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Doenças respiratórias ampliam risco da covid-19


 

Período do ano favorece as alergias e doenças respiratórias, que tornam pacientes mais susceptíveis ao novo coronavírus

  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 06/07/2020 às 05:00:00
Atualizado em 21/04/2023 às 08:40:04
. Crédito: Shutterstock/reprodução

Na semana em que se comemora o Dia das Mães, Jaqueline Rocha, 35, teve uma das piores experiências da vida: sua filha Valentina, de apenas 3 anos, e o sobrinho,12 anos, ambos com quadro de asma, começaram a apresentar diarreia, febre alta e coriza. “Na época, fiquei desesperada, pois moro com minha mãe e padrasto, e ele tem 76 anos”, conta, lembrando que se mãe não fosse profissional de saúde, o pânico teria sido maior. “Fomos nos acalmando, passamos a contar com a orientação da pneumologista da minha filha e acompanhando, dia a dia, o quadro dos dois. Felizmente, o diagnóstico não se confirmou para a covid-19”, relata.

A agonia da família de Jaqueline é muito parecida com a de outras pessoas portadoras de alguma doença respiratória, a exemplo da asma, rinite, sinusite, bronquite e outras, afinal, esses portadores terminam ficando mais expostos ao agravamento de quadros de saúde com o novo coronavírus. Como se não bastasse, a mudança de estação trouxe as doenças respiratórias de inverno, cujos sintomas são facilmente confundidos com os da covid-19.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, existem mais de seis milhões de brasileiros acima de 18 com asma; e no mundo, 300 milhões, de acordo com estimativa da Organização Mundial de Saúde. Não bastasse o fato de que essas pessoas ficarem mais expostas à contaminação, muitos ainda precisam lidar com o preconceito com a sintomatologia que essas doenças possuem. Desde a infância, a consultora de vendas Poliana Araújo, 30, tem rinite alérgica que, eventualmente, se transforma em sinusite.

Por isso mesmo, é comum que as pessoas achem que ela está sempre gripada, afinal, o nariz escorrendo, dores de cabeça, respiração difícil e face inflamada não são novidade no seu cotidiano. “A gente sofre com o uso da máscara porque a respiração fica mais difícil do que para as pessoas que não tem nada, mas entendo que o incômodo tem uma função extremamente importante”, diz. Ela fala que, desde o início da pandemia, redobrou os cuidados que já eram grandes. “Conheço meu corpo e sei que no dia que esses sintomas não forem controlados com a medicação habitual, precisarei buscar assistência hospitalar”, afirma.

Perigo de inverno  Esse período do ano favorece as doenças respiratórias, já que o tempo mais frio aumenta a umidade do ar e faz com que as partículas em dispersão aérea fiquem mais tempo viáveis. “Com isso, é mais favorável a propagação de infecções virais, como o novo coronavírus”, explica a médica clínica Patrícia Bagano. 

A esse cenário soma-se o fato de que as crises alérgicas e doenças respiratórias afetam a imunidade dos pacientes, deixando-os mais vulneráveis. "As pessoas que têm asma ou que já se encontram infectadas por resfriados, gripes ou outras doenças respiratórias têm inflamação no sistema respiratório e aumento na produção de muco, o que favorece, sim, o contágio por covid-19", pontua a médica.

De acordo com o infectologista Matheus Todt, da S.O.S Vida, separar os sintomas do novo coronavírus e das demais infecções respiratórias, muito comuns nessa época do ano, tem sido um desafio para as equipes que atuam no combate à doença. “Na maioria desses quadros de infecção respiratória, há a presença de congestão nasal, tosse, dores de cabeça e no corpo, prostração, cansaço e febre, tornando o diagnóstico clínico algo quase impossível”, diz o médico. O médico Matheus Todt reconhece que separar, apenas com o diagnóstico clínico, a covid de outras doenças respiratórias é um desafio (foto: Divulgação)  Ele lembra que, em casos de portadores das doenças respiratórias, a presença de qualquer outra infecção, seja ela provocada pelo novo corona ou outros agentes, como o H1N1 e até mesmo a Influenza, tem o potencial de agravamento, podendo levar  a quadros fatais. “Daí a importância de estar atento para aqueles quadros gripais, quando, após o sétimo dia, o paciente passa a ter uma piora do quadro, com falta de ar e febre alta”, esclarece. 

Pós-covid O médico diz que as variações do coronavírus não possuíam um potencial inflamatório tão grande como o da covid-19. “Por isso que os sintomas gripais inspiram tantos cuidados e precisam ser vistos com o máximo de atenção”, explica.  O médico entende que, apesar do temor das pessoas em procurarem os postos de saúde e as emergências, é importante que não se descuidem para importância de uma intervenção rápida, pois o comprometimento causado pela covid -19 é muito rápido. “Nesses casos, a indicação é buscar a tomografia, pois o simples raio-x não aponta a extensão de danos no pulmão”, explica. 

O infectologista ressalta que o grande problema da covid-19 é a resposta inflamatória desenvolvida por alguns organismos.  Matheus Todt destaca que, apesar dos estudos ainda não conseguirem responder o porquê algumas desenvolvem a reação, é ela que leva a chamada tempestade inflamatória, responsável por levar às pessoas à UTI e às vezes a óbito. “Cerca de 80% dos pacientes contaminados com o novo coronavírus vão desenvolver sintomas leves, no entanto, 5% deles desenvolvem as formas graves e dentro desse universo, 45% pode morrer”, completa.

Para o médico emergencista do Grupo Vitalmed, Fernando Dias, a melhor forma de evitar vírus intrusos no organismo é manter o cuidado com a higiene pessoal: lavar as mãos com água e sabão, frequentemente; higienizar com álcool em gel 70% ou detergente objetos de uso coletivo, como maçanetas, torneiras, controles remoto, corrimão e interruptores de luz; respeitar o distanciamento social, evitar aglomerações e manter a asma sob controle.” portadores de asma seguir o tratamento da doença, tomar a medicação indicada pelo médico, evitar os gatilhos que podem levar a uma crise, como poeira, fumaça de cigarros, pelo de animais de estimação, variações climáticas bruscas e se precaver contra o novo coronavírus”, finaliza.

Saiba diferenciar as doenças: 

RINITE ALÉRGICA É uma inflamação que acontece na mucosa do nariz, como resposta do organismo diante do contato com substâncias identificadas como estranhas. O nariz é o responsável por proteger o corpo da inalação de produtos tóxicos ou irritantes, impedindo que essa substância chegue até o pulmão. Para atuar nessa defesa, o corpo produz espirros, coriza e obstrução nasal. Quando a reação é duradoura e muito exagerada, tem-se a rinite. Poeira, fungos, mofo, pólen, perfume, alimentos, bactérias, vírus, pelo de animal podem servir de gatilhos para essa inflamação. 

SINUSITE A inflamação da sinusite acomete toda a região do crânio: seios da face, nariz, olhos e se caracteriza por uma dor latejante entre os olhos e uma dor de cabeça que se assemelha ao desconforto que se sente ao engolir algo muito gelado. Gripes, resfriados e alergias podem provocar a inflamação nas mucosas, facilitando que microorganismos se instalem e predisponham à sinusite.

BRONQUITE  Inflamação dos brônquios, que são os canais que conduzem o ar inalado até os alvéolos pulmonares. A doença pode ser aguda ou crônica, dependendo da duração e do agravamento das crises e dos sintomas. A bronquite surge quando os cílios que revestem o interior dos brônquios param de eliminar o muco presente nas vias respiratórias e o excesso de secreção causa uma inflamação permanente que causa tosse. Pode demorar de três meses a dois anos consecutivos. Causada por vírus ou bactéria, tende a se agravar com o contato de poluentes ambientais e químicos (poeira, inseticidas, tintas, ácaros etc.). O cigarro é o principal responsável pelo agravamento da doença. A forma crônica da doença pode gerar pneumonia.

ASMA Os canais que levam ar aos pulmões ficam estreitos, dificultando a respiração. Durante as crises, expirar é mais difícil que inspirar e o ar viciado, preso nos pulmões, causa a sensação de sufocamento. A asma pode surgir em qualquer faixa etária, mas é mais comum na infância e tem um caráter hereditário. As gripes e resfriados costumam agravar os quadros de asma.

Dicas úteis para fugir das doenças respiratórias nesse inverno:

•    Mantenha o organismo hidratado; •    Evite fumar ou se expor a ambientes com muita poeira ou fumaça; •    Mantenha o ambiente arejado. As bactérias ficam concentradas em ambientes fechados, por isso é importante evitar esses locais fechados; •    Evite o contato com pessoas gripadas ou com resfriados, pois essas doenças são adquiridas pelo ar; •    Mantenha a respiração sempre pelo nariz e não pela boca, pois as narinas têm a função de filtrar o ar e aquecê-lo; •    Lençóis, edredons e roupas devem ser expostos ao sol e lavados sempre que necessário (as pessoas que já possuem problemas respiratórios como bronquite, asma e sinusite devem evitar o contato com bichos de pelúcia, tapetes e produtos que possuem pelos); •    A alimentação deve ser balanceada com sopas e caldos ricos em verduras e legumes. As frutas são essenciais, principalmente aquelas que contêm vitamina C, como a laranja, acerola e limão. Elas ajudam a prevenir gripes e resfriados.Fonte: HCor