Dodge pede federalização do Caso Marielle e acusa conselheiro do TCE-RJ

Segundo denúncia, Brazão teria arquitetado encenação para desviar foco de autores

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  • Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 17:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: ABr e TV Globo

Raquel Dodge e Domingos Brazão (Fotos: ABr e TV Globo) A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu nesta terça-feira (17), ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a federalização da investigação aberta no Rio de Janeiro para apurar supostas irregularidades na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Caso o pedido de federalização seja aceito pelo STJ, caberá à Justiça Federal, e não mais ao Judiciário local, o julgamento do caso.

No mesmo pedido de deslocamento da competência para julgamento, Dodge apresentou pedido de abertura de um novo inquérito contra suspeitos que teriam participado de uma "encenação de investigação" para conduzir a apuração a falsos mandantes e esconder a verdadeira autoria dos assassinatos.

O pedido foi feito após a procuradora analisar a tentativa de obstrução das investigações. Durante o processo de análise da federalização do caso, uma cópia da investigação que estava em andamento na Justiça do Rio foi solicitada pela procuradora, mas o compartilhamento de informações foi rejeitado pelo juiz responsável pelo caso.

Encenação Segundo a procuradora-geral, houve “um esforço” para que as investigações no Rio de Janeiro “passassem longe dos reais autores do crime”. Um dos denunciados é Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio. “Há inércia e dificuldade de investigar e identificar os mandantes, elucidando esta parte da trama criminosa”, justificou.

Ainda segundo ela, Brazão valeu-se do cargo e da estrutura do gabinete no TCE-RJ, acionou um dos servidores – um agente da PF aposentado – que exercia cargo no gabinete para engendrar simulação para conseguir desvirtuar a investigação, com ajuda do delegado da Polícia Federal Helio Khristian.

Conforme o inquérito, a disputa por pontos políticos estaria por trás da suspeita do possível envolvimento do conselheiro afastado. Ao analisarem o mapa eleitoral das localidades onde Marielle tinha mais votos, os investigadores perceberam que a vereadora concorria, em diferente pontos, com a família Brazão.

O documento revela ainda que o nome do ex-conselheiro aparece em troca de mensagens entre o miliciano Rodrigo Jorge Ferreira e a advogada Camila Moreira. A dupla teria arquitetado uma trama para apontar o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, além do vereador Marcello Siciliano, como autores do assassinato.

Em um dos diálogos, os agentes destacam que Ferreira é “conhecedor do submundo do crime carioca”, comentando o “curriculum de Brazão, que teria iniciado as atividades empresariais em ferros-velhos, atuando na receptação de carros roubados”. A investigação cita ainda que o ex-conselheiro seria ligado à base operacional do Escritório do Crime.

Mandato Dodge encerra nesta terça-feira (17) mandato de dois anos na PGR. Durante o período em que chefiou o Ministério Público Federal (MPF), a procuradora apresentou 64 denúncias contra 224 pessoas; 19 pedidos de homologação de delações premiadas, e 427 pedidos de extradição.

Para o lugar de Raquel Dodge, o presidente Jair Bolsonaro indicou o sub-procurador-geral Augusto Aras. Antes de tomar posse no cargo, Aras precisa ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e pelo plenário da Casa. A previsão é que a indicação seja votada em 25 de setembro.

Até a aprovação, a Procuradoria-Geral da República será chefiada interinamente pelo vice-presidente do Conselho Superior do MPF, Alcides Martins.