Dodge pede investigação federal do caso Marielle e denuncia conselheiro

Segundo procuradora-geral, houve 'desvirtuamento da investigação' original

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 21:21

- Atualizado há um ano

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A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, anunciou nesta terça-feira (17) que apresentou uma denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) apontando irregularidades na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Hoje é o último dia de Dodge como PGR e ela fez uma coletiva com balanço dos dois anos em que comandou o órgão. 

Ela pediu ainda que um novo inquérito em âmbito federal seja aberto para investigar quem são os mandantes do crime.  Se o STJ acolher a denúncia, caberá a ele determinar quem fica à frente da nova investigação.

"Estou denunciando Domingos Brazão [...] um funcionário dele chamado Gilberto Ferreira, Rodrigo Ferreira, e Camila, uma advogada e o delegado da Polícia Federal, Hélio Kristian. Eles todos participaram de uma encenação, que conduziu ao desvirtuamento das investigações", afirmou Dodge.

Quem são os denunciadosDomingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ; Gilberto Ferreira, funcionário do gabinete de Domingos Brazão no TCE-RJ; Rodrigo Jorge Ferreira (Ferreirinha), policial militar no Rio de Janeiro. Apontado pela Polícia Civil como testemunha-chave das mortes de Marielle e de Anderson Gomes. O PM apontou o vereador Marcelo Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como mentores do crime; Camila Moreira Nogueira, advogada de Rodrigo Jorge Ferreira; Hélio Kristian, delegado da Polícia Federal. Lotado na Delegacia Previdenciária da Polícia Federal, no Rio, o delegado recebeu Ferreirinha nas dependências da PF. A PGR deu detalhes do envolvimento de Domingos Brazão para tentar enganar a polícia durante a investigação do crime. "Domingos Brazão, valendo-se do cargo, da estrutura do seu gabinete no Tribunal Contas do estado do Rio, acionou um de seus servidores, agente da Polícia Federal aposentado, mas que exercia cargo nesse gabinete, para engendrar uma simulação que consistia em prestar informalmente depoimentos perante o delegado Hélio Kristian e, a partir daí, levar uma versão dos fatos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o que acabou paralisando a investigação ou conduzindo-a para um rumo desvirtuado por mais de um ano", diz.

As suspeitas levaram ao afastamento de Brazão do cargo - ele já responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em uma investigação ligada à Lava Jato. O ex-conselheiro negou envolvimento e afirmou estar indignado com a denúncia. "Já prestei os esclarecimentos voluntariamente à PF, para colaborar. O que eu soube é que a PF concluiu suas investigações e indiciou a advogada [Camila Nogueira] e o Ferreirinha. Não o conheço. Como também não conheço a doutora Camila. Estou afastado do TCE há 2 anos e meio. Como usei a estrutura do meu gabinete para influir na investigação? Só ouvi dizer na vereadora [Marielle Franco] em dois momentos: quando ela foi eleita, e depois desse trágico episódio, da morte dela e do motorista [Anderson Gomes]. Se alguém tentou envolver o vereador (Marcelo Siciliano) nessa história, não é problema meu", afirmou segundo o G1.

Os suspeitos foram denunciados por quatro crimes: embaraço a investigação de organização criminosa; favorecimento pessoal; falsidade ideológica; imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente.

O STJ confirmou que recebeu o material da PGR. O sorteio do relator que analisará o caso deve ocorrer nesta quarta-feira (18), a partir das 9h.