Dicas de Ouro: feras da Matemática dão dicas para tirar boa nota no Enem

CORREIO conversou com vencedores da Olimpíada de Matemática

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  • Fernanda Varela

Publicado em 10 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em uma sala de aula do Ensino Médio é muito difícil que a maioria dos estudantes levantem a mão quando a pergunta é: gosta de Matemática? Aliás, é só ouvir o nome da disciplina que muitos já mudam o semblante e dão os mais variados sinais de preocupação. Com ou sem medo, é necessário fazer as pazes com a matéria para fazer uma boa prova no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em novembro. Em 2019, 395.438 baianos se inscreveram para a prova – é o terceiro estado com mais candidatos, atrás apenas de Minas Gerais e São Paulo.

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Para dar um empurrãozinho e tentar melhorar essa relação, o CORREIO ouviu cinco craques no assunto, que fizeram a prova no ano passado e tiveram um alto rendimento na disciplina. Medalhistas de ouro na 14ª Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas de 2018 (OBMEP), eles dão dicas de estudos, macetes e garantem: não se trata de um bicho de sete cabeças.

Para Mariana Quirino de Oliveira, 18 anos, o grande segredo é praticar. Natural de Brasília, a estudante de Medicina errou apenas duas de 45 questões que caíram na prova do ano passado e garante que é possível tirar uma boa nota sem decorar um bocado de fórmulas.“Não há segredo, foi só resolução de prova anterior. Isso me ajudou muito. Eu achei a prova de Matemática do Enem bem tranquila, não caiu nada de tão complicado. Tem muito problema de lógica, a maioria deles você não precisa nem decorar fórmula nenhuma”, garante ela, que ressalta a importância de ter agilidade na hora de fazer os exercícios, o que é adquirido com a prática. Mariana acredita que é necessário fazer muitos exercícios (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Buscar as provas anteriores do Enem, inclusive, esteve presente nas dicas de todos os medalhistas com quem o CORREIO conversou. Sem exceção, os cinco indicam que praticar com os exames já aplicados é muito mais eficaz do que meter a cara nos livros.

Uma outra dica de ouro vem do mineiro João Mateus Souza Castro, 18. Com quase 800 pontos dos 1000 possíveis na disciplina, ele conta que montou uma ordem para resolver a prova, o que ajudou bastante a manter a calma.

“Minha dica é começar a prova por aquilo que você domina, porque quando você tem certeza das questões, responde mais rápido, fica mais tranquilo e ganha tempo para o restante da prova, além de ficar mais confiante. No meu caso, iniciei pela Matemática, segui por Física e Química que têm mais ligação com a área e depois fiz o restante”, conta ele, que também alerta para o mito de que é necessário decorar fórmulas para tirar uma boa nota. João Mateus avisa que decorar não é a saída (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) “Esquece isso de que precisa decorar. Você tem que ficar calmo na hora da prova, porque não é um bicho de sete cabeças. Só precisa pensar um pouco e ler, principalmente. A Matemática não é só cálculo, número. Sério, não saia decorando nada. Leia, entenda e interprete o problema que você consegue resolver. A Matemática é vendida como se fosse um mundo de fórmulas, o que não é verdade”, completa.

O estudante de Engenharia de Sistemas finaliza ainda com outro alerta: “se você só decorar, corre risco de esquecer. Não decore, entenda as fórmulas. Entenda os princípios, como se chegou àquilo e como se aplica”.

Já o alagoano Kevyn Djhonatha Lacerda, 18, acredita que diminuir o ritmo de estudos das disciplinas que o aluno tem facilidade e começar a se dedicar ao que ele não tem maior dificuldade é a melhor saída. E foi o que ele fez.

Estudante de Matemática na Unicamp, ele é direto: “Não adianta ficar estudando o que já sabe. Precisa estudar o que você não domina". Kevyn acredita que o ideal é dar atenção ao que o estudante não domina (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A dica parece lógica, mas muitos estudantes não seguem, como Carla Araújo, 16, que pretende prestar vestibular para Psicologia. “Eu sempre estudei os assuntos que eu sei mais, para garantir uma boa pontuação na prova. Só que fiz o Enem no ano passado para testar e não tive nota boa, porque acabei só indo bem em um dia de prova. O dia de exatas eu fui super mal”, admite.

Para a história não se repetir, é bom ouvir o medalhista de ouro. “Acontece muito isso. Mas é realmente melhor focar naquilo que você não sabe e não entende, como é o caso da Matemática para muitos, porque no resto você já tem uma bagagem, dá para fazer a prova sem tanto medo. Se você for bem no que domina e garantir uma nota melhor no que tem dificuldade, aumenta a pontuação”, analisa Kevyn, que fez 925 pontos na prova de Matemática no ano passado.

Além de tudo que já foi citado pelos medalhistas, há um outro ponto fundamental para não fazer feio no Enem: rotina de estudos. O paraibano Rafael Magno Ferraz, 18, garante que estudar todos os dias fez diferença na hora da prova.“Mesmo com facilidade em Matemática, eu estudava três, quatro horas por dia, todos os dias. É importantíssimo ter uma rotina de estudos, manter uma disciplina nisso. Não dá para arranjar desculpas, porque você se sabota”, avisa ele, que cursa Engenharia Elétrica. Sem disciplina, não dá para ter bom desempenho, acredita Rafael Magno (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Além disso, segundo o jovem, nessas horas é preciso deixar o orgulho de lado. “Não pode ter orgulho ou ficar com vergonha de dizer que não sabe. Quando tiver dúvida, pergunte ao professor, a um colega, busque na internet. Outra coisa, não adianta se abater no primeiro obstáculo. Não sabe a pergunta? Pula e faz a que sabe, depois volta”, completa.

Matemática é para todos Se Matemática já costuma ser difícil para uma pessoa comum, imagine para um portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O quinto campeão com quem o CORREIO conversou sofre com o problema, mas arranjou alternativas bastante curiosas para assimilar o conteúdo.

O mineiro Bernardo Quintão Oliveira, 18, não só aprendeu Matemática e foi medalhista de ouro na OBMEP, como foi aprovado em todas as faculdades de Medicina para as quais prestou vestibular: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade Albert Einstein e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E ele já adianta para quem torce o nariz para a disciplina: “A Matemática não é meio caminho andado, é quase o caminho inteiro”. Bernardo driblou TDAH e foi aprovado em todas as faculdades para Medicina (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Como tem TDAH, ele não conseguia ficar sentado, assistindo às aulas. Para driblar o problema, pediu ajuda aos professores. “Arranjei um jeito muito especial de estudar. Eu fiz um acordo com meus professores e eu virei professor na sala de aula. O aluno muitas vezes fica ansioso com o Enem e, quando vê o professor ali na frente, pode aumentar essa ansiedade, porque ele é enxergado em um nível muito superior. Quando chega um outro aluno para ajudar, é bom para todo mundo”, conta.

“Quando eu era pequeno tinha dificuldade em Matemática, mas com as tarefas fui tendo facilidade. Eu vejo muita gente com dificuldade na disciplina. Acho que, se você não consegue aprender nos primeiros anos e segue a rotina normal da escola, não dá para acompanhar, porque só fica mais difícil. O problema está na base. Se os professores tentassem ensinar de maneira mais lúdica, também, acho que os alunos aprenderiam mais facilmente”, opina o garoto.

Ainda em relação com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, na comparação com os outros estados do Nordeste, em Matemática, a Bahia é o terceiro pior avaliado, à frente apenas de Alagoas (4,5%) e Maranhão (3,2%). O Distrito Federal lidera o ranking com 17%. Em Língua Portuguesa, os baianos superam apenas o Maranhão (16,4%). O Espirito Santo foi o estado mais bem colocado, com 40,7%.

A pesquisa também mostrou que nos primeiros anos da escola os resultados são melhores na Bahia. No Ensino Fundamental (5º ano), 31,9% dos alunos tem proficiência em Matemática. Já no 9º ano, os resultados foram de 12,3%.

Professora de Matemática, Elvira Lima Cavalcanti concorda. Para ela, o maior problema está na deficiência do aprendizado básico.

“Percebo que os alunos têm dificuldade em assuntos básicos, como porcentagem e regra de três. Na prova do Enem, 50% dá para resolver com esses assuntos básicos. Muitos alunos perdem horas fazendo cálculos complexos e não sabem fazer os mais simples. Creio que a maioria não aprendeu a parte básica lá atrás e não conseguiu acompanhar”, avalia ela.

Elvira alerta ainda para o perigo de decorar fórmulas. “Decorar fórmula não significa que o estudante tem conhecimento matemático. Precisa de treino, estudo, tirar dúvidas, praticar. É necessário que o aluno tire da cabeça esse estigma de que Matemática é bicho papão. Na primeira dificuldade, muitos desistem”, finaliza.

Média dos baianos melhorou em Matemática A média dos baianos na nota de Matemática e Suas Tecnologias no Enem melhorou no ano passado, em relação ao exame anterior, de 2017. Em 2018, os 401.328 candidatos inscritos que moram na Bahia e fizeram a prova tiveram uma média  de 515,89 pontos na disciplina. Curiosamente, foi a segunda matéria com melhor nota dos baianos, atrás apenas de Ciências Humanas (556,40). A nota mais baixa é da Redação (498,66), seguida de Ciências da Natureza (481,69) e Linguagens e Códigos (513,11). Em agosto do ano passado o CORREIO mostrou que o pior desempenho dos estudantes baianos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2017, foi na área de Matemática e suas Tecnologias. A nota média dos baianos na disciplina foi de 479,5. 

Apesar do crescimento, o baiano tem, comprovadamente, uma dificuldade com a disciplina. No final do mês de junho, o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019 mostrou que apenas 4,7% dos estudantes do ensino médio na Bahia tem proficiência adequada em Matemática.

A dificuldade ficou clara na premiação da 14ª Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas de 2018 (OBMEP), que aconteceu na segunda-feira, em Salvador. Dos 575 medalhistas de ouro, apenas cinco eram baianos, sendo um único representante de Salvador, Ryan Barbosa Castro, 14 anos.

“Quando eu era pequeno tinha dificuldade em Matemática, mas com as tarefas fui criando mais facilidade. Eu vejo muita gente com dificuldade na disciplina. Acho que, se você não consegue aprender nos primeiros anos e segue a rotina normal da escola, não dá para acompanhar, porque só fica mais difícil. O problema está na base. Se os professores tentassem ensinar de maneira mais lúdica, também, acho que os alunos aprenderiam mais facilmente”, opina o garoto.

Ainda em relação com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, na comparação com os outros estados do Nordeste, em Matemática, a Bahia é o terceiro pior avaliado, à frente apenas de Alagoas (4,5%) e Maranhão (3,2%). O Distrito Federal lidera o ranking com 17%. Em Língua Portuguesa, os baianos superam apenas o Maranhão (16,4%). O Espirito Santo foi o estado mais bem colocado, com 40,7%.

A pesquisa também mostrou que nos primeiros anos da escola os resultados são melhores na Bahia. No Ensino Fundamental (5º ano), 46,1% dos alunos tem proficiência em português e 31,9% em matemática. Já no 9º ano, os resultados foram 26,7% e 12,3%, respectivamente.

Os 10 assuntos de Matemática que mais caem no Enem O CORREIO conversou com Alexandre Lima, professor e coordenador de área Matemática do Villa Campus de Educação, que apontou os principais conteúdos para fazer uma boa prova de matemática no Enem. O primeiro passo, segundo ele, é a interpretação de texto. "A interpretação dos textos não é só para a língua portuguesa. Cada disciplina tem seus detalhes e você precisa saber ler e entender o problema matemático para saber resolvê-lo".

Ele alerta ainda que dominando conteúdos básicos, a chance de sucesso é grande. "Regra de três, proporcionalidade e escala. Se o estudante domina, já caminha bem na prova e resolve os problemas. É bom dar uma lida em fórmula de área, probabilidade, combinatória, permutação, combinação. O maior desafio não é decorar fórmula, é saber qual delas usar em cada problema. São conteúdos muito básicos, mas muito Usados, Cerca de 50% da prova tem a ver com assuntos do ensino fundamental", completa. 

Veja as dicas do professor sobre o que estudar em cada assunto da Matemática:Geometria Cálculo de áreas (principalmente quadriláteros e triângulos) e proporcionalidade;   Aritmética: Proporcionalidade, regra de três e porcentagem;    Escala, razão e proporção: É um dos assuntos que pertence à aritmética e cai sempre nas provas do Enem; .  Funções: Função, gráficos, grandeza e funções de primeiro grau;   Gráficos e tabelas: Estatística e probabilidade;   Estatística: Pertence ao assunto de gráfico e tabela e geralmente cobra proporcionalidade simples;   Porcentagem: Cálculo de percentual, parte financeira, juros e regra de três;   Probabilidade: Focar na combinação de números e na análise de informações;    Equações elementares: São aqueles problemas de regra de três, montar equação de primeiro grau, estrutura algébrica. Embora simples, uma das maiores dificuldades dos estudantes;   Sequências: PA (Progressão aritmética) e PG (Progressão geométrica), proporcionalidade e juros. 

Fascículos no CORREIO trazem temas para revisão

O jornal CORREIO publica até o dia 30 de outubro 18 fascículos especiais do 13º projeto Revisão Enem 2019. Com simulados que são disponibilizados no site do jornal (correio24horas.com.br/enem), os conteúdos contam com uma série de questões objetivas, realizadas pelo SAS Educação, para os estudantes testarem seus conhecimentos nas disciplinas cobradas no Enem.

Além disso, sempre às quartas-feiras, o site Correio 24 horas conta com videoaulas, que podem ser acessadas na íntegra na página: www.correio24horas.com.br/revisao. Na versão impressa e no site do CORREIO, é possível acompanhar conteúdos focados em temas que auxiliam os alunos no processo de estudo, com artigos diversos, dicas de como estudar e macetes para fazer um bom exame. O projeto tem o oferecimento da Rede FTC.