Duas mulheres prestam depoimento contra ginecologista por abuso sexual: 'Quero justiça'

Oitiva do suspeito já está agendada, mas a data não pode ser divulgada

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  • Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Reprodução/GoogleMaps)

Duas mulheres que denunciaram o médico Leonardo Palmeira, ginecologista do Centro Estadual de Oncologia (Cican), por estupro e abuso sexual já foram ouvidas pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas. A Polícia Civil informa que a oitiva do suspeito já está agendada, mas a data não pode ser divulgada.

Uma das vítimas do médico, Elisangela Leal de Jesus, de 46 anos, conta que sofreu abuso sexual no dia 18 deste mês. Ela, que já fazia acompanhamento médico há mais de dois anos no Cican, na Avenida Vasco da Gama, em Salvador, passou por um procedimento cirúrgico em junho de 2021 e só conseguiu marcar outro exame preventivo com o médico Leonardo Palmeira, já que sua médica estava de férias. 

Durante o exame preventivo, Elisangela, que é técnica de enfermagem, começou a notar atitudes suspeitas por parte do médico. Depois de utilizar o aparelho para realizar o procedimento, o suspeito afirmou que teria que fazer um exame mais profundo. “Ele deslizou a mão sobre a minha coxa e já surgiu um alerta, mas eu preferi pensar que tinha sido sem querer. Ao introduzir os dedos, ele começou a fazer gestos de vai e vem e então eu percebi que estava sendo abusada”, relata. 

Elisangela conta que pediu três vezes para que o médico parasse de fazer o movimento, mas ele só parou quando ela percebeu que o homem já estava inclinando o corpo em sua direção e gritou para que ele se afastasse. “Ele saiu e tentou se justificar, mas eu sei como é feito o procedimento, faço há anos e sou profissional da área da saúde. Ele disse que estava tentando apalpar o útero, mas isso não existe, só quando as mulheres estão grávidas para verificar a dilatação”, afirma a vítima. 

A técnica de enfermagem espera que Leonardo Palmeira perca o direito de exercer a medicina e que a justiça seja feita. Ela afirma que conhece oito mulheres que passaram pela mesma situação e que duas delas vão fazer a denúncia na segunda-feira (31). “Eu me senti um lixo, porque o ser humano vai se tratar de um problema, mas chega lá e o médico, que tem o dever de te tratar e cuidar, acaba te causando mais lesão”, declara. “É muito ruim passar por tudo isso, mas pela dor que estou carregando aqui e por outras mulheres, eu vou mostrar minha cara e dizer que fui abusada sim e quero justiça. Eu não tenho vergonha, quem tem que ter vergonha é ele [o acusado], que não cumpriu com o juramento de ética que todos os médicos precisam fazer”, diz ela, chorando.  (Foto: reprodução/arquivo pessoal) A delegada Bianca Andrade, da Delegacia da Mulher de Brotas, informou à TV Bahia que um especialista em ginecologia deve acompanhar o inquérito para fornecer informações sobre procedimentos médicos. "Já solicitei ouvir um especialista nessa área para saber como funciona. Eu não sou técnica, então solicitei uma pessoa que possa me dizer quais as condutas, o que é feito, o que não é feito, para que eu possa fundamentar (o inquérito)", disse a delegada.    Ainda segundo ela, o médico ainda não foi ouvido por uma questão processual, já que a oitiva do acusado ocorre no final das investigações. "O investigado é interrogado por último. Primeiro faço todas as diligências e depois eu chamo ele. A advogada já veio aqui duas vezes e disse que ele está à disposição, mas essa oitiva dele é o último ato", conclui. 

O Cican informou que o médico acusado foi afastado de suas funções. Já a Sesab afirmou, por meio de nota, que há uma sindicância aberta e, durante o procedimento de investigação, não vai comentar sobre o caso. “Adicionalmente, há uma investigação policial em curso. O profissional encontra-se afastado até a conclusão da sindicância”, diz o comunicado.

* Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo