Em dia nacional, baianas de acarajé exaltam ofício no Pelourinho

Missa, distribuição de quitutes e desfile são parte das comemorações 

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  • Tailane Muniz

Publicado em 23 de novembro de 2019 às 11:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Aqui o que corre nas veias é dendê. Azeite e amor, comenta a baiana de acarajé Jacilene Monteiro, 53 anos. Atrás do tabuleiro há duas décadas, conta ainda que comemorar o Dia Nacional das Baianas de Acarajé é reafirmar a resistência das mulheres pretas que, há gerações, sustentam suas famílias com a venda dos quitutes. 

O dia de festa, que começou com a Missa de Ação de Graças, na Igreja do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, é também dia de orgulho, diz Jacilene, rodeada de dezenas de outras irmãs do Axé. O mesmo sorriso que recebe convidados em eventos – atua como baiana receptiva – é o mesmo que reflete a realização de ser o que é.

“Hoje sou cozinheira, baiana e uma mulher orgulhosa de mim. É gratificante estar aqui para reverenciar meu ofício”, destaca ela, consciente de que o trabalho é reconhecido como bem imaterial da unidade.

Viúva há 21 dias, a baiana, que é mãe e avó, não titubeia ao dizer de onde vem a força para se manter de pé: “Pelo amor ao meu trabalho, estou aqui e feliz”. Há 20 anos, Jacilene recebia título de primeira 'baiana de mingau' de Salvador (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Celebração E as homenagens seguem no Centro Histórico. Um desfile de moda Plus Size, feira de empreendedoras negras, além de apresentações culturais e distribuição de acarajé estão previstos na programação da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam).

Celebrada por Frei Edilson, a missa é uma homenagem às mulheres que, nas palavras do religioso, resistem e protagonizam suas histórias. “Elas contribuem com a cultura baiana e de identidade a partir do momento que se afirmam negras”, disse ao CORREIO. 

À frente da Abam há 12 anos, Rita Santos resume o momento como um dia em que se encontram para compartilharem da dor e delícia de serem o que são.

“Estamos aqui para celebrar as conquistas e chorar as perdas”. Anfitriã da Abam, ela acrescenta o que quem mora na Bahia está cansado de saber: “Dia da Baiana é todo dia”. Miracy ocupa posto que já foi da mãe na Praça da Sé (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Ancestralidade Faz 45 anos que a pedagoga aposentada Miracy Marinho assumiu o tabuleiro da mãe, dona Maria José, que faleceu aos 80. Por amor, respeito e representatividade, diz ela, “as baianas são felizes pelo que conquistaram”.

Se antes era uma peleja sair do Cabula, onde mora, para assumir o batente na Praça da Sé, atualmente, com uma vida menos sacrificada, pontua, utiliza o próprio carro para chegar ao trabalho. “São 12 horas por dia (de trabalho). Só Deus e os orixás sabem o que enfrentei”, lembra.

Ciente da beleza que carrega, afirma, contudo, que ser baiana não é só vestir uma roupa bonita, usar um torço e sentar para vender. “É preciso ter consciência da nossa representação. Fazer as coisas com amor e orgulho”. Para Jaqueline, profissão é motivo de "muito orgulho" (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Prazer de dizer quem é, e a que veio, tem Jaqueline Rodrigues, 41. Ela até diz que gostaria de ter seguido a carreira de enfermeira, mas que decidiu, há pelo menos 20 anos, que queria seguir com a tradição familiar – iniciada pela avó e continuada pela mãe. 

"Eu não tenho palavras para descrever o tamanho do meu orgulho. De estar aqui, de ter amor e dedicação pelo que faço, todos os dias", diz. Aproveitando a oportunidade, não deixar de exaltar o quitute que faz. "Todo mundo fala que o meu é diferente. E quando perguntam o que eu coloco no tempero, eu digo logo: 'amor'".

Programação 11h -  Feira de Empreendedoras Negras na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho.

11h30 -  Desfile de Moda Plus Size, com o coletivo Rumo ao Sucesso na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho.

12h -  Almoço Comemorativo (Feijoada) na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho.

14h – Apresentação Cultural (bandas D’ Papo Esquivel, Os Caras e Farol Light) na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho.