Diversidade: ‘É preciso dar voz aos que estão excluídos’

Soluções que surgem de cima para baixo não transformam realidade, diz fundadora da Diver.SSA

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  • Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Embora estejamos distantes do cenário ideal, políticas de diversidade e representatividade estão cada vez mais presentes no mundo corporativo. O que antes estava entre as últimas preocupações de organizações empresariais vem ocupando papéis centrais e provocando transformações no mercado. Entretanto, o sucesso destas iniciativas dependem do papel que se destina a quem se quer incluir, avisa a empreendedora social Ítala Herta, fundadora da Diver.SSA e cofundadora da aceleradora de negócios Vale do Dendê. 

“Eu acredito que o maior erro que se pode cometer em relação aos programas que visam fomentar a diversidade e a inclusão é o de não ouvir as pessoas que se quer incluir”, destacou  a profissional de Relações Públicas, que presta consultoria em grandes organizações nacionais, durante a sua participação no programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes, no Instagram do CORREIO (@correio24horas).

Para Ítala Herta, o perfil do empreendedor social se contrapõe ao do tradicional empresário, que se conecta apenas à necessidade de lucro. “O lucro, para o empreendedor tradicional, é o ponto de partida e não precisa ser compartilhado. São pessoas que não estão muito conectadas com contextos e realidades que o cercam e que, às vezes lucram exacerbadamente”, diz. Por outro lado, acrescenta: “o empreendedor social é aquele que busca o lucro, mas de maneira responsável, por um modelo compartilhado. Ele quer vender seus produtos e serviços, mas tem uma causa”. 

Uma diferenciação que se faz necessária, ressalta Ítala, é que não se trata de nenhum tipo de caridade. “A gente está falando de oportunidades de negócios comprometidas com aquilo que se enxerga em volta”, aponta. 

“Algumas empresas já atingiram um nível de maturidade para enxergar não apenas a perspectiva do desafio de inclusão, mas a oportunidade que isso traz. Investir em impacto social vem se tornando algo cada vez mais frequentes”, explica. 

Segundo ela, algumas empresas, principalmente de maior porte, acabam mudando mais lentamente. “Mudar um transatlântico de direção não é algo simples”, compara, explicando que a atuação com base no impacto social exige mudanças de cultura.

Ítala Herta diz que além da vontade de mudar, as empresas precisam atuar em conjunto com as suas cadeias produtivas. “É um trabalho que exige uma mudança de pensamento, mas já existe muita gente no mercado que percebeu que se formos para o caminho exploratório, no final das contas, não vai sobrar nada para ninguém”, avisa. “Cada vez mais, estas agendas sociais, ambientais e de governança são demandadas pelos consumidores. Mas infelizmente há empresas que acham o compromisso social algo publicitário”. 

Uma das vozes mais relevantes do país quando se trata de diversidade, inclusão e representatividade no mercado de trabalho, Ítala conta que passou muito tempo com economia criativa. Formada em Relações Pública, ela teve a oportunidade de conhecer de trabalhar com a área de comunicação corporativa, lidando com questões relacionadas à responsabilidade social. “Em 2017, eu participei como co-fundadora do Vale do Dendê e ali eu já sentia a necessidade de lidar com a realidade do empreendedorismo, só que com uma profundidade maior”, lembra. 

“Quando nós decidimos apostar no empreendedorismo, eu lembro que tinha muita vontade, mas também que tinha bastante daquele frio na barriga porque era um desafio enorme”, conta. “A gente queria, com a Vale do Dendê, que é uma aceleradora de negócios, fomentar o desenvolvimento de uma economia criativa”, diz. 

Na época, ela já trabalhava com negócios de impacto social e estava envolvida com outras organizações com atuação nacional, mas aponta a criação da Vale como um divisor de águas para ela. “Muitas portas se abrem, muros também. Foi um projeto que mexeu muito comigo e com todos que participaram daquele momento”, lembra. 

Aí, vem uma pandemia e, no meio de todas as incertezas do momento, Ítala resolve apostar em seu projeto atual. “Eu queria me dedicar a um projeto voltado para as mulheres. Já fazia isso, mas de maneira dispersa, colaborando no Rio, às vezes aqui na Bahia e prestando consultorias, mas sempre me perguntei quando iria me dedicar mais intensamente”, conta. A resposta foi a criação da Diver.SSA, diz. 

“Eu fundei a Diver.SSA como uma plataforma de acolhimento e bem estar mental para mulheres empreendedoras. Temos um modelo de cursos a preços populares, programas de acelerações  e focamos muito em trazer este bem estar para a mulher, sobretudo do Norte e Nordeste”, explica.