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Em campanha para o ICB, Brown realiza sonho de menina cega; assista


 

Em seu berço musical, cantor compôs 'Anoitecer' para estudante de 9 anos

  • Raquel Saraiva

Publicado em 08/11/2017 às 23:00:00
Atualizado em 17/04/2023 às 18:12:06
. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

O cantor e compositor Carlinhos Brown apadrinha a campanha “Imaginasom”, do Instituto de Cegos da Bahia (ICB), lançada na tarde desta quarta-feira (8) na sede da entidade, no Barbalho, em Salvador. Na ação, ele realiza um dos sonhos da pequena Manuela Alves Dourado, 9 anos, que nasceu sem enxergar. Ela conta o que gostaria de ver, caso fosse possível. "A primeira coisa era a lua, de noite, no céu. Eu prefiro enxergar a lua, pra ficar olhando a lua e as estrelas. O vento da noite é perfeito", diz ela, num dos vídeos da campanha. A partir daí, Brown tenta cumprir o desafio, através da música.

O apadrinhamento, que  não foi à toa: o compositor frequenta o espaço desde criança, há 45 anos, e sua carreira como músico nasceu no ICB. "Comecei aqui nesse pátio", revelou o artista ao CORREIO.

Acompanhando sua tia Alice, que passou a frequentar o ICB após perder a visão em decorrência de um glaucoma, o menino Carlinhos, de 10 anos, começou a conhecer músicos de peso graças à diretora do ICB à época.

"Eu disse a ela: 'quero tocar, quero fazer música', e 'fico o dia inteiro com minha tia, não tem outra coisa para fazer'", lembra o músico. Depois da revelação, a então diretora do ICB, Maria Eugênia Seixas, mãe de Raul Seixas, deu passe livre para o menino entrar em clubes onde aconteciam shows - e assim ele começou a trabalhar com músicos da Jovem Guarda, ainda criança.

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"Assim fiquei amigo de Jerry Adriani, conheci Roberto Carlos e virei parceiro de Erasmo Carlos", revela. Brown conta que suas composições têm muita influência da experiência que teve graças ao ICB. "Eu vivi toda a Jovem Guarda por causa da mãe de Raul. E a música também, porque isso entrou em mim", conta.

Como qualquer criança, o compositor diz que ficava entediado enquanto aguardava as aulas da tia acabarem no ICB - e para passar o tempo, ele chegou a dar aula para uma turma de cegos sobre como se guiar, aproveitando a ausência da monitora. “Eu peguei a bengala e disse: eu sei fazer a locomoção”, recorda, rindo.

O artista fala que deve muito da sua formação pessoal e profissional ao ICB."A minha cegueira era outra: era falta de atenção,  falta de educação. Esse lugar não apenas cuidou da minha tia, mas de mim também", diz, emocionado. "Isso hoje é um agradecimento a esse dia".Imaginasom Carlinhos Brown compôs a música “Anoitecer” exclusivamente para a campanha “ImaginaSom”, em parceria com Flávio Morgade. “Eu sinto o mundo do meu ver”, diz um verso da música.

De acordo com os mentores, a ideia da campanha é levar a capacidade de ver através da música para pessoas cegas ou com baixa visão.  “As pessoas com essa deficiência enxergam o mundo de muitas outras formas: por isso chamamos esse cara, que tira som de tudo”, contou Bruno Cartaxo, da Morya Comunicação.“O Instituto de Cegos realiza um trabalho extraordinário que as pessoas de fora não conhecem, e o mundo precisa conhecer; daí veio a ideia da campanha”, conta Consuelo Alban, assessora de captação de recursos do ICB.

“Estamos todos entrosados na campanha e torcendo para dar muito certo”, afirma a diretora do instituto, Heliana Diniz.

Durante a coletiva de lançamento, Heliana agradeceu a João Gomes, diretor de televisão da Rede Bahia, uma das parceiras da entidade. A campanha será veiculada nos mais importantes veículos de comunicação de Salvador, todos apoiadores do ICB na campanha.

Dentre as ações que serão realizadas com o objetivo de arrecadar fundos, postos de vendas de produtos personalizados serão montados no Salvador Shopping (de 10 de novembro a 16 de dezembro), na Unifacs (13 de novembro a 1º de dezembro), Ceasinha do Rio Vermelho (nos dias 17 a 19 e 24 a 26 de novembro), no Lounge Premium da Fonte Nova, nos dias de jogos do Bahia, e na própria sede do ICB.

Serão comercializados squeezes, camisetas, almofadas, bloco de anotações e boné. Além disso, a cada R$ 10 em doações nos postos, o doador ganha uma pulseira de silicone símbolo do projeto, que contém a inscrição: “Existem muitas formas de ver o mundo”.

A estrelinha da campanha A maior estrela da campanha é a menina Manuela Dourado, 9 anos. Manu contou para o CORREIO que gostou da campanha, que teve audiodescrição simultânea para cegos na coletiva de lançamento.“Ela é uma menina especial, é uma menina que tem sabedoria”, avaliou Brown.“De tudo isso que eu te apresentei, o que você viu?”, pergunta ele a Manu, no comercial. Ela descreve uma paisagem com uma menina dormindo, luzes e corujas. “Vi várias cores brilhantes, que eu amei demais”, diz a menina, empolgada.

Manu relata que aprendeu no ICB a andar com a bengala, a escrever com lápis, comer sozinha, e a lavar as mãos antes das refeições. “Tô aprendendo aos poucos, mas são muitas coisas”, ela diz, sempre sorridente. “Aqui eu tenho muitos amigos e aprendo muitas coisas”, revela.

Manu conta ainda que, no ICB, recebe as provas da escola adaptadas para braile - e que sempre tira boas notas.

“Alguns colegas meus não tiram notas boas porque conversam a aula toda. Aí ajudo eles com a matéria”, conta a menina.

Ela revela que adora livros. Atualmente, está lendo Tartufo, de Eva Funari.

Com baixa visão, a aluna Mari Correia, 16 anos, revela que quer ser cantora e psicóloga, e explica como o ICB ajuda ela no caminho para a realização de seus sonhos. “Aqui aprendo a ser independente, a ter mais coragem e a encarar a vida”, afirma.

“Aprendi tantas coisas aqui… como escrever com letra cursiva, a perceber cores e formas, que eu não conseguia, porque me guiava só pelo tato”, lembra a jovem.

Brown fez questão de andar pelo ICB para ver como está a estrutura, atualmente. O artista viu alunos treinando o esporte Golbol na quadra e se empolgou nas salas de música do ICB - até cantou e tocou com os estudantes as músicas “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, e “Marina Morena”, de Dorival Caymmi.

O estudante de percussão do instituto, Pedro Pessoa, 22, ficou emocionado com a chance de tocar com o ídolo.“Para mim, foi uma emoção incrível. Nunca pensei que isso iria acontecer”, declarou.

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O ICB O Instituto de Cegos da Bahia (ICB) atua desde 1933 em Salvador com serviços de diagnóstico, tratamento e inclusão social de deficientes visuais.

Atualmente, cerca de 600 pacientes são atendidos e 8.000 procedimentos são realizados mensalmente no local em crianças, adolescentes, adultos e idosos. “A gente precisa arrumar o ICB para receber ainda mais pessoas”, afirma a diretora Heliana Diniz.

Segundo ela, a quantidade de atendimentos não supre a demanda, hoje. “Esperamos receber muitas doações com a campanha para arrecadar fundos para manter e ampliar essa estrutura”, completa a assessora de captação Consuelo Alban.

Quer colaborar com o Instituto? Esses são os canais: Banco Bradesco Agência: 3662-5 Conta corrente: 0402121-5 Banco do Brasil Agência: 3457-6 Conta corrente: 127.840-1 Banco Itaú Agência: 8657 Conta corrente: 29243-2 Através do site: www.institutodecegosdabahia.org.br Instituto de Cegos da Bahia Rua São José de Baixo, 55, Barbalho - Salvador, BA (71) 3016-8100