DNA vencedor: a trajetória do Bayern de volta ao topo da Europa

Apesar das trocas no comando, o time alemão nunca abriu mão dos títulos e do protagonismo dentro e fora do país

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  • Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bayern de Munique / Divulgação

Depois de sete anos a história voltou a se repetir. O fim da temporada 2012/13 deu início a um ciclo vitorioso que nem o torcedor mais otimista do Bayern de Munique podia imaginar. Na mesma década, o clube ostenta um octa campeonato alemão de forma consecutiva - sem dar nenhuma chance aos adversários de levar o título - cinco Copas da Alemanha, duas Liga dos Campeões e mais uma vez, em 2019/20, conquista sua segunda tríplice coroa. 

Apesar do sucesso, o elenco do Bayern passou por importantes mudanças nesse período, principalmente com a perda de ídolos do clube. Desde a final disputada contra o Borussia na final da Liga dos Campeões em 2013, apenas quatro jogadores considerados titulares permanecem no elenco: Neuer, Boateng, Alaba e Muller. Mas o que faz o clube alemão passar por esse processo de reformulação sem perder a sua identidade? O ‘Mia San Mia’ (‘Somos Quem Somos’) continua.

Apesar dos seis treinadores que comandaram o Bayern nas últimas sete temporadas, duas coisas ficaram bem evidentes. A primeira delas é que o futebol coletivo não deixou de ser executado com nenhum deles, desde a conquista tripla de Jupp Heynckes em 12/13 - esse um dos nomes mais importantes para o atual sucesso time, mas já já falaremos disso. A outra característica é, de fato, a obstinação do clube em vencer. 

Nenhum dos treinadores que deixaram o Bayern nesta últimas temporadas sofreram mais de 10 derrotas. E o aproveitamento foi de, no mínimo, 70%. Mas o que Karl-Heinz Rummenigge, diretor-geral do clube, preza é muito mais do que os números, e sim um elenco com DNA vencedor e que apresente o que a torcida bávara está acostumada a ver. Após a saída de Guardiola em 2016, que conquistou sete títulos em três temporadas e perdeu apenas nove jogos, o time de Munique apostou no veterano Carlo Ancelotti. Jupp Heynckes em sua festa de despedida como treinador do Bayern. A festa aconteceu em uma praça de Munique com milhares de torcedores (Foto: Reuters / Michaela Rehle) O italiano não teve um desempenho satisfatório e, ao sair, ressuscitou o nome que talvez nunca deveria ter saído de lá: Heynckes. Aos 73 anos de idade Jupp retornou para contornar a possível crise que os medalhões do elenco haviam começado com Ancelotti. Do banco, conquistou mais um campeonato alemão (o 4º de sua carreira) e, em 45 jogos, teve aproveitamento de 80%. 

Coincidentemente, foi nesse período que nomes como Kingsley Coman, Serge Gnabry e Niklas Sule chegaram ao elenco do Bayern e hoje substituem os ídolos que deixaram Munique. Mais uma vez o trabalho de Heynckes se mostrou fundamental e refletiu na atual conquista europeia do time.

O próximo capítulo talvez tenha sido o mais conturbado em meio aos inúmeros títulos do Bayern. Comandando o Frankfurt, o croata Niko Kovac derrotou o seu futuro clube na final da Copa da Alemanha de 2018, jogo que marcou a última partida da vida de Jupp Heynckes como treinador. A chegada era promissora mas mais uma vez o planejamento do CEO Rummenigge não caminhava na mesma direção do treinador. Kovac ficou à frente por 65 partidas, só perdeu cinco jogos e ainda conquistou os três títulos nacionais da temporada. 

Antes do momento da queda, que viria após sofrer um 5 a 1 contra o Frankfurt, a pior derrota do Bayern desde 2009, uma nova figura chegou nos bastidores do time. Hans-Dieter Flick, ou Hansi, como costuma ser chamado, entrou para integrar a comissão técnica e ser auxiliar de Niko durante sua gestão. Após a saída do croata, o treinador alemão guinou os bávaros de volta ao topo da alemanha.

A carreira de Hansi

O DNA vencedor que Karl-Heinz Rummenigge procurava já estava no seu banco de reservas. E o estilo de jogo intenso que aplica no Bayern não é por acaso, e está totalmente relacionado com sua carreira como treinador. 

Desde 2006 Hansi atua nessa função. Durante oito anos, Flick esteve ao lado de Joachim Low, comandante campeão da Copa do Mundo com Alemanha em 2014, e viveu todo o ciclo de sucesso que o país teve nesses últimos anos. Antes de chegar ao Bayern, ainda teve uma rápida passagem como gerente executivo do Hoffenheim. Ao chegar em Munique, a história de Hansi se cruza mais uma vez com o nome de Jupp Heynckes.  Hansi conquistou na temporada a Tríplice Coroa (Foto: Bayern de Munique / Divulgação) Os dois já haviam criado um laço quando, no final dos anos 80, quando o próprio Jupp, na sua primeira passagem pelo Bayern, treinou Flick, que era jogador. Ao assumir no fim de 2019 a função de treinador oficial do clube, Hansi ouviu de seu ex técnico que seria “o homem ideal” para aquele time. Em entrevista à revista alemã Kicker, o agora aposentado treinador comentou sobre o que esperava para a sequência da temporada 2019/20.

“Ele conhece o clube e a cobrança extrema por resultados em Munique. Não se trata de pequenos instantes, mas, sim, do know-how fundamental do treinador, sua expertise e seu lado humano, sua filosofia. Ele é uma joia de treinador. Um talento como esse precisa ser reconhecido e desenvolvido.” , destacou Heynckes - quase prevendo o futuro, não é mesmo? As aspas foram noticiadas anteriormente pelo site Trivela.

Passagem pelo Bahia

Pode até parecer fake news, mas acredite, não é. Hansi Flick já esteve no Fazendão e já bateu um papo sobre futebol com ninguém mais ninguém menos que Guto Ferreira. Em 2016, quando era coordenador técnico da Alemanha e a seleção se preparava para a disputa dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Flick promoveu um workshop no campo das dependências do Bahia sobre o processo de análise da seleção olímpica. Além do papo, distribuiu camisas para jogadores da base do Tricolor. A atividade foi auxiliada por Marcus Sorg, que hoje é auxiliar-técnico de Low no time principal.

Agora, de volta a 2020, além de sair vitorioso na Liga dos Campeões, Hansi ampliou seu contrato até 2023 com o clube. Em entrevista ao site oficial do Bayern de Munique, garantiu que os pilares para uma boa gestão são “lealdade, apreço e respeito um pelo outro” e que sem esse valores não é possível se “desenvolver com sucesso e significado”. “E digo sempre: estou muito satisfeito, por exemplo, com a maneira como nossa comissão técnica está estabelecida no Bayern. A maneira como trocamos ideia e o nível de confiança que temos é o ideal para mim, pessoalmente", completou.

Salvação do elenco

Bom, já que tudo passou a se acertar entre treinador e diretoria do clube, é importante destacar o papel do elenco nesse período. Entre as saídas e chegadas, apostas e sucessos do Bayern com contratações nos últimos anos, há um nome em comum e que até então é indispensável para as vitórias: Kathleen Kruger.

Agora com 35 anos, Kruger abandonou a carreira de jogadora de futebol em 2010 e se dedicou à gestão esportiva. Em 2012, a alemã, que já tinha sido atleta do clube, retorna agora como gestora sob a  confiança de Christian Nerlinger, diretor esportivo na época. Com a saída de Christian , ela se torna a gerente geral da equipe e assume o posto, considerado por muitos jogadores, como o mais importante do elenco. Kathleen vai à beiro do campo e se comunica direto com os atletas durante a partida (Foto: Imago Images)  Pense em uma função que cuidado relacionamento dos atletas com o técnico, diretoria, entre eles mesmos e até com suas famílias. Esse é o trabalho que Kathleen desenvolve no time alemão. Declarações como as de Muller, que afirmou que a união da equipe se deve ao seu trabalho “não importa o que aconteça no clube”, ou a de Ribéry, que contou que “sem ela, metade dos jogadores ficariam perdidos”, são só algumas provas do trabalho de gestão do Bayern, liderado pela ex jogadora. A relação com os atletas é tão importante que ela é a única da comissão a integrar os famosos grupos de WhatsApp dos jogadores.

Em 2016, quando deixou Munique rumo a Manchester, Pep Guardiola tentou levá-la para o City, mas recebeu uma negativa de J=Kruger pelo Bayern ser seu time do coração. E no momento em que o próprio b=Bayern cogitou sua saída, em 2012, Heynckes foi o primeiro a dizer: “Se Kethleen for embora, eu vou também”. Afinal, não se abre mão de um DNA vencedor e uma boa gestão quando se sonha alto. 

*sob orientação do editor Herbem Gramacho