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Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2022 às 10:37
- Atualizado há 2 anos
A cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras foi ocupada nesta sexta-feira, 8, pelo cantor, compositor e escritor Gilberto Gil. Ele foi eleito com 21 dos 34 votos dos acadêmicos, em novembro de 2021. "Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora", afirmou Gil durante a solenidade, realizada no Petit Trianon, Rio de Janeiro. A atriz Fernanda Montenegro, empossada na ABL em março deste ano, foi a responsável pela aposição do colar.>
"Não só porque a ABL é a casa de Machado de Assis, escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL representa a instância maior, que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país". Foi assim que o músico iniciou o discurso na cerimônia de posse. Em sua fala, Gil defendeu uma escrita antirracista e menos elitista, citou escritores brasileiros como o cearense José de Alencar e o carioca Antonio Candido. Além de reforçar a importância da música popular brasileira para o fortalecimento da cultura do País.>
Para uma literatura de aproximação e acessível, Gil reforçou a necessidade de cair no esquecimento o "complexo de inferioridade nacional que só reconhece valor no estrangeiro". Ele relembrou papéis desenvolvidos não só na área cultural, mas também no meio político. Entre 2003 e 2008, o músico foi ministro da Cultura na gestão Lula.>
O baiano ainda resgatou a história pessoal de sua família. "Sou filho de uma professora primária e um médico. A eles devo o meu amor às letras e à música. A imagem dos meus pais está comigo nessa noite e sua memória para mim é uma benção", disse emocionado. Ele citou a dor de perder um filho, Pedro Gil, que faleceu em 1990. "Mas não desanimo, porque é preciso resistir, sempre". Na sequência, agradeceu o apoio e finalizou o discurso dando uma paleta da música ‘Luar’. "Se a noite inventa a escuridão, a luz inventa o luar, o olho da vida inventa a visão, doce clarão sobre o mar", cantou timidamente. "Essa é nossa aposta na vida e na alegria", resumiu.>
Em sua conta oficial no Twitter, o artista evocou a capa do segundo LP. "Apareço envergando um fardão e usando pincenê", escreveu ao descrever o figurino que vestia, uma espécie de comparação com a vestimenta dos membros da ABL. Para esta situação, ele escreveu um poema e compartilhou nas redes.>
"Um amigo lembrou-me outro dia, que as ironias sempre trazem seu revés. Papéis trocados, eis aqui, vida vadia: fardão custoso, bordado a ouro, vistoso, me revestindo da cabeça aos pés", narrou alguns versos.>
Gilberto Gil emerge de terras baianas. Nascido em Salvador no dia 26 de junho de 1942, ele foi um dos representantes do movimento Tropicália, que efervesceu a música brasileira em meados da década de 1960.>
A trajetória musical abarca ao menos 60 discos e cerca de 4 milhões de cópias vendidas. Entre eles: "Gilberto Gil" (1969), "Expresso 2222" (1972) e "Refazenda" (1977). Álbuns considerados importantes para a ascensão da bossa nova. Veja a solenidade completa:>
O artista não tem livro publicado, no entanto, teve 400 de suas músicas reunidas na obra ‘Todas as Letras’. Antes, a cadeira de nº 20, era ocupada pelo jornalista e advogado Murilo Melo Filho, que morreu em maio de 2020. Já passaram por ela: Múcio Leão, Emílio de Meneses, Humberto de Campos e Aurélio de Lyra Tavares.>