É preciso ter atenção redobrada com o coração em tempos de covid-19

No Dia do Cardiologista, confira as dicas do especialista

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  • Do Estúdio

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no Brasil e no mundo. Em 2017, foram registrados 17,79 milhões óbitos no planeta resultantes desse fator, correspondendo a 31,8% do total. A preocupação com a saúde do coração aumenta, sobretudo, nesse período da pandemia da covid-19, quando as pessoas com problemas cardíacos estão no grupo de risco.

Hoje é o Dia do Cardiologista, data criada para reforçar a importância do trabalho deste profissional, que vem enfrentando novos desafios nos últimos meses, sejam eles de ordem científica – como entender a nova doença – ou técnica, com a implementação de novas práticas de atendimento, como a telemedicina. Para a alertar a população sobre os cuidados com a saúde do coração, conversamos com o cardiologista Joberto Sena, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular (FUNCOR) da Sociedade Brasileira de Cardiologia Seção Bahia, que traçou um panorama da relação da covid-19 com as doenças cardiovasculares e trouxe orientações sobre como podemos nos cuidar.  

A primeira delas é não esperar ter um problema para procurar um médico. “Os cuidados com o coração devem iniciar precocemente. Hoje recomenda-se que as gestantes realizem, através de ecocardiograma fetal, a pesquisa de cardiopatia congênita durante a gravidez. Há tratamentos que podem ser propostos desde a fase intrauterina e ou logo após o nascimento”, explica Joberto Sena. 

“Para a prevenção de doenças adquiridas deve se combater a obesidade, o colesterol alto e detectar alterações da pressão arterial ainda na infância. Há fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de doença cardiovascular, principalmente o infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico, que devem ser controlados e tratados o quanto antes, reduzindo a ocorrência de eventos”, reforça o médico.

A prática regular de atividades físicas, alimentação apropriada, controle do peso, do colesterol, dos níveis de glicemia e do tabagismo são medidas que promovem uma saúde cardiovascular de melhor qualidade, de acordo com o especialista, já que existem os fatores de risco não modificáveis, como o sexo, a idade e questões hereditárias. “Por isso, o acompanhamento dos idosos e o conhecimento da história de doenças prévias em familiares fazem parte de uma boa anamnese clínica”, afirma. O cardiologista Joberto Sena (foto: divulgação) Sinais de alerta O médico indica a procura do pronto atendimento caso a pessoa esteja sentindo qualquer dor na região do tórax, geralmente a clássica, que pode irradiar para o braço esquerdo e ir para as costas e está associada a náusea e suor frio. “Toda persistência de dor torácica que dure mais do que 20 minutos deve ser sempre um alerta”, diz. Perda de força súbita no braço, de articulação da fala, desvio de rima labial e tontura podem representar um acidente vascular encefálico, conhecido como derrame. “Estes são os principais sinais de alerta, mas dor no peito, palpitação, falta de ar e cansaço desproporcional também podem merecer um encaminhamento pra emergência”, afirma Joberto Sena.

A pandemia do novo-coronavírus afastou muita gente dos consultórios e hospitais, inclusive das emergências por medo de contrair a doença. E isso trouxe uma consequência alarmante. O cardiologista relata que o percentual de morte súbita em casa aumentou no mundo. “Na região da Lombardia, na Itália, em Nova York e aqui também no Brasil já há dados apontando para isso”, explica. O médico recomenda que, se a pessoa apresentar alguns dos sintomas clássicos, siga para a emergência, reduzindo as complicações, principalmente se for um infarto ou um derrame.

O especialista esclarece que grandes hospitais em todas as cidades, inclusive Salvador, articularam rotas de atendimento específicas para paciente com e sem covid-19. O Santa Izabel, por exemplo, intensificou os cuidados no atendimento, criando esses fluxos, seguindo protocolos internacionais de segurança e qualidade. A instituição também reforçou a higienização e o uso de equipamentos de proteção individual, dentre outras medidas para reduzir o risco de infecção.

Para o médico, iniciativas como estas fizeram com que a qualidade do atendimento pudesse continuar. “Isso dá mais segurança tanto para o paciente quanto para a equipe e, com certeza, é uma medida essencial para a continuidade da assistência”, relata. Outra mudança positiva apontada por ele foi a adoção da telemedicina. “Permitiu que muitos pacientes conseguissem informações para tirar dúvidas ou mesmo seguissem com os tratamentos habituais com seus médicos, tendo acesso a informações de qualidade e, às vezes, poupando saídas desnecessárias”.

Em forma Em dezembro do ano passado, o delegado de polícia Walmir Maia Rocha Lima Filho, 72 anos, passou por um procedimento com o cardiologista, quando foi colocada uma válvula em sua aorta. “Eu tinha uma estenose aórtica, que é o bloqueio da saída do sangue para os pulmões. O procedimento foi um sucesso e, em menos de 48 horas, eu já estava em casa, pleno de saúde. No quinto dia voltei às atividades físicas e à academia de ginástica”, relata. Mesmo depois das restrições impostas pela pandemia, Walmir Maia, que manteve sua atividade profissional, não se descuidou. “Tenho obedecido as recomendações médico-sanitárias, sem exagero, e caminho na praia por uma hora”, afirma.

Com a reabertura das academias na segunda-feira passada, muita gente pode ter o ímpeto de voltar com tudo na malhação para recuperar o tempo perdido, mas o ideal é procurar um especialista antes e saber se está tudo bem. “Muitos ficaram parados, ganharam peso, consumiram mais álcool que o habitual e, certamente, vão precisar de uma atividade progressiva no retorno”, diz o cardiologista, que aconselha: “É sempre importante que as pessoas, principalmente aquelas que aglomeram maiores fatores de risco, passem no seu médico antes para poder fazer uma avaliação prévia”.

Covid e coração Duas pesquisas publicadas em 27 de julho pela revista Jama Cardiology trouxeram evidências relacionadas aos efeitos do coronavírus Sars CoV-2 sobre o tecido do coração. Uma delas, realizada com autópsias de 39 pacientes, apontou a presença do vírus no miocárdio em 60% dos casos. “Estudos mostram que a covid-19 tem uma manifestação mais grave nos pacientes que já possuem alguma cardiopatia estrutural. Esse é o subgrupo que tem o pior desfecho clínico, já que a própria covid pode desencadear algumas complicações, desde tromboses a infarto, miocardite, que é a inflamação do músculo cardíaco, gerar arritmias, que são alterações do ritmo cardíaco”.

A outra pesquisa publicada na revista especializada foi realizada em 100 pacientes recuperados de covid-19 e demostrou que 78% deles tiveram uma inflamação no coração diagnosticada por ressonância magnética, mesmo semanas após a recuperação. “Certamente, a gente tem muito a aprender sobre essa doença, mas existe sim uma correlação de piora do perfil cardiovascular nos pacientes que tiveram covid-19. Isso já está sendo bastante demonstrado, principalmente nesses estudos que utilizam a ressonância e avaliam estes pacientes mais tardiamente”, completa o médico. As pesquisas deixam como alerta a necessidade de um acompanhamento cardiológico durante e após a infecção.

Este conteúdo foi produzido pelo jornal Correio com apoio do Hospital Santa Izabel.

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