Dia do Orgasmo: relatos de casais e solteiros na quarentena, produtos e mais

O que mudou na rotina dos casais? Os solteiros deixaram de transar? Como se viraram os confinados? Veja

Publicado em 31 de julho de 2020 às 21:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: PIXABAY

Em plena pandemia do coronavírus, o Dia do Orgasmo é celebrado nesta sexta-feira (31) de maneira diferente. Entre tantas mudanças que a quarentena suscitou nas relações pessoais, o sexo também não passou incólume. Confinados em casa, tanto os casais quanto os solteiros vivem um momento inédito na rotina sexual. Seja pelo convívio intenso ou pela abstenção, o fato é que muita gente precisou entender melhor a si e ao outro para conseguir navegar esse período, conturbado em tantos aspectos.

Para a consultora de projetos Maria*, de 31 anos, casada há 4 com Gabriel*, 35, os últimos meses foram de altos e baixos na vida íntima do casal.“A cabeça fica um mix de coisas, e isso termina refletindo. Quando eu estou com ansiedade, preocupada com emprego, sem saber o dia de amanhã, não consigo nem me mexer direito. Quanto mais fazer sexo”, comenta.Tesão acumulado: Impulsionadas por mulheres, vendas de vibradores sobem 475% na quarentena

A frequência das relações sexuais também foi afetada por questões que estavam adormecidas: o confinamento trouxe à tona todas as brigas do passado. “Muitas DRs (discussões de relacionamentos). As tretas voltaram todas”, diz. Nada que não se resolvesse: “Vai melhorando, depois vai piorando. Fica nesse vai e vem”.

O relato não foge muito do que a sexóloga Magali Marino tem escutado em consultório. Para a especialista, os casados são os que sofreram o maior impacto no sexo. Isso porque a gente tende a desejar aquilo que não tem, ela conta, parafraseando o pai da psicanálise, Sigmund Freud.“Os casais que hoje estão casados e no seu dia a dia estão juntos na mesma casa começam a descobrir as coisas que antes não apareciam, porque saíam para trabalhar, saíam para o barzinho. Agora, você tem o dia todo com aquela pessoa e começam a cair os véus. Começam os desencontros”, detalha.Daí, nascem as cobranças. Embates que podem emergir de questões do dia a dia, como a divisão do trabalho doméstico. “O sexo, então, passa a ser uma coisa secundária, porque os atritos vêm como um porta estandarte. Eles se intensificaram e é o que vem na linha de frente, em detrimento ao desejo sexual”, fala.

A esses parceiros, a psicóloga sugere uma boa dose de autoanálise. “Veja onde é que está a falta nessa relação, o que é projetivo. Comece a ver o que está cobrando do outro, que na verdade está em falta em mim. O que eu quero que o outro preencha em mim?”, levanta.

Fogo cresce para os casais que não moram junto

Se o desejo nasce da ausência, “bom” para os casais que moram separados. Aqueles que tiveram de cumprir o isolamento longe um do outro experimentaram um fogo maior no momento do reencontro.

Foi assim com a atriz Débora*, 25, que precisou se afastar do parceiro Paulo*, 24, com quem se relaciona há dois anos. “Teve o boom da doença e a gente achou mais coerente a gente parar de se encontrar por um tempo. Ele mora com a mãe dele, que é uma senhora, e eu principalmente não queria colocá-los em risco”, fala.

Mesmo quando voltaram a se ver, era apenas uma vez a cada 15 dias. “É um contexto bem diferente do que a gente vivia pré-pandemia, que a gente se via e dormia junto quase todo dia”, relata. Resultado: “A gente acabou ficando mais carente. Quando se via, ficava tão grudado, que não queria desgrudar”, relata.

A psicóloga Magali confirma que muitos casais tiveram essa vivência."Acho que nesse momento que a gente se distancia, por qualquer motivo, isso dá uma intensidade no desejo sexual. O sexo vem muito das fantasias, e você passa a fantasiar com aquele momento quando a pessoa está longe.”Solteiros deixaram de transar?

Enquanto isso, no mundo dos solteiros, o problema é similar. Com o distanciamento social, ficar junto dos ‘contatinhos’ significava driblar as orientações sanitárias de organismos de saúde mundiais e locais. Mesmo assim, Magali conta que nem todo mundo deixou de transar.

“O que eu tenho visto na minha clinica é que as pessoas não abriram mão. Algumas sim, mas outras continuaram se encontrando”, expõe.Novamente, entra em prática o desejo. “Isso se intensifica, e é a coisa do ‘ vamos dar um jeito’. Além disso, as pessoas têm uma sensação de onipotência, que é o pensamento de que ‘acontece com o outro, comigo jamais’”, fala, em relação à covid-19.

Mesmo preocupado e acompanhando a evolução da pandemia desde o seu início, o cientista social Iago*, 31, fez um acordo para continuar vendo a ficante. “A gente tinha um esquema de se encontrar a cada 15 dias para um outro oferecer segurança”. “Mas agora que está dominando essa sensação de que tudo passou, a gente está bem mais relapso e se vê mais vezes”, admite.

Ainda assim, longe do ideal. Logo quando o vírus chegou ao País, Iago, solteiro há 1,5 ano, apagou os aplicativos de namoro do celular. Agora, sobra a vontade. “Quero mais”, ri.

Brinquedos eróticos para o autoconhecimento

Já quem seguiu à risca as medidas de distanciamento social passou um bom tempo sem transar. É o caso da instrutora de ioga Sabrina*, 23, que ficou em quarentena na casa da avó por cerca 115 dias. “Durante esse período saí apenas para questões emergenciais”, revela.

Mesmo se considerando bastante ativa sexualmente, no fim das contas, ela avalia o período positivamente, como uma oportunidade de se conhecer melhor. Tão logo começaram as restrições, comprou um vibrador e acessórios de pompoarismo (técnica para treinar e fortalecer a musculatura da vagina).

“Sempre tive vontade de ter, mas como viajava, tentava ter poucas coisas para carregar. Como ia ficar muito tempo no mesmo lugar, resolvi fazer a compra. Nunca tinha usado na minha vida”, revela.

Com os brinquedos, descobriu-se ainda mais livre sexualmente. “Senti que me aproximei mil vezes mais de mim mesma e me conheci de diversas maneiras. Muito rico esse momento que me fez ‘ser obrigada a estar comigo mesma’, tanto no aspecto físico e psicológico, me fez desenvolver uma solitude da questão sexual, explorar meu próprio corpo e me empoderar enquanto mulher. Uma coisa que vou levar para o meu dia a dia pós-quarentena”, conclui.

O uso de adereços eróticos é recomendado por Magali. "É muito propício para fazer essa descarga de energia, de excitação. O vibrador é interessantíssimo e funciona para esse processo de autoconhecimento."

"Eu indiquei muito o vibrador agora, e indico independente da pandemia, especialmente para mulheres que tem dificuldade de chegar ao orgasmo - dispareunia, anorgasmia e vaginismo". Situação mais comum do que se pode imaginar: uma pesquisa do departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP) revelou que 55% das brasileiras não têm orgasmos durante o sexo.

Aumenta procura nos sex shops

Nos sex shops, a quarentena rendeu lucro. De acordo com Vanessa Pessoa, proprietária da loja Doce e Pimenta, na Torre, Zona Norte do Recife, as vendas cresceram nos últimos meses.

“Principalmente na parte de acessórios - de vibradores, masturbadores masculinos - aumentou bastante. E não só pelo site; temos e-commerce, mas fizemos muitas vendas através do WhatsApp e do Instagram”, afirma.

Na avaliação da empresária, o incremento na demanda foi favorecido pelo confinamento. “Sem dúvida as pessoas tiveram a necessidade sexual do estímulo, e estar se cuidando mais, não querendo sair com qualquer pessoa. Os casais também aumentaram o consumo para sair da rotina.” Dona de um sex shop no bairro da Torre, Zona Norte do Recife, Vanessa Pessoa confirma que as vendas online cresceram (Foto: Divulgação) Vanessa mostrou alguns produtos que têm feito sucesso. Conheça:

Kit Pérola - Kit usado para masturbação do pênis, pode ser usado 'solo' ou com o parceiro. "Ele vem com um gel, lubrificante, e um colar de pérola. Você passa um gel no pênis e envolve com um colar para fazer a massagem. É bem prazeroso", descreve Vanessa.

Egg - Masturbador masculino em formato de ovo. "Ele é vazado, e o interior tem cápsulas de alto relevo que vão massageando na descida e subida. O acessório vem com lubrificante."

Vibradores internos e clitorianos - Para pessoas com vagina, há uma gama de modelos de vibradores. Ela recomenda um modelo de silicone aveludado, que possui 30 modos de vibração e 2 motores distintos.

Bullet - Do inglês, significa bala. É um masturbador feminino com controle remoto sem fio. A empresária sugere para brincadeiras em casal. "Dá uma interação, o parceiro fica no comando da situação. E para a mulher é um espetáculo. Pode ser usado tanto na região interna quanto clitoriana."

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados