Eles conseguiram: fiéis que fizeram de tudo para ver Dulce virar santa no Vaticano

No dia anterior à canonização, os jovens pareciam não acreditar que estavam ali

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

Era um simples almoço do grupo de Jovens Unidos a Cristo (Juc), do Santuário de Irmã Dulce, em Salvador. Em algum momento, alguém simplesmente citou a proximidade da canonização de Irmã Dulce. Pronto! Surgiu a ideia de descer de galera para o Vaticano para acompanhar a celebração do Papa Francisco. Cadê o dinheiro? Até então, tudo não passava de um sonho distante. 

Mas, o que é um sonho distante perto do poder miraculoso de Dulce? Os jovens lançaram, então, a campanha "quem tem santa vai à Roma". Para conseguir arrecadar dinheiro para alimentação na Itália, fizeram rifas e chegaram a vender brigadeiro, bolos e tortas, além de chaveiros e imagens de Irmã Dulce. A hospedagem foi garantida por uma instituição católica local, o Centro Missionário Canossiano, pertinho do Vaticano. 

Quando chegaram em Roma, no dia anterior à canonização, os jovens pareciam não acreditar que estavam ali. Eles conseguiram! Faziam parte das 50 mil pessoas que estiveram, ontem, no Vaticano, de acordo com dados oficiais do país. Das 50 mil, 15 mil seriam baianos. Gente de Conceição do Jacuípe, Lauro de Freitas, Santo Antônio de Jesus, enfim, de todo o interior do estado e de Salvador.  Grupo de jovens fez capanha e vendeu brigadeiros e bolos para estar no Vaticano (Foto: Divulgação) "Temos certeza que Santa Dulce dos Pobres intercedeu por nós diante de Deus para que esse sonho se concretizasse. É um privilégio estar aqui. Um momento único", disse Maria Cecília Câncio, de 21 anos. O grupo foi formado por 8 jovens, a mais nova tem 13 anos e a mais velha 33. 

Pé de meia Não só a juventude católica de Salvador, mas, para estar em Roma, muita gente raspou o que tinha na conta do banco, pediu empréstimo, fez e aconteceu. "Rapaz, como se diz lá na Bahia, a gente teve que fazer o pé de meia, né? Mesmo se planejando, é um esforço grande. Soube de gente que pediu dinheiro emprestado, vendeu até o que não tinha, mas tá feliz. Valeu muita a pena. Por Irmã Dulce e pela oportunidade de ver o papa de perto", disse José Rolim, 62 anos, que tem um provedor de Internet e já foi bancário.

O professor Roberto Oliveira, 42 anos, de Santo Antônio de Jesus, disse que adiou a realização de um outro sonho para realizar o desejo de estar no Vaticano nesse momento especial. "Pedi R$ 1 mil à minha irmã e tirei mais um tanto do dinheiro do apartamento que pretendo comprar para estar aqui nesse dia. O apartamento fica pra depois", garantiu Roberto, elogiando o esforço dos jovens que venderam doces e fizeram rifas. "Eu vi a história deles. Demais!", acrescentou.

O detalhe é que a via-crucis para custear a viagem dos jovens ainda não terminou. O dinheiro arrecadado foi suficiente para a alimentação. A hospedagem foi uma cortesia. Mas, as passagens foram compradas com cartão de crédito. Ou seja: ao chegar ao Brasil, os jovens do Juc vão continuar a vender brigadeiros, chaveiros e outros souvenirs. Pelo menos agora, Dulce é oficialmente santa, o que pode dar força à campanha. "Já valeu muito a pena. A primeira santa brasileira, baiana, uma mulher de grandes exemplos de humildade, amor ao próximo, uma santa do nosso tempo. Uma Santa de casa. O que mais queremos?", disse Maria Cecília.