‘Ela é amor’, diz candomblecista sobre Nossa Senhora da Conceição da Praia

Festa deste ano teve emoção, chuva de pétalas de rosas, chuva de água e novidades

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  • Gil Santos

Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Foram duas horas sacolejando na estrada até o candomblecista Davi Sampaio, 55 anos, chegar em Salvador para assistir à missa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição da Praia, no bairro do Comércio. Ele saiu de Cruz das Almas, no Recôncavo, às 3h, na quarta-feira (8), para cumprir um rito que repete há 30 anos. As celebrações em reverência à santa começaram com uma alvorada às 4h e teve missa durante todo o dia.

Davi assistiu a cerimônia da calçada da igreja. Por conta do risco de transmissão da covid-19 o acesso do público foi limitado e uma multidão teve que ficar do lado de fora. Com as vestes típicas do povo de santo, ele contou que mesmo após seguir o candomblé como religião manteve a devoção pela santa católica que aprendeu ainda menino.

“Hoje (quarta-feira, 8) é um dia de amor, porque fé é amor. E é uma data especial e um dia de alegria, porque Nossa Senhora é amor. Sempre tive fé nela, vi uma graça ser alcançada e mantenho minha devoção. O fato de ter outra religião não diminuiu o meu amor”, disse. Imagem ficou do lado de fora recebendo o carinho do público (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A imagem que seguiria em carreata até a Basílica Santuário Senhor do Bonfim foi colocada na calçada, ao lado de São José, e se tornou ponto de oração, agradecimentos e fotos, muitas fotos. Enquanto isso, do lado de dentro, às 9h30, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, cardeal D. Sérgio da Rocha, dava início a principal celebração do dia. Assim como Davi, ele falou que fé e religião devem simbolizar amor e cobrou compromisso dos devotos com as medidas sanitárias.

“Nossa mensagem nesse dia é de esperança e de paz. A esperança que vem da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, mas também de um novo tempo podendo superar a pandemia. E com a responsabilidade de cada um de nós, em não podemos descuidar com as medidas para preservar a vida e a saúde. A festa é louvor, alegria, esperança e paz, mas também é compromisso com a saúde e com a vida”, disse. Ele teve covid em maio. Dentro da igreja, devotos agradeceram e fizeram orações (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O público aproveitou os minutos antes do início da missa para oferecer rosas brancas para Nossa Senhora e fizeram orações. Raimunda Santana foi comemorar os 101 anos que fez, na quarta-feira, com a santa. Já Maria Rita Soares, 48 anos, agradeceu pela recuperação do filho e da mãe dela, os dois tiveram covid, e fez um pedido que preferiu não revelar.

"Nossa Senhora é mãe e sabe como nosso coração fica apertado quando essas coisas acontecem. Meu filho e minha mãe tiveram sintomas e eu fiquei muito preocupada porque conhecemos pessoas que morreram dessa doença. Eles se recuperaram e vim agradecer. Fiz um pedido também, mas prefiro não contar até ele ser atendido", disse.

Quem não conseguiu um lugar para sentar acompanhou a celebração em pé, nos corredores e com terço nas mãos. O coral também se destacou. Com representantes em cada uma das dez sacadas internas do templo os cantos encheram o interior da igreja e provocaram aplausos. Policiais militares, guardas municipais e agentes de trânsito ajudaram a ordenar a festa. Por conta da limitação, houve fila para entrar no templo. Mesmo do lado de fora fiéis acompanharam a missa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Mudanças Este ano a quantidade de público cresceu. No ano passado, quando ainda não existia vacina, a missa foi restrita a uma quantidade menor de fiéis. Desta vez, mesmo quem ficou do lado de fora pode participar dos ritos da cerimônia, como o recebimento da hóstia, levada até os portões pelos sacerdotes. Antes de receber o corpo de Cristo, porém, uma borrifada de álcool nas mãos de cada devoto. A santa deixou a igreja por volta das 12h, sob uma chuva de pétalas de rosas e também sob chuva de água.

A segunda mudança foi que no caminho até o Bonfim houve uma parada na igreja de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio, onde Nossa Senhora da Conceição foi recebida sob aplausos e fogos pela comunidade. Outras demonstrações de afeto foram feitas pelos fiéis até a Colina Sagrada, onde a imagem de Senhor do Bonfim levada ao encontro da santa e de São José para uma benção conjunta dos padres. Turistas que visitavam o templo aproveitaram para registrar cada momento.

A festa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição da Praia é uma tradição que começou em 1549 e que arrasta uma multidão em passeata pelas ruas de Salvador até hoje. Ela é considerada a Padroeira da Bahia. Porém, as duas últimas edições foram alteradas por conta da pandemia.