'Ele dizia que só me perdia para a morte', conta mãe de grávida esfaqueada por padrasto

Sandra da Mata ficou ferida; a filha, Alanes, 19 anos, não resistiu e morreu

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 21:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO)

Mesmo machucada e com os braços cheios de curativos, Sandra da Mata, 46, mãe da jovem grávida morta a facadas pelo padrasto, não abriu mão de despedir-se da filha no enterro realizado na tarde desta segunda-feira (30), no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas. Ambas foram atacadas na madrugada do dia anterior, e Alanes Beatriz da Mata de Goes, 19, não resistiu aos golpes de faca desferidos por Leonardo Souza de Jesus, 32, namorado da mãe.

Filha única de Sandra, Alanes tentou salvá-la do ataque e acabou sendo esfaqueada cerca de sete vezes. De acordo com Sandra, Leandro chegou à casa delas, no bairro de Pituaçu, por volta das 5h30 de domingo (29), após curtir o primeiro dia de festa na orla da Boca do Rio. O homem tinha a chave do portão de baixo da casa, mas não tinha acesso à parte de cima.“Ele começou a bater na porta de um jeito que ela não gostou. E aí ela disse para mim: ‘Minha mãe, não abra, deixe ele aí para ele aprender, vai dormir na rua”, contou.Ainda conforme a mãe, Alanes teria acreditado que Leandro desistiria de bater à porta e iria embora, mas ele continuou. Como a jovem era recepcionista do Baita Tchê e iria trabalhar cedo no dia seguinte, ela começou a discutir com ele mandando que ele voltasse para a casa da mãe dele. “Ela disse: ‘Você não manda aqui, não governa, você nunca pagou nada, não nos sustenta. E aí foi a revolta dele”, descreve Sandra. 

Quando Leandro conseguiu entrar na casa, Sandra também pediu que ele fosse embora e isso o teria deixado revoltado, iniciando o ataque. Alanes então ouviu os gritos de socorro da mãe e tentou ajudá-la.“Mas ela não imaginava que ele já estava em cima de mim com uma faca. Eu tomei cinco facadas. Ela foi para a frente dele, ele meteu nela, foi fulminante”, descreveu a mãe. Relacionamento O casal Leandro e Sandra estava junto há cerca de três anos e ele vivia com elas, na mesma casa, há pelo menos dois anos e meio. Nesse intervalo em que conviveram, ele agrediu Sandra por três vezes. “Ele usava droga, parou e de uma hora para outra voltou a usar. Eu pedia para ele ir embora da minha casa, porque ele voltou a usar, e ele dizia que nunca ia me largar, que só me perdia para a morte”, desabafou ela, que tentava se separar dele. Polícia Civil informou que tem equipes fazendo buscas na tentativa de localizar e prender Leonardo (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Depois de ter atacado as duas, ele ainda faria uma terceira vítima: a mãe de Sandra, avó de Alanes.“Eu estava cheia de sangue, minha filha também. Ele queria esfaquear minha mãe, eu tava gritando, ela [a avó de Alanes] saiu correndo e ele fugiu com a toalha. Foi horrível e o que ele fez ele vai pagar”, afirmou. Acionado para atender as mulheres, o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) socorreu Sandra para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). No local, policiais militares que estavam atendendo a ocorrência relataram para ela que Leandro estava rondando a unidade.

“Os próprios policiais me disseram que ele apareceu. O que ele foi fazer, se foi para me matar, não sei. A polícia foi atrás dele, saiu no encalço”, contou. Sandra suspeita que o criminoso tenha fugido para o município de Cabuçu, a cerca de 110 Km de Salvador, onde ele tem familiares. Com medo, Sandra não está ficando em casa.

Sepultamento No velório de Alanes, a despedida foi embaladas com louvores, orações e homenagens. Muito abalada, Sandra foi amparada diversas vezes por parentes.“Eu dizia que ela era minha princesinha feita a pincel. Eu perdi a minha única filha, eu fiz tratamento para parir. Minha filha estava toda feliz com o bebê novo e esse miserável tirou a vida dela. Dói demais, é muito doloroso, gente. Tá doendo muito e não vai passar nunca”, disse, aos prantos.O pai da jovem, Márcio, descreveu a filha como uma “verdadeira heroína” por ter tomado a frente para defender a mãe. “Ela deu a vida pela mãe, uma filha de verdade. Em geral, a gente vê os pais dando a vida pelos filhos. A memória que vou ter dela é de uma menina linda e heroína”, afirmou. Lápide foi confeccionada com o nome da jovem e do bebê que esperava (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Amigos, parentes e colegas de trabalho estiveram no velório e cantaram músicas cristãs como “Não Pare”, de Midian Lima, e “Noites Traiçoeiras”, de Padre Marcelo Rossi. No fim, todos rezaram um Pai Nosso e deram adeus à Alanes com uma salva de palmas. “Essa terra está cheia de violência. Ela está num lugar melhor do que o nosso”, disse uma mulher presente.

Disposta a lutar para que o crime não fique impune, Sandra disse que pretende buscar todas as formas de justiça para que Leandro seja encontrado."Vou sair mostrando a foto dele, tudo dele", afirmou a mãe da jovem. (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO)