição, coleta domiciliar ou catação.

O presidente da Limpurb, Kaio Moraes, faz um apelo para que a sociedade valorize mais o trabalho dos agentes e tenha cuidado com os mesmos, principalmente aos descartar perfurocortantes, como lâmpadas e cacos de vidro. “É importante que as pessoas embalem em jornal, coloquem numa garrafa pet ou sinalizem”, disse.