Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Nelson Cadena
Publicado em 20 de abril de 2018 às 06:14
- Atualizado há um ano
Os três mais ilustres membros da família de Bragança no Brasil visitaram a Bahia em momentos e circunstâncias diferentes, mas, somente a Dom Pedro II lhe ocorreu fazer um diário de viagem, com anotações de seu próprio punho, registrando as suas impressões no dia-a-dia de sua longa jornada, em 1859, pelas províncias do Norte. Seu pai Dom Pedro I, já estivera antes na Bahia, em 1826, com a esposa Amélia e a amante Domitila - Marquesa de Santos - juntas. O soberano não teve nenhum escrúpulo em submeter a sua mulher a tamanha humilhação. Foi uma visita política, permaneceu apenas 19 dias entre nós e não fez qualquer registro.
Antes, em 1808, o Príncipe Regente Dom João VI, demorara-se por aqui um mês e quatro dias, enquanto aguardava a Corte se estabelecer no Rio de Janeiro, dispondo de residências para toda a comitiva. Dom Pedro II demorou na Bahia menos do que seu avô, mas, se permitiu uma visita mais ampla. Aportou em Salvador em 06/10/1859, ventava muito, anotou no seu diário que não sabia como não se constipou e descreveu as ruas como “estreitas e enlameadas” e a iluminação das casas como “bonitas e principalmente a do Forte do Mar “que de dia parece um empadão”. Na hora de se recolher admirou o luxo de seu quarto: “nunca vi tanta prataria”.
No dia seguinte o Imperador visitou o Arsenal da Marinha, deu um giro pela cidade, compareceu ao Te Deum na Catedral, “cuja música foi péssima”, e assistiu o sermão do Cônego Fonseca Lima que lhe pareceu “monótono” e com “elogios de mais”. Em seguida visitou igrejas e bebeu “agua boa”. No dia anterior queixara-se do gosto de ferro da água que lhe foi oferecida. Á noite foi ao Teatro onde “cantaram mal o Rigoletto e a orquestra também não presta”. E anotou: “Não vi nenhuma cara de senhora que me chamasse a atenção”. O que é que Dom Pedro II estava pensando? Deixa quieto. Fechou a noite lendo o Jornal da Bahia A 1 hora da manhã.
Na sequência da viagem visitou os sítios históricos da Guerra da Independência, a Faculdade de Medicina, o hospital e asilo dos expostos da Santa Casa de Misericórdia que mandou confeccionar uma cadeira de jacarandá com emblema da instituição em alto relevo para o Imperador sentar. Visitou também conventos, quarteis, prisões, assistiu aulas e enfadonhos discursos e visitou a Biblioteca Pública. Em 28 de outubro o Imperador foi ao Bonfim, admirou a “bela alameda de palmas dendê” da avenida dos Dendezeiros, registrou a sua admiração com “uma casa curiosa, toda cheia, de alto a baixo, de quadros de milagres e ex-votos e duas galerias laterais”.
Após visitou o Campo Santo, admirou os belos mausoléus construídos no espaço e seguiu a estrada da Federação até o Rio Vermelho. O imperador cita várias vezes a sua leitura do Jornal da Bahia que pelo visto lhe era fornecido pelo receptivo no seu quarto. Distribui esmolas, chamava—se assim, naquele tempo, para o arcebispo a quem solicitou repartir entre os vigários da cidade, para o asilo dos meninos abandonados da Santa Casa de Misericórdia, para funcionários de algumas instituições. Não era pouco dinheiro.
A sua visita à Bahia, não se limitou à capital, andou pelo recôncavo e se permitiu declarar para sim mesmo, já que o diário de viagem era íntimo, quando lhe desagradava, a bajulação excessiva ou se entediava com enfadonhos e chatos discursos e oratórias sem graça. Parte do diário do Imperador se perdeu, deixando de registrar alguns dos momentos por ele vividos na Bahia. É um diário rico em informações e impressões, com um toque de bom humor e ironia, sempre que as circunstâncias exigiam.