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Da Redação
Publicado em 25 de março de 2020 às 14:18
- Atualizado há 2 anos
Minutos após convocar jornalistas, a Secretaria Especial de Comunicação da Presidência (Secom) cancelou um pronunciamento que seria feito pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. O motivo não foi informado.>
A expectativa era que Bolsonaro falasse sobre a reunião com os governadores do Sudeste, marcada por conflitos entre ele e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).>
O pronunciamento seria seguido de uma conversa entre autoridades e jornalistas sobre a covid-19, com a possibilidade de até quatro perguntas.>
De acordo com a Secom, estariam presentes o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, da Defesa, Fernando Azevedo, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.>
No evento, também seria realizada uma apresentação por Guimarães, que deve ser adiada.>
O governo não considera neste momento demitir o ministro da Saúde, mas diante da pressão da classe médica, governadores e membros do DEM, é imprevisível a decisão que o chefe da pasta poderá tomar, segundo aliados do presidente Jair Bolsonaro. Mandetta esteve no Palácio do Planalto na manhã desta quarta-feira, 25.>
Participou de reunião com Bolsonaro, ministro e governadores do Sudeste, horas após o presidente afirmar que cobraria do Ministério da Saúde regras mais brandas sobre isolamento contra a covid-19, que se restringiriam apenas a grupos de risco – idosos e pessoas com doenças crônicas.>
Na reunião, Mandetta pediu calma e equilíbrio aos governadores, mas não chegou a endossar o discurso do presidente, segundo pessoas presentes.>
Para aliados do ministro, ele não deve pedir demissão.>
Queda de braço>
A estratégia de Mandetta deve ser "sair pela tangente", tentando apresentar dados sobre locais que desistiram de medidas mais flexíveis para conter a crise, como o Reino Unido. O ministro, no entanto, já teria demonstrado cansaço pela queda de braço com Bolsonaro.>
Segundo fontes da linha de frente de discussões sobre combate à covid-19 no governo, há grande preocupação sobre o impacto econômico de medidas mais restritivas, o que levou Bolsonaro a pensar em alternativas menos duras. Ainda assim, também é reconhecido no Palácio do Planalto que a saída de Mandetta geraria uma crise na hora errada. "Não se tira o general durante uma batalha", disse um integrante do governo.>
Por ora, a leitura é de que mesmo se o governo adotar o "isolamento vertical", a medida tem de ser posta com muito cuidado e forte estratégia de comunicação.>
O pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional de TV nesta terça-feira, 24, deixou perplexo autoridades da saúde e gestores de Estados e municípios.>
Aliado de primeira viagem do presidente, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse nesta quarta-feira que as decisões de Bolsonaro não vão "alcançar" seu Estado. "Quero deixar claro a todos os senhores e senhoras, a todo o meu povo goiano, com muita tranquilidade, mas com autoridade de governador e com o juramento de médico, que não abro mão dele, que as decisões do presidente da República no que diz respeito a área de Saúde e o coronavírus não alcança o Estado de Goiás. As decisões de Goiás serão tomadas por mim e por decisões lavradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo corpo técnico do Ministério da Saúde.">
Primo de Mandetta, o deputado federal Fabio Trad (PSD-MS) defendeu que o ministro mantenha o discurso, mesmo que lhe custe a demissão do governo.>
"Ele fez um juramento ao se formar, pela ciência, e não pela politicagem. Entre Hipócrates e Bolsonaro, pela integridade intelectual de Mandetta, tem de ficar com Hipócrates", afirmou o deputado ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.>
Dentro do DEM, há forte pressão para Mandetta não aderir ao discurso de Bolsonaro. Entre outra razões, porque haveria desgaste político de governadores e prefeitos que estão seguindo estas orientações.>