Eduardo Bolsonaro sugere 'novo AI-5' para conter esquerda no Brasil

Filho do presidente já havia afirmado na Câmara que a polícia seria acionada em caso de protestos semelhantes ao do Chile

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  • Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2019 às 12:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gabriel Biló/Estadão Conteúdo

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defendeu em entrevista à jornalista Leda Nagle medidas drásticas - como "um novo AI-5" - para conter manifestações de rua como as que ocorrem no Chile atualmente. O filho "03" do presidente Jair Bolsonaro já havia afirmado em discurso no plenário da Câmara na última terça-feira, 29, que a polícia deveria ser acionada em caso de protestos semelhantes e o País poderia ver a "história se repetir". Na ocasião, ele não se referiu a que período se referia. A entrevista foi gravada no dia 28 - um dia antes da declaração dada em plenário - e veiculada nesta quinta-feira, 31.

"Se a esquerda radicalizar a esse ponto, vamos precisar dar uma resposta.E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada via plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada", afirmou. O Ato Institucional nº 5 foi o mais duro instituído pela ditadura militar, em 1968, ao revogar direitos fundamentais e delegar ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares, intervir nos municípios e Estados. Também suspendeu quaisquer garantias constitucionais, como o direito a habeas corpus. A partir da medida, a repressão do regime militar recrudesceu.

Assista.

Essa é a segunda vez em menos de uma semana que Eduardo faz uma declaração flertando com a ditadura militar. Na terça-feira, 29, um dia depois da entrevista, o deputado afirmou no plenário da Câmara que se houver no Brasil manifestações semelhantes às que ocorrem no Chile, os manifestantes “vão ter que se ver com a polícia” e, caso haja uma radicalização nas ruas, “a história irá se repetir”, sem explicar a que fato histórico se referia.

“O chile é a referência da américa latina com relação à economia, a maior renda per capita da américa latina, a referência em previdência quando José Piñera fez as reformas nos anos 1980 sob a presidência de Pinochet, botou o chile num circulo virtuoso que até hoje, mesmo quando entra uma esquerdista como a Bachelet no poder, ela mão consegue alterar lá vige a capitalização, aqui vige o estado grande, onde essa galera está doida para voltar no poder pra mamar de novo nas estatais, para mamar de novo nos fundos de pensão. Então é isso que está acontecendo no brasil. Não vamos deixar isso aí vir pra cá.

Se vier para cá, vai ter que se ver com a polícia. E se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar", disse o deputado.

A Constituição de 1988 rejeita instrumentos de exceção e destaca, em seu primeiro artigo, como um de seus princípios fundamentais, que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito.

A declaração ocorreu em resposta a uma pergunta sobre a participação do Foro de São Paulo nas manifestações chilenas. Eduardo disse que dinheiro do BNDES foi usado por Cuba e Venezuela para financiar movimentos de esquerda na América Latina. "Nós desconfiamos que esse dinheiro vem muito por conta do BNDES que, no tempo de Dilma e Lula (...). Por que não a gente achar que esse dinheiro vai voltar pra cá para fazer essas revoluções?", questionou de forma retórica. "Agora eles têm condições de financiar, de bancar isso num nível muito maior aqui na América Latina", complementou.

"A gente, em algum momento, tem que encarar de frente isso daí. Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam, se sequestravam grandes autoridade como cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares", disse. "É uma guerra assimétrica, não uma guerra onde você está vendo seu inimigo do outro lado e você tem que aniquilá-lo, como acontece nas guerras militares. É um inimigo interno, de difícil identificação aqui dentro do País. Espero que não chegue a esse ponto, mas a gente tem que estar atento."

Durante a campanha eleitoral, um vídeo em que Eduardo afirma ser necessário apenas "um cabo e um soldado" para fechar o Supremo Tribunal Federal causou polêmica. Na entrevista à Leda Nagle, ele diz que apenas citou uma brincadeira que ouviu na rua.

Procurado, o Palácio do Planalto não se pronunciou sobre as declarações.