Eles foram e eu estava lá: como a felicidade coletiva pairou na pipoca do BaianaSystem

'Baiana confirmou que é uma das possibilidades de transformar nossa principal festa'

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Estar na pipoca do BaianaSystem é mais do que entender o real significado de pipocar. No Baiana você não pipoca, você flutua mesmo! Levado pela massa, você pula e pode não encontrar o chão tão facilmente. Mantenha a calma e no final estará tudo bem! Ninguém viveu isso de forma tão intensa quanto o cadeirante que singrou sobre o mar de gente em uma das apresentações do Baiana nesse Carnaval. Se não viram essa foto, aí está de novo. Ela resume tudo!    (Foto: Cartaxo/Divulgação) O fato é que, depois de muita dúvida sobre a presença do Baiana no Carnaval, depois de muita ansiedade do fã/jornalista aqui, eles foram para a  avenida carnavalizar! E eu, claro, estava junto e misturado! Estava lá nas três apresentações históricas. No Furdunço, na participação no trio Afropunk com Afrocidade e Mano Brown no sábado (22) (muitos choraram inclusive eu) e no alucinógeno desfile punk junk do domingo (23). Sim, porque é impossível sair da pipoca do Baiana sem a impressão de que você tomou algo que te deu um barato legal e te deixou bem, livre da maldade, da angústia e da dor.  

O que mais chamou atenção foi o sentimento de felicidade coletiva que pairava no ar! Todos pareciam bem felizes naquele amálgama humano, com gente de todos os tipos e origens. As pessoas mantinham sorrisos largos e firmes, mesmo nos momentos mais complicados da pipocagem. Em dado momento do Furdunço, saí perguntando aleatoriamente para as pessoas. Você tá bem feliz, né? Fiz isso no meio da pipoca! Eu simplesmente perguntava: você tá bem feliz, né? O quanto você está feliz? E a galera respondia: “velho, é muito bom estar aqui. Estou muito feliz! Esperei muito por isso!”.

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Nessa de perguntar sobre ser feliz com o Baiana, o papo rendeu com uma moçoila enquanto Russo e sua trupe tocavam Água. Ganhava ali um dos melhores beijos desse Carnaval. Pena que não me bati mais com ela. Uma linda! Mas, fora esse parêntese da minha piriguetagem BaianaSystica, percebe que o  Baiana no Carnaval, no trio elétrico, é algo maior do que um simples show do próprio Baiana? É diferente!

O engraçado é que não é nada fácil estar ali. Como todo mundo sabe, a pipoca do BaianaSystem é bem difícil. E aí admito uma incapacidade pessoal. Ainda que existisse a vontade de ficar eternamente colado no Navio Pirata, isso se mostrava impossível. Vez ou outra uma onda nos empurrava para muito à frente do trio, onde Luiz Caldas fazia o seu quinquagésimo Carnaval. A potência do trio de Luiz abafava o som do Navio e tentávamos novamente nadar contra a correnteza de amor. Só amor! (Foto: Marina Silva/CORREIO) Se era difícil para mim, um sujeito de 1,83m, mais de 90kg, imagine para uma amiga baixinha que relatou umas escapadas estratégicas só para dar uma respirada. Uma outra correu atrás de alguém da produção para conseguir uma pulseira que desse acesso à área interna na corda que fica à frente do trio.  Se deu de bem! Teve quem desistisse mesmo. Não condeno. Soube que os franzinos Márcio e Simone foram do início ao fim.

Todo mundo vivo? Para acompanhar o Baiana tem que entender a evolução. Parabéns para Russo, sempre preocupado com o que está acontecendo lá embaixo. A PM vai aprendendo que as rodas abertas são demarcações de espaço, território de alegria e não de brigas.

É cativante o sentimento de solidariedade na pipoca do Baiana. Às vezes parece até um mundo de faz de conta onde as pessoas são boas. Mas é tudo verdade, é tudo real. É Carnaval! Para além dos cadeirantes que conseguem estar ali, abre-se espaço até para quem vai amarrar um sapato.

“Fiquei impressionada de ver todos abrirem caminho pra polícia passar, da ajuda das pessoas quando alguém perdia algo ou parava para amarrar o sapato”, confirmou uma amiga de Brasília.    

A verdade é que no Carnaval nada é estático. Carnaval é movimento!  Entre um trio e outro a vida muda muito rápido. Há amigos que não conseguem nem acompanhar as transformações do seu coração. Numa dessas que fui jogado para a pipoca de Luiz, um deles perguntou: “Lyrio, você deve estar fodido, né?”. “Eu? Por que?”. “Oxe, não viu sua ex pendurada no pescoço do broder?”. “Colé, irmão. Não sente a brisa? Não sente a conexão? Eu fantasiado de Bacurau sob efeito de fortes psicotrópicos de paz, vestido de Guevara do desbunde, eu de Gandhy (eu disse Gandhy) e você achando que estou usando as roupas do passado? Luz do sol é minha amiga, irmão!”

Se ligue velho! Alguma coisa está para acontecer no Carnaval de Salvador. Tem que se preocupar é com isso! Em um momento tão complicado para o país, o Baiana confirmou que é uma das possibilidades de transformar nossa principal festa. Tudo bem, Russo precisa ir além de mandar Bolsonaro para aquele lugar.

Há de se fazer uma opção para fortalecer o Circuito do Campo Grande também. Mas, dentro da pipoca, participando da larva de amor que avança sem destruir, dá pra sentir o poder daquilo. Tem quem critique, chame Psirico gourmet ou favela nutella. Não se pode ser consciente na favela? O BaianaSystem é uma máquina de loucos conscientes em pleno Carnaval. E se há algo mais importante do que Carnaval, desconheço! Carnaval é revolução!

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