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Laura Fernades
Publicado em 16 de março de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Bastou a epidemia ser confirmada para as correntes de internet anunciarem: “Consumir Vitamina C e alho evita a contaminação pelo coronavírus”. Considerada fake news pelo Ministério da Saúde, em nota divulgada no site do órgão, a informação levanta a questão: um sistema imunológico forte é suficiente para livrar o indíviduo do coronavírus e das famosas viroses pós-Carnaval?>
Na verdade, não, mas aumenta - e muito - as chances de recuperação em caso de contaminação. Como? O que esse sistema poderoso é capaz de fazer para contribuir com a batalha que assola o mundo? Como fortalecer o sistema imunológico? Quais são os fatores que desequilibram esse aliado do corpo? É isso o que especialistas consultados pelo CORREIO vão explicar nesta matéria.>
Para além das recomendações de lavar as mãos com frequência, usar álcool gel e máscaras, imunologistas, infectologistas e profissionais de outras áreas indicam uma série de ações para tornar o corpo mais resistente. Afinal, não só o coronavírus está ameaçando a população, mas doenças já conhecidas como H1N1 (ou gripe suína), dengue, zika e chikungunya, só para citar algumas. (Foto: Shutterstock) O primeiro passo indicado pelos especialistas é entender que o sistema imunológico - conhecido como o exército de defesa do corpo - é complexo e composto por vários componentes. De uma maneira simplificada, ele inclui o chamado sistema imune inato (as barreiras de proteção natural do corpo, como a própria pele e as mucosas) e tem uma cadeia de células que circulam no sangue, conhecidas como anticorpos.>
“O sistema imunológico é uma maneira de ter equilíbrio entre o meio exterior e o organismo. Esse sistema está constantemente sendo desafiado. Quando ocorre a quebra desse equilíbrio, o excesso ou a falta de funcionamento pode levar a problemas”, explica o imunologista Regis Campos, 55 anos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.>
Fraquezas Outro ponto importante, continua Campos, é que o sistema do indivíduo oscila e isso é normal. São inúmeros os fatores que fazem com que ocorra essa oscilação, como a qualidade da alimentação, do sono, a agressividade do agente infeccioso, a preexistência de outras doenças, o uso de medicamentos e a programação genética do indivíduo. Ou seja, cada caso é um caso.>
Então, vamos com calma para entender melhor como lidar com esse aliado na defesa do corpo. Já se sabe que o sistema imunológico é como se fosseum exército “pronto para te defender dos agressores”, reforça a infectologista Nanci Silva, professora da Escola Bahiana de Medicina com mais de 30 anos de experiência na área.>
“Em um processo viral, quem entra em ação é ele. É a sua defesa. A pele é um sistema imune? É. O fígado é um sistema imune? É. Todos os órgãos produzem células, é um maquinário fenomenal e complexo”, afirma Nanci. E quais são os fatores que enfraquecem esse exército? O cigarro é um deles, afinal “a pessoa que fuma queima as células do nariz que existem para proteção e aumenta os riscos de ter doenças”, explica a infectologista.>
Além disso, uma noite mal dormida é capaz de aumentar a chance de adquirir doenças infecciosas, como pneumonias e gripes, acrescenta a otorrinolaringologista e médica do sono Cristina Salles. “Os distúrbios do sono, horas de sono comprometidas, tornam o organismo mais susceptível a doenças infecciosas devido a uma resposta imunológica inadequada ao combate da infecção”, explica.>
O consumo de álcool, a má alimentação, o excesso de exercícios de alto rendimento que desgastam o corpo e o uso de alguns medicamentos também diminuem a imunidade. Os corticoides, por exemplo, quando usados por um período pequeno são capazes de diminuir o processo inflamatório, mas se usados por um período longo podem diminuir a produção da defesa do corpo, explica o imunologista Regis Campos.>
A falta de saúde mental é outro fator que merece atenção. “É preciso estar forte como um todo. O indivíduo quando está deprimido, também tem deficiência. O alcoólatra, por exemplo, também deprime”, alerta a infectologista Nanci Silva. “O sistema imune é extremamente importante para a defesa. O que as pessoas devem fazer é evitar essas coisas que destroem”, indica. “Importante é tentar manter uma vida saudável”, acrescenta. (Foto: Shutterstock) Força Então, afinal, como fortalecer o sistema imunológico? Como era de se esperar, através de uma boa noite de sono, da prática saudável de exercícios físicos e de uma boa alimentação. A hidratação também é importante, já que é capaz de diminuir a febre e aumentar a produção de urina, um dos caminhos pelos quais os vírus e as bactérias são eliminados do corpo.>
“O top da lista é a hidratação. Se a pessoa não bebe líquidos, nossas secreções ficam concentradas, então os vírus e as bactérias vão se multiplicar mais rápido. O excesso é eliminado no suor, nas fezes e na urina. Se não está hidratado, o corpo não produz urina”, explica a chefe de Nutrição do Hospital Português, Gildete Fernandes.>
Quando o assunto é alimentação, é importante manter uma dieta equilibrada e rica em frutas, vegetais e proteínas. “A albumina é a base da imunidade da gente, é a proteína que permeia todos os músculos e tecidos. É produzida no fígado, a partir da alimentação. Com a albumina baixa, a gente não tem formação de célula nenhuma”, explica Gildete.>
E a tão falada Vitamina C, que virou alvo de fake news? “Vitamina C não mata bactéria, nem vírus nenhum. O alimento não mata nada, mas vai te fortalecer para você reagir melhor”, afirma a nutricionista. Por isso, a solução para aumentar a imunidade é investir na qualidade de vida melhor como um todo.>
E com isso o indivíduo está livre das doenças? “Com o sistema forte, a chance de se recuperar de um processo grave é infinitamente maior. Mas se trabalhar com tudo perfeito, às vezes a quantidade de microrganismos é grande”, explica Nanci. Por isso a infectologista destaca a importância da vacinação. “Trabalhamos com redução de danos. E todo mundo precisa fazer sua parte”, alerta. (Foto: Shutterstock) Dez dicas para fortalecer o sistema imunológico >
Hidratação Diminui a concentração de secreções que eliminam bactérias e vírus (urina, fezes e suor). Beba água, chás, cafés, caldos e frutas ricas em água como abacaxi e melancia.>
Alimentação Tenha uma alimentação rica em frutas, vege- tais e proteínas. Quan- to mais colorido o prato, melhor: garante a Ingestão de vitaminas e minerais eliminados na transpiração.>
Proteína Base da imunidade, a albumina é a proteína que permeia todos os músculos e tecidos. É produzida no fígado, a partir da alimentação. Fonte: carnes, arroz, feijão, lentilha.>
Vitamina C Não mata bactérias e vírus, mas fortalece a imunidade. Fonte: tan- gerina, limão, laranja, mamão. A pastilha tem dez vezes a quantidade ideal (85 mg), sendo eliminada na urina.>
Higiene Lave as mãos da forma correta e higienize os alimentos (uma colher de sopa de 15 ml de cloro, em um litro de água). Processo importante, para evitar as infecções cruzadas.>
Sono Ter uma boa noite de sono favorece a renovação celular e diminui a chance do indivíduo de adquirir doenças infecciosas, tais como pneumonias e gripes.>
Cigarro Evite fumar, porque o cigarro queima as células do nariz que existem para proteção. Aumenta os riscos de doenças, porque abre a mucosa para a entrada de vírus etc.>
Bebida Evite bebidas alcoólicas em excesso, porque comprometem e sobrecarregam o fígado. Este é respon- sável por produzir e eliminar as toxinas do organismo.>
Mente Cuide da saúde mental, porque o indivíduo que está deprimido tem o sistema imunológico comprometido. quem é alcoólatra, por exemplo, pode deprimir e diminuir sua resistência.>
Vacina A vacina é o que mais diminui a incidência de doenças. Muitas vezes o agente causador é muito agressivo e o corpo com imunidade forte não é capaz de combater. (Foto: Shutterstock) Evento sobre o sono é cancelado por causa do coronavírus>
Um dos fatores importantes para o aumento da imunidade e da renovação celular, o sono serve de mote para a Semana do Sono 2020, que aconteceria essa semana em Salvador, mas foi cancelada por conta da pandemia do coronavírus.>
Promovida pela Associação Brasileira do Sono (ABS), a campanha de conscientização social busca fazer um alerta sobre a importância do sono para a saúde física e mental. “Todos os médicos do sono estão mobilizados para conscientizar a população de que 60% das pessoas têm algum distúrbio do sono”, explica a otorrinolaringologista e médica do sono Cristina Salles.>
Cristina destaca que é importante sensibilizar a investigação diagnóstica precoce e o tratamento, além de chamar a atenção para o fato de que o sono de pouca qualidade pode estar associado a diversos fatores. Entre eles, o comprometimento do sistema imunológico, as doenças cardiovasculares, a obesidade e a hipertensão arterial.>
Além disso, a médica do sono ressalta que a privação do sono está relacionada ao comprometimento da memória, à irritabilidade, à dor de cabeça, ao comprometimento do rendimento escolar e profissional e aos acidentes automobilísticos.>
Outro ponto destacado pela profissional é que a redução das horas de sono também é capaz de aumentar a chance de desenvolvimento de câncer, como o de mama. “Logo, a melhor qualidade do sono permitirá sonhar com um envelhecimento de melhor qualidade quando comparado aos indivíduos que têm sono comprometido”, defende Cristina.>
Fome Além da imunidade mais baixa, a médica destaca que estudos têm demonstrado que os indivíduos que dormem menos - seja por privação do sono, seja por redução das horas de sono - têm maior possibilidade de ganhar peso do que aqueles indíviduos que dormem cerca oito horas por noite.>
“A redução das horas de sono aumenta a ação do hormônio que gera sensação de fome e diminui o hormônio que dá sensação de saciedade. Como consequência, há o aumento do apetite e da fome, a maior ingestão alimentar e maior probabilidade de desenvolver a obesidade”, justifica Cristina.>
Questionada por que as pessoas estão dormindo menos, a médica do sono explica que o fenômeno está associado à exposição a luz, relacionado a estímulos como celular, televisão e luz branca, que interferem na liberação do hormônio chamado melatonina. “Quanto maior a exposição à luz, menor a liberação da melatonina, consequentemente menos horas de sono”, conta.>
Dicas para uma boa noite de sono - Ir para a cama com sono - Manter o quarto escuro e silencioso à noite - Manter a temperatura do quarto confortável - Caso precise levantar durante a noite, procure usar lâmpadas adequadas evitando luz branca ou azul - Evitar o uso de medicamentos para o sono sem prescrição médica - Evitar fazer atividades na cama como assistir TV, usar smartphones, ler e-mails - Evitar alimentação pesada próximo do horário de dormir - Evitar o uso de bebida alcóolica e alimentos ou bebidas que contenham cafeína próximo do horário de dormir - Praticar exercícios físicos regularmente evitando os mesmos perto do horário de deitar - Evitar tabagismo>
Horas de sono recomendadas por faixa etária>
Recém-nascido - De 14h a 18h por dia 3-5 anos - 13h a 15h por dia 6-12 anos - 9h a 11h por dia Adolescência - 8h a 10h Vida adulta - 7h a 9h; média de 8h por dia >