Djamila defende que redes sociais devem ter equipes para conter ódio na internet

Filósofa participou da estreia do programa Conexões Negras do Jornal CORREIO, com a colunista Midiã Noelle, e falou sobre Racismo Algorítmico

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 4 de setembro de 2020 às 21:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Imagens: Reprodução/Instagram

Alvo de sucessivos ataques nas redes sociais, a filósofa, feminista e escritora negra Djamila Ribeiro vem levantando uma discussão sobre o combate ao “Racismo Algorítmico”, dinâmica digital que ela observa como responsável por uma série de violências, sobretudo contra mulheres negras. Em live do CORREIO nesta sexta-feira (4), com a mediação da colunista Midiã Noelle, o jornal inaugurou o programa Conexões Negras, em que a filósofa defendeu a responsabilização das plataformas digitais no enfrentamento do ódio na internet. 

Temas recentes nas esferas de discussão e pesquisa, estes assuntos surgiram justo com a força ganhada pelas redes sociais em nossas vidas, mas Djamila aponta que o fato não é exatamente novo. Em toda história, sempre houve ataques de pessoas umas contra as outras. A diferença dos novos tempos é que a internet multiplica e amplifica as questões basicamente porque há mais gente lendo e falando.“Todas as mulheres, sobretudo negras, que questionaram o sistema sofreram represálias, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro. Então, quando leio sobre os ataques que elas sofriam, eu vejo que é seguir em frente, não tem outra opção. Acho que temos que dizer que existe um ódio generalizado contra mulheres negras num país racista e misógino e, quando essas mulheres saem dos lugares que lhes são impostos, esse ódio todo é uma maneira de dizer voltem para os seus lugares”, expõe. Para superar os ataques à sua imagem e reputação, Djamila Ribeiro disse que se baseia na escuta da experiência de mulheres negras mais velhas, como as duas escritoras citadas e ainda socióloga norte-americana Patrícia Hill Collings e a psicóloga Grada Kilomba. Assim, aprendeu a deixar de gastar energia respondendo aos ataques e concentrando-se melhor em maturar os pensamentos e escrever suas publicações acadêmicas. 

Apesar de tentar seguir em frente, ela também encampa uma campanha para que as redes sociais parem de ser permissivas com o ódio e criem regras claras para coibir crimes e maus comportamentos.

“Chegou no limite de eu ficar sendo atacada e a minha filha receber ameaças, as pessoas perderam a noção e mentem na cara dura. Uma garota inventou que eu estava processando ela e as pessoas já não querem saber se é verdade, ninguém vai checar, passam tudo para a frente. [...] As redes sociais permitem que isso aconteça. São empresas bilionárias e, se ganham bilhões, têm dinheiro para contratar pessoas [para combater essas práticas]”, relata. 

A filósofa comenta que as plataformas digitais estão lucrando com a exploração do racismo e da misoginia na medida em que ataques pessoais viralizam e anúncios publicitários ficam agregados às publicações. Djamila relatou ainda que costuma receber relatos de como tais dinâmicas têm levado consequências concretas à vida das pessoas, como mulheres que lhe contam que adoeceram mentalmente e mesmo desistiram do ativismo por não suportar as ondas de ataques.

Com o objetivo de romper com essas práticas, ela e a sua equipe de advogados entraram com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) pedindo que o Twitter, em especial, pare de explorar o racismo e a misoginia e crie um fundo de combate à discriminação. Membro da Mahin, organização baiana de mulheres negras que apoia a causa, a socióloga Vilma Reis acredita que a ação de Djamila vai marcar a história ao levantar esse processo no país nesta campanha de solicitação de maior responsabilidade das plataformas.“Esse ódio que se espalha nas redes tem custado muito para nós, mulheres negras, para a infância negra. Tem custado por todo esse desgaste, nossa energia para responder, para proteger lutas inteiras que são atacadas. Não é possível pensar um novo mundo, neste contexto da pandemia e pós-pandemia, sem uma ruptura com o racismo, o sexismo, com a lgbtfobia, com o desprezo do Norte do mundo em relação ao Sul do mundo. Muito do comportamento dessas corporações internacionais de comunicação e redes sociais tem a ver com esses mundos em confronto”, disse Reis.

ANOTE NA AGENDA

O programa Conexões Negras com Midiã Noelle acontecerá todas às sextas-feiras, às 18h, no Instagram @correio24horas. O mês de setembro já tem as participações confirmadas da promotora Livia Santanna Vaz, da cantora Paula Lima e da professora Nazaré Mota de Lima. Não perca.